Reviravolta: madrasta é suspeita de matar Rebecca e vai a júri por envenenar pai da criança
A madrasta Juliana dos Santos Silva passa a responder na Justiça por tentar matar o pai da criança; Rebecca, 6 anos, foi morta em 2019
atualizado
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São Paulo – O caso da menina Rebecca, de 6 anos, que foi sufocada até a morte em 2019, teve uma reviravolta. Então considerada uma sobrevivente do ataque, a madrasta Juliana dos Santos Silva, 34, agora é investigada por participação no homicídio e vai a júri popular na próxima quinta-feira (29/6), acusada de tentar assassinar o pai da criança por envenenamento.
Rebecca de Lucena Andrade foi encontrada morta na própria casa, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. Era madrugada de 27 de outubro de 2019. Por volta das 3h30, o pai Fabrício Marçal de Andrade, 41, que era motorista de aplicativo, achou a filha e a mulher desacordadas ao chegar do trabalho. Ao tentar reanimá-las, só a madrasta acordou.
Juliana foi tratada como vítima por mais de um ano. Uma nova investigação, revelada agora pelo Metrópoles, indica que a madrasta teria um caso extraconjugal com o vizinho, preso e condenado pela morte de Rebecca. Há suspeita de que o homicídio da menina tenha sido cometido para acobertar a traição.
Fabrício, que passou a questionar a mulher sobre a morte da filha, também foi vítima de tentativa de assassinato. Em janeiro de 2021, ele ingeriu comida envenenada com chumbinho, desmaiou e teve os olhos colados com superbonder, mas sobreviveu.
A refeição havia sido preparada por Juliana, que acabou presa preventivamente e foi denunciada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP). Segundo a acusação, o crime aconteceu por motivo fútil e sem chance de defesa. É por essa ocorrência que a madrasta vai responder no Tribunal do Júri.
Caso Rebecca
Logo após a morte de Rebecca, a Polícia Civil prendeu em flagrante o vizinho Antonio Gomes de Souza Sobrinho, 57, com quem supostamente Fabrício teria desavenças. Levado a júri popular, ele foi condenado a 17 anos de prisão. O julgamento, realizado em 2020, aconteceu ainda antes de as suspeitas recaírem sobre Juliana.
Em meio à comoção do caso, Juliana chegou a ir à televisão para narrar o ataque que teria sofrido. Segundo relatou, ela havia deixado a menina dormindo, foi tomar banho e só escapou de morrer “por milagre”.
“Eu dei as costas para a porta, comecei a secar o banheiro e, logo na sequência, já fui surpreendida por uma mão, com luvas e um pano branco”, declarou, aos prantos, à Record, na semana do crime. Questionada, disse não ter conseguido ver quem era o agressor.
“Começou a me sufocar… Na hora, lembrei da Rebecca que estava comigo e era minha responsabilidade. Eu fiquei lutando para me soltar. Eu lutei, lutei, mas acabei ficando desacordada”.
Na época, uma das principais suspeitas era que Antonio invadiu a casa para estuprar a criança e a mulher. A hipótese, no entanto, foi descartada por exames periciais que não encontraram vestígios de violência sexual.
Reviravolta
Fabrício e Juliana continuaram juntos após a morte de Rebecca. Em depoimento, o pai afirma que passou a desconfiar dela depois de ver, várias vezes, a madrasta “estudando” o inquérito policial e começou a questioná-la sobre as circunstâncias do crime a partir de dezembro de 2020.
Segundo a denúncia do MPSP, as perguntas geraram “um desconforto entre as partes” até que Fabrício foi vítima de tentativa de homicídio em 23 de janeiro de 2021. “Em virtude dos questionamentos e possível suspeita de Fabrício (…), a acusada preparou o jantar, colocando no frango substância ‘aldicarb’ (chumbinho) e no refrigerante a substância ‘clonazepan’”, diz a acusação.
Mesmo sob efeitos da intoxicação e do sedativo, Fabrício conseguiu acionar o Samu, mas afirma não se recordar do que aconteceu no intervalo em que foi socorrido. Quando acordou, ele estava com os olhos colados.
“Na sequência, a acusada aplicou cola dentre os cílios da vítima, impedindo que o mesmo abrisse os olhos simulando desta forma um ‘ataque’ por parte de um terceiro, que segundo ela teria ‘invadido sua casa’”, afirma a denúncia.
Justiça
Outras sete testemunhas foram ouvidas no processo. Uma delas afirmou à Justiça que conheceu Juliana por Antonio, o assassino de Rebecca, e que os dois se apresentavam como namorados. Segundo declarou, esteve com o suposto casal “duas ou três vezes em um bar para tomar cervejas”.
No seu interrogatório, Juliana ficou em silêncio. “Conforme a prova oral acima detalhada, não há dúvida de que existem indícios de autoria do delito”, escreveu o juiz Pedro Corrêa Liao, em 14 de março de 2023, ao mandá-la para o Tribunal do Júri.
Com as revelações, um novo inquérito também foi instaurado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de São Caetano para apurar o suposto envolvimento da madrasta no homicídio de Rebecca.
Procurado, o advogado Yuri Felix, que atua como assistente de acusação, afirma estar confiante na condenação de Juliana. “Nós temos plena convicção de que a acusada tentou sim matar a vítima e, por circunstâncias alheias à sua vontade, não conseguiu”, diz. “Isso vai ficar ainda mais demonstrado no júri”.
O Metrópoles também entrou em contato com a defesa de Juliana, mas até o momento não houve resposta. O espaço segue aberto para manifestação.