Reunião termina sem acordo e greve de estudantes da USP é mantida
Estudantes se reuniram com representantes da reitoria por três horas, mas não houve acordo; eles protestam contra a falta de professores
atualizado
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São Paulo – A reunião de negociação entre representantes da Universidade de São Paulo (USP) e alunos da instituição terminou sem acordo nesta quinta-feira (28/9). Os estudantes estão em greve desde a semana passada para protestar contra a falta de professores.
De acordo com alunos que participaram da reunião, nenhuma proposta foi apresentada pela universidade, contrariando a promessa feita no encontro realizado no dia 21 de agosto.
A conversa desta quinta durou quase três horas e terminou por volta das 14h, quando a comissão formada por 11 alunos deixou o prédio da reitoria. Durante a rodada de discussão, outros estudantes fizeram um ato com bandeiras e bateria em frente à reitoria (veja abaixo).
Uma das participantes da reunião, a estudante Amanda Coelho diz que os representantes da universidade passaram boa parte do encontro debatendo “métodos de negociação”, sem entrar de fato nas pautas levadas pelos alunos.
Contratações “automáticas”
Amanda afirma que apenas uma das 12 reivindicações levadas para o encontro foi debatida: a de que a USP faça contratações “automáticas” de professores para vagas abertas em casos de aposentadorias e falecimentos.
“Hoje não apresentaram nada e marcaram uma nova reunião para a semana que vem para trazer uma proposta sobre o tema do ‘gatilho automático'”, diz a aluna.
“Gatilho automático” é o nome dado pelos estudantes para o processo de abertura imediata de concursos após a saída de docentes.
A ideia é que os desfalques sejam resolvidos no menor tempo possível, evitando, com isso, o fechamento de disciplinas por falta de professores, como tem acontecido nos últimos semestres.
Para Amanda, ao não apresentar propostas na reunião desta quinta, a reitoria dá um sinal de desrespeito com a mobilização estudantil.
“A reitoria teve uma postura absurda”, diz a aluna. Após deixar o encontro, a comissão de negociação falou em “dobrar a aposta”, aumentando a pressão sobre a universidade com a adesão de mais unidades à greve.
Pelo menos 12 faculdades já estão paralisadas, segundo levantamento da USP. Os estudantes falam em 29 unidades sem atividades.
Os universitários pretendem fazer um grande ato no dia 3 de outubro, mesma data em que funcionários do Metrô, da CPTM e da Sabesp marcaram uma paralisação contra o projeto de privatizações do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O Metrópoles questionou a USP sobre a reunião com os estudantes. Em nota, a universidade afirma que a conversa transcorreu em um ambiente de respeito e confirmou o novo encontro para a próxima semana.
Barricadas
Desde o começo do movimento, alunos têm feito barricadas com cadeiras para impedir o acesso às salas de aula de pessoas contrárias à greve. A medida, aprovada nas assembleias, tem sido alvo de críticas.
Para o estudante Gabriel dos Santos, que está no 3º ano do curso de Engenharia Mecatrônica, os piquetes, como as barricadas são conhecidas, acabam prejudicando os próprios colegas.
“Não é justo. Há muitos alunos que às vezes estão muito perto de se formar e, no fim, os próprios alunos saem muito prejudicados”, afirma. “Eu fui nas manifestações [por mais contratações], apoio à causa, mas não apoio o método de piquete sobre nenhuma hipótese”, diz o aluno.
Gabriel afirma que uma consulta popular feita de forma online com cerca de 2 mil estudantes de engenharia teve maioria dos votos em apoio à greve e contra o piquete.
A enquete, no entanto, não tem poder decisório e as barreiras já tinham sido aprovadas na assembleia da unidade, que contou com número menor de votantes, segundo Gabriel.
A estudante de Letras Luísa Arantes diz que todos as barricadas foram aprovadas em assembleias. “É um método de defesa de uma decisão que é feita nas assembleias, que é um espaço soberano”, afirma.
Ela ressalta que as barricadas e a própria greve foram “as últimas opções que sobraram” aos alunos. “A gente passou meses tentando um diálogo com a reitoria, falando ‘aqui estão as nossas demandas’, e eles não ouviram”, diz Luísa.
Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo nesta quinta, o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior se mostrou contrário à prática e disse que o uso da “força” não cabe dentro da USP.
“Formamos nossos alunos para que sejam críticos, mas esse tipo de movimento, que usa a força, não cabe dentro da Universidade de São Paulo”, afirmou o reitor, que está em viagem na Europa e não participou da negociação com os alunos nesta semana.