Regiões centro-sul e sudeste apresentam diferença de 8ºC em São Paulo
Regiões centro-sul e sudeste apresentam diferença de 8ºC em São Paulo. Segundo professor da USP, solução pode ser plantio de árvores
atualizado
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São Paulo — Assim como Paraisópolis, uma das maiores comunidades de São Paulo, pode registrar em dias de picos de calor até 10°C a mais do que o bairro do Morumbi, ambos na zona oeste da capital, há outras regiões na cidade que registram grandes diferenças de temperatura.
Com base em dados da plataforma UrbVerde, que realiza monitoramentos ambientais com a participação da Universidade de São Paulo (USP), é possível ver uma diferença de até 8ºC entre a região centro-sul — formada por bairros como Moema, Cerqueira César, Paraíso, Jardim Paulista e Bela Vista –, e a região sudeste, dos bairros da Liberdade, Cambuci, Mooca, Ipiranga e outros (veja mapa abaixo).
Ao Metrópoles, o professor Pedro Luiz Côrtes, do Instituto de Energia e Ambiente da USP explicou que essa diferença tem relação com a arborização das regiões. “O que a gente constata hoje é que os bairros arborizados têm uma condição climática mais amena do que os não arborizados”, afirmou.
Segundo o especialista, a falta de árvores contribui para o aumento da sensação térmica, já que as plantas impedem que os raios do sol atinjam o asfalto, preservando um pouco da umidade.
Uma das alternativas para reverter esse quadro é justamente o replantio de árvores nativas nos bairros. No entanto, isso nem sempre é feito e, quando ocorre, muitas vezes são usadas árvores exóticas.
Segundo Côrtes, várias administrações na prefeitura de São Paulo replantaram árvores exóticas porque apresentavam crescimento rápido, por exemplo. “Nas décadas passadas, as mudanças climáticas não eram uma preocupação, então se escolhia a árvore que iria gerar uma resposta mais rápida. Mas essas são plantas que muitas vezes são mais suscetíveis a ataques de pragas locais”, revelou.
O professor ainda ressaltou a importância de se pensar em urbanismo de forma sustentável, respeitando o espaço. Em entrevista ao Jornal da USP, Pedro Luiz Côrtes afirmou que “muitas vezes, as árvores estão sufocadas nas calçadas, não têm espaço nenhum, o cimento encosta no tronco”.
Desigualdade climática
O professor Pedro Luiz Côrtes explicou ainda ao Jornal da USP que, além da falta de arborização, bairros como Paraisópolis sofrem com a falta de ventilação adequada, já que as casas estão muito próximas umas das outras, o que impede a circulação do ar. Assim, os bairros mais pobres são os que mais sofrem com a variação de temperaturas, evidenciando uma desigualdade climática na capital.
Côrtes destaca que os problemas de urbanização fazem com que essas áreas fiquem cada vez mais quentes, com as sucessivas ondas de calor e o avanço das mudanças climáticas.
“Não é que a chave está virando em relação a mudanças climáticas, ela já virou e nós estamos no início de um processo que tende a se acentuar, cada vez com maior frequência e com maior intensidade”, alertou. “É um ambiente com o qual a cidade tem que se adaptar, porque a gente continua queimando globalmente combustível fóssil, desmatando, queimando floresta, ou seja, a tendência é que o planeta continue aquecendo.”