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Reajuste de Tarcísio “piora rixa entre as polícias”, diz deputado delegado

Deputado federal de primeiro mandato, Delegado Palumbo criticou a diferença entre os percentuais de reajuste propostos pelo governo Tarcísio

atualizado

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Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
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1 de 1 delegado_deputado_reajuste_policias - Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

São Paulo – A proposta do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para o reajuste salarial dos policiais, que gerou desgaste com a bancada da bala na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), é vista pelo deputado federal Delegado Palumbo (MDB-SP) como um agravante da histórica rixa entre as polícias civil e militar no estado.

“Quando você aumenta o salário de um acima do salário de outro, é como se você pegasse dois filhos e desse um presente mais caro para um e, para o outro, um presente inferior”, afirma Palumbo em entrevista ao Metrópoles.

O deputado, que está em seu primeiro mandato na Câmara, recebeu a reportagem na sexta-feira (18/5) em seu escritório político na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, dois dias após uma manobra feita pela oposição ao governo Tarcísio na Alesp conseguir adiar a votação do projeto pelo reajuste.

Para o delegado, que serviu por 20 anos na Polícia Civil, o governo foi “bem intencionado” ao olhar para uma categoria que “está em estado de falência” — o déficit de policiais civis no estado, segundo Palumbo, é de mais de 15 mil agentes —, mas errou na fórmula.

Enquanto o próprio Tarcísio admitiu que falhou na articulação do projeto com os deputados estaduais, o parlamentar cobra, por meio de ofícios, que o governador revise os percentuais para as polícias e conceda um reajuste linear.

Confira abaixo a entrevista concedida pelo deputado Delegado Palumbo ao Metrópoles:

O que você achou do aumento proposto pelo governo Tarcísio para as polícias?

Eu acho que foi errado o aumento da forma que fizeram. Você não pode prestigiar uma carreira, uma polícia, e desprestigiar outra. Isso piora a rixa entre as polícias, porque há uma rixa, sim, entre as polícias. Não adianta falar que não tem, porque tem sim. Eu fiquei 20 anos na polícia, 18 deles trabalhando na rua, no Departamento de Operações Especiais (Dope), Grupo de Operações Especiais (Goe), Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra). Fui a muitas ocorrências para separar brigas entre policiais civis e militares. Quando você aumenta o salário de um acima do salário de outro, é como se você pegasse dois filhos e desse um presente mais caro para um e, para o outro, um presente inferior.

“O governador está fazendo uma boa ação, porque as polícias Civil, Militar, Científica, Penal, todas ficaram 30 anos à míngua. Tarcísio teve um um gesto bom, não podemos negar. Só que faltou habilidade para fazer uma coisa mais justa.”

Você chegou a conversar com alguém do governo a respeito?

Eu enviei um ofício para o Tarcísio e outro para o Guilherme Derrite [Secretário de Segurança Pública].

Não procurou o Osvaldo Nico, secretário-executivo da SSP e ex-delegado-geral da Polícia Civil?

Não, eu procurei o Derrite. Fiz um ofício, mandei para ele e agora ele quer uma reunião comigo. Ficou incomodado com o que ando falando sobre o reajuste. Mas já avisei que sou independente e vou continuar falando. O Nico é um apaziguador, uma pessoa da paz. Só que ele está em um cargo de confiança, não tem independência, se ele desagradar o secretário, ele é exonerado. Cargos como delegado-geral e comandante-geral deveriam ser eletivos pelos seus pares, com um mandato de dois anos. Aí, sim, seriam independentes e falariam diferente sobre o reajuste.

Qual sua avaliação sobre a situação da Polícia Civil no estado hoje?

A Polícia Civil está em estado de falência, completamente sucateada. Está falida, mal paga. Os policiais do interior estão extremamente estressados. Um delegado responde, sozinho, por três, quatro cidades. Eles não conseguem folga, não conseguem férias. Não tem investigador, não tem escrivão.

O índice de resolução de crimes está baixo por causa desse sucateamento?

Sim, não tem gente. Faltam mais de 15 mil policiais civis no estado. Então, se você for a uma delegacia agora, onde deveriam ter 30 investigadores, você vai encontrar meia dúzia. É humanamente impossível trabalhar. Quando a população vai até uma delegacia e é maltratada, a culpa é do policial: ele não tem o direito de maltratar ninguém porque ganha pouco ou porque está sobrecarregado. Mas quando a população toma uma canseira de 8, 10, 12 horas [em uma delegacia], a culpa não é do policial, é do Estado.

Por que há esse déficit de policiais no estado? É só a falta de concursos públicos?

É porque não tem concurso público, não tem contratação nova, as pessoas se aposentam, o salário é muito baixo. Não existe o estímulo para manter as pessoas, então, muita gente passa no concurso de delegado e abandona ainda no início.

Você acha que o governo deveria ter estudado melhor e dialogado mais antes de apresentar a proposta de reajuste na Alesp?

Eu tive relatos da presidente do Sindicato dos Delegados (Sindpesp) de que ela só foi chamada lá [para conversar com Tarcísio] depois que a proposta já tinha sido apresentada. Não adianta fazer um grupo de estudos e apresentar, falar ‘está aqui o meu estudo, pode engolir’. Não pode isso. Não adianta discutir com delegado-geral e comandante-geral, porque eles não vão apresentar opiniões contra o secretário e correr o risco de perder o cargo deles. Acho até que estudaram bastante, mas não ouviram quem tinham que ouvir e aí deu todo esse problema. Se tivessem dado um aumento linear para todos, em torno de 20%, de 25%, e dizer que ano que vem tem mais, todos estariam felizes. E essa bomba não estaria nas mãos do governador. O governador presenteou as polícias e acabou sofrendo uma carga de pressão, de críticas gigantescas da Polícia Militar e da Polícia Civil. Não foi causada por ele, mas ele é o comandante máximo do estado, então a responsabilidade sempre vai cair para cima dele.

Qual seria o aumento ideal para as polícias, na sua opinião?

No mundo ideal, seria dobrar o salário, mas sei que isso não é possível sem quebrar o estado. E esse governo não pode ser responsabilizado por 30 anos de omissão do PSDB. Ele [Tarcísio] está tentando, se esforçando, mas eu acho que ficaria bom para todos ali um aumento de 25% nesse primeiro ano, de soldado a coronel, de agente policial a delegado de polícia. O argumento deles é o de que um coronel e um delegado ganham muito mais do que um soldado e um investigador. Mas são concursos diferentes, preparações diferentes. Para ser delegado, por exemplo, você tem que ser formado em direito, tem que passar no concurso. É complicado fazer esse tipo de comparação.

Uma questão que também envolve segurança pública é o consumo de drogas a céu aberto na Cracolândia. Qual sua avaliação sobre a política adotada pelo governo Tarcísio para enfrentar esse problema até agora?

O Tarcísio é muito bem intencionado. Só que não dá para você resolver isso de uma hora para a outra. Quem está pagando a conta são os comerciantes da região, que têm lojas quebradas, saqueadas, o preço dos imóveis está despencando. E qual é o maior problema ali? É conseguir um tratamento digno, só que isso é caríssimo. Para internar uma pessoa e dar um tratamento digno, é necessário, por usuário, ao menos R$ 5 mil mensais. É caro. Enquanto a gente não fizer uma política de internação compulsória, com apoio inclusive do Ministério Público, não vamos conseguir sair dessa.

“O usuário precisa de tratamento. Não é com polícia que vai resolver, não é com porrada, não é com bomba.”

A polícia serve para prender os traficantes, mas há um erro legislativo e judiciário. Há decisões judiciais que soltam o traficante porque ele foi pego com pequenas quantidades de droga. Traficantes não são burros, eles mantêm pouca droga com eles e escondem o resto. Vendem de pouco em pouco. A gente tem que ter tolerância zero contra o traficante e dar um tratamento digno para os usuários.

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Prefeitura de SP cercou em 2022 usuários na Praça Princesa Isabel após Cracolândia migrar para o local
Dependentes químicos se concentram na Rua Gusmões, no centro de SP
Cracolândia se mudou do entorno da Praça Júlio Prestes para o centro da Praça Princesa Isabel em março de 2022
O fluxo do tráfico na Praça Princesa Isabel ocorre dia e noite
Operação na Cracolândia, centro de SP
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Operação na zona central de São Paulo

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Prefeitura de SP cercou em 2022 usuários na Praça Princesa Isabel após Cracolândia migrar para o local

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Dependentes químicos se concentram na Rua Gusmões, no centro de SP

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Cracolândia se mudou do entorno da Praça Júlio Prestes para o centro da Praça Princesa Isabel em março de 2022

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O fluxo do tráfico na Praça Princesa Isabel ocorre dia e noite

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Operação na Cracolândia, centro de SP

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Dispersão do fluxo da Cracolândia tem quebra-quebra e saques na região central de São Paulo

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Medida foi adotada na última segunda-feira (18/4)

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Objetivo da operação é combater o tráfico de drogas na Praça Princesa Isabel, no centro da capital paulista, nova localização da cracolândia

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Polícias Civil e Militar, a Guarda Civil Metropolitana e funcionários da Prefeitura de São Paulo fazem operação na cracolândia

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Apesar de ter ocorrido uma ocupação massiva da Praça Princesa Isabel, com o passar dos dias movimento diminuiu

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E como o déficit de agentes policiais afeta a segurança no centro, que tem sido bastante criticada?

Faltam mais de 15 mil policiais civis no estado. Ali no centro não tem polícia o suficiente para fazer investigações. Deveriam colocar policiais infiltrados, disfarçados, tomando um guaraná no bar para observar a movimentação na área. Inclusive, hoje em dia, há olheiros dos bandidos até para roubo de celular. Hoje é muito alta a taxa de roubos de celular, e isso é importante combater. Mas em uma delegacia, se chega um caso de latrocínio, que é roubo seguido de morte, você precisa destacar toda a equipe para cuidar desse caso e deixa as investigações envolvendo celulares para lá.

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