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Racha na cúpula do PCC pode ser o fim da era Marcola, diz promotor

Promotor Lincoln Gakiya afirma ao Metrópoles que Marcola tem liderança ameaçada por ex-aliados em meio ao racha na cúpula do PCC

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Marcola faz examens no Instituto Hospiral de Base
1 de 1 Marcola faz examens no Instituto Hospiral de Base - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

São Paulo – O racha histórico na cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC) pode marcar o fim da era de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, no topo da hierarquia da maior facção criminosa do país.

O prognóstico é traçado pelo promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que investiga o PCC há duas décadas e já foi alvo de um plano de sequestro e assassinato da facção, descoberto pela Polícia Federal (PF) no ano passado.

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Marcola, líder do PCC
Ao menos 90 policiais foram mobilizados para a escolta do preso
Equipes de policiais contaram com integrantes de diferentes corporações e grupamentos
Líderes históricos do PCC, Cego e Funchal também se voltaram contra Marcola
Roberto Soriano, o Tiriça, 02 do PCC
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O promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco

Arquivo pessoal/Divulgação
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Marcola, líder do PCC

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Ao menos 90 policiais foram mobilizados para a escolta do preso

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Equipes de policiais contaram com integrantes de diferentes corporações e grupamentos

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Líderes históricos do PCC, Cego e Funchal também se voltaram contra Marcola

Reprodução/MPSP
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Roberto Soriano, o Tiriça, 02 do PCC

Em entrevista ao Metrópoles, Gakiya afirma que a atual guerra interna na cúpula do PCC, a quarta em 30 anos de existência da facção, é a primeira que ameaça a liderança de Marcola desde que ele ascendeu ao posto de líder máximo da organização, em 2002.

“Na prática, o PCC rachou e, desta forma [ameaça seu líder], isso nunca aconteceu desde que o Marcola tomou o poder, lá em 2002”, diz Gakiya.

No racha de agora, a liderança de Marcola é contestada por três antigos aliados: Roberto Soriano, o Tiriça, Abel Pacheco de Andrade, o Abel Vida Loka – ambos faziam parte da alta cúpula desde 2002 – e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho.

O principal motivo seria um diálogo gravado entre Marcola e agentes da Penitenciária Federal de Porto Velho (RO) no qual ele afirma que Tiriça seria um “psicopata”. A declaração foi usada por promotores no julgamento de Tiriça, que foi condenado a 31 anos de prisão, em 2023, como mandante do assassinato de uma psicóloga.

A fala de Marcola teria sido interpretada pelos antigos aliados como uma espécie de delação. Tiriça estava para sair da cadeia caso não fosse condenado, destaca o promotor do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP).

“Esses caras [Tiriça, Abel Vida Loka e Andinho] ajudaram a fazer o PCC crescer, com eles todos na liderança. É gente do topo da pirâmide, parceiros muito próximos que, agora, são inimigos”, completa Gakiya.

“Salves” do PCC

O promotor conta que os dois lados da guerra na cúpula da facção transmitiram seus respectivos “salves”, como são chamados os comunicados internos do PCC, para decretar a expulsão dos rivais.

A diferença é que o grupo de Tiriça, considerado o 02 da facção até o racha, enviou a ordem apenas a outros membros importantes da organização que estão presos na Penitenciária Federal de Brasília, enquanto Marcola mandou um salve para fora do sistema carcerário, a fim de tentar garantir a fidelidade das lideranças do PCC que estão nas ruas, os Sintonias da Rua.

Além de rebater as acusações dos outros chefões sobre ter “delatado” Tiriça, Marcola comunicou no salve a expulsão dos três ex-aliados da cúpula e os “decretou” à morte.

“O Marcola, no salve enviado para a rua, afirmou que foi acusado injustamente por causa do áudio, enquanto o salve dos outros três líderes ficou restrito ao sistema carcerário. Com isso, ele ganhou o apoio das Sintonias da Rua, ao menos por enquanto”, diz Gakiya.

Nas ruas, aliados de Marcola começaram a tomar as “biqueiras”, como são chamados os pontos de venda de drogas em São Paulo, que pertenciam aos dissidentes. Familiares dos ex-líderes também já manifestam medo de perder seus bens adquiridos com o tráfico e o dinheiro do PCC.

Em meio à guerra na facção, setores de inteligência da Polícia Civil paulista identificaram a possível criação de uma nova organização criminosa, chamada de Primeiro Comando Puro (PCP), pelos agora rivais de Marcola. Investigadores do MPSP, incluindo Gakyia, monitoram de perto a situação, mas enxergam a possibilidade com ceticismo.

O promotor do Gaeco acrescenta que, em um primeiro momento, Tiriça, Abel e Andinho estão se movimentando nos bastidores para tentar reverter a expulsão decretada por Marcola. Como mostrou o Metrópoles, mais dois chefões do PCC se voltaram contra o líder máximo da facção: Daniel Vinicius Canônico, o Cego, e Reinaldo Teixeira dos Santos, o Funchal.

Caso eles sejam bem-sucedidos, esse pode ser o fim da era de Marco Willians Herbas Camacho como líder máximo da facção, após mais de 20 anos. Para Gakyia, mesmo que Marcola consiga se manter no poder, ele sairá da disputa enfraquecido.

“O PCC nunca mais será o mesmo depois desse racha”, diz o promotor.

Histórico que pesa

Segundo Gakyia, além da questão do áudio de Marcola usado para condenar Tiriça – que teria sido “a gota d’água” –, os dissidentes veem com desconfiança as execuções de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, ocorridas em 2018.

A dupla foi assassinada supostamente a mando de Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, parceiro comercial de Marcola e que não é membro do PCC. Em retaliação, o traficante Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, foi morto com tiros de fuzil na porta de um hotel de luxo da capital paulista.

Um “salve” interceptado na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, a P2, exigia, ainda, a cabeça de Fuminho. Ele chegou a ser jurado de morte, mas foi “perdoado” e teve o “decreto” retirado por ordem do chefão do PCC. Para justificar o perdão, Marcola teria argumentado que Gegê e Paca haviam desviado dinheiro da facção.

Outro motivo antigo de rusga é a informação de que Marcola supostamente mantinha diálogo com a Polícia Civil, por meio de sua ex-esposa, a advogada Ana Maria Olivatto Herbas Camacho, para derrubar inimigos e ascender ao topo da hierarquia do PCC. Ana foi assassinada em 2002, ano em que Marcola tomou o poder na facção.

O promotor do Gaeco afirma que, embora sejam controversos, todos esses pontos são discutidos ainda hoje entre os líderes do PCC que romperam com Marcola e querem destitui-lo do comando da organização criminosa. “Qualquer pisada de bola que o Marcola der daqui para frente, é ele que vai pagar por isso”, diz.

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