Disputa em Guarulhos provoca racha entre Bolsonaro e Valdemar
Apoiado por Valdemar, pré-candidato do PL à Prefeitura de Guarulhos desagrada Bolsonaro, que prefere aliado de Tarcísio nestas eleições
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – A disputa pela Prefeitura de Guarulhos, na Grande São Paulo, provocou racha entre o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e o principal cabo eleitoral do partido nestas eleições, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Os dois divergem sobre qual candidato apoiar.
Guarulhos é a maior cidade brasileira sem ser capital de estado e é estratégica por se tratar do segundo maior colégio eleitoral paulista, com 946 mil eleitores, de acordo com levantamento de fevereiro do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP).
Em 27 de outubro do ano passado, durante evento em Mauá, também na Grande São Paulo, Valdemar anunciou publicamente o vereador Lucas Sanches como pré-candidato do PL à Prefeitura guarulhense e sinalizou que o ex-presidente o apoiaria: “Bolsonaro vai trabalhar para o 22”.
Ex-integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), Sanches adotou a alcunha de “fiscal do povo” e cumpre mandato de oposição ao prefeito Guti (PSD). No entanto, a figura dele não agrada Bolsonaro, que já alertou Valdemar que não o apoiará na eleição municipal.
O pré-candidato mais bem aceito por Bolsonaro, até o momento, é o deputado estadual Jorge Wilson Xerife do Consumidor (Republicanos), líder do governo Tarcísio de Freitas na Assembleia Legislativa (Alesp).
O veto de Bolsonaro
O ex-presidente disse a Valdemar que não apoiará Sanches porque ele manteve a neutralidade no segundo turno das eleições de 2022, que terminou com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Aliados de Bolsonaro têm chamado o vereador de “surfista”, insinuando que ele apenas tiraria proveito da onda bolsonarista. Desde que migrou do PP para o PL, no ano passado, Sanches tem feito diversos acenos ao ex-presidente para tentar seu apoio na disputa, como participar do ato pró-Bolsonaro na Avenida Paulista, em fevereiro.
Advogado de Bolsonaro e um dos aliados mais próximos do ex-presidente, Fábio Wajngarten ironizou a movimentação um dia após Valdemar anunciar a pré-candidatura de Sanches.
“Tem um jenio [sic] de Guarulhos que xingava e desprezava o presidente e agora quer o apoio dele para a eleição”, escreveu em rede social. “Ninguém faz a mínima lição de casa? Ninguém pesquisa nada? Não rola. Vou manobrar contra”, acrescentou Wajngarten.
Bolsonaristas chegaram a compartilhar, na ocasião, um vídeo de Sanches dizendo “primeiramente, fora Bolsonaro”. No entanto, trata-se do recorte de um vídeo no qual o vereador discursava em defesa do “Escola sem Partido”, uma das bandeiras do MBL – Sanches, inclusive, veste uma camisa do movimento nas imagens.
O trecho exibido é o corte de uma crítica aos professores que se manifestam politicamente em sala de aula. No vídeo, ele explica que não seria adequado a um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciar uma sessão com os dizeres.
Fiscal x Xerife
A candidatura de Sanches tem sido apoiada pela ala mais próxima de Valdemar na região do Alto Tietê, o que inclui o deputado federal Marcio Alvino e o deputado estadual e presidente da Alesp, André do Prado. Ambos têm participado de eventos ao lado do vereador.
Bolsonaro, por outro lado, tem dito a pessoas próximas que está mais inclinado a apoiar Xerife, como é conhecido Jorge Wilson, por influência do próprio Tarcísio, que é correligionário de seu líder de governo na Assembleia.
Sem relação com o presidente do Republicanos, o deputado federal Marcos Pereira, ou com a cúpula do partido, Xerife é visto por Bolsonaro como conservador “raiz” e de perfil discreto, algo prezado pelo entorno do ex-presidente diante das denúncias e investigações mais recentes contra ele.
Conhecido como “Xerifinho”, Jorge Wilson Filho, vereador da capital paulista pelo Republicanos e filho de Xerife, emprega a cunhada de Michelle Bolsonaro em seu gabinete na Câmara Municipal.
A Valdemar, segundo aliados, Bolsonaro já declarou que, caso o PL insista em Sanches para a prefeitura, o ex-presidente “não pisa em Guarulhos” durante as eleições.