Saiba quem são os policiais presos por suspeita de ligação com PCC
Um delegado e dois policiais, alvos da operação do MPSP e da PF, foram delatados por Antonio Vinícius Gritzbach antes de ele ser executado
atualizado
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São Paulo — Ambos delatados por Antonio Vinícius Gritzbach, executado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, em 8 de novembro, o investigador-chefe Eduardo Lopes Monteiro e o delegado Fábio Baena Martin foram presos no âmbito da operação da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo (MPSP) deflagrada nesta terça-feira (17/12). Além deles, é alvo da operação o policial Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho, que também foi delatado por Gritzbach e segue foragido.
Todos atuavam no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e foram afastados das funções por causa das denúncias. Gritzbach foi fuzilado oito dias depois de denunciar a conduta desses policiais à Corregedoria por envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Segundo a denúncia de Gritzbach, os policiais receberam ao menos R$ 11 milhões de propina, em dinheiro vivo, para retirar o nome de investigados em inquéritos por homicídio e envolvimento com o tráfico de drogas.
O inquérito policial de homicídio, mencionado no depoimento, era o mesmo no qual Gritzbach era investigado pelo suposto envolvimento no assassinato de dois integrantes do PCC, facção que o havia jurado de morte e a qual ajudou na lavagem de dinheiro.
Eduardo Lopes Monteiro
O policial civil Eduardo Lopes Monteiro teve duas sociedades para construção de imóveis de alto padrão e venda de carros esportivos importados.
Há um ano, Monteiro deixou as empresas e sua mulher permaneceu em seus quadros. Nas empreitadas, ele se associou a um empresário que é filho de um ex-delegado do Departamento de Ordem Polícia e Social (Dops) acusado de tortura ao lado do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Monteiro é investigador policial de classe especial e ganha R$ 11,9 mil líquidos por mês. O policial civil foi citado pelo delator Vinícius Gritzbach como um dos agentes que cometeram “ilicitudes e arbitrariedades” na investigação sobre a morte do traficante Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, pela qual é acusado.
Segundo Gritzbach, investigadores do caso pediram R$ 40 milhões em troca de deixá-lo de fora da lista de indiciados. Ele ainda relatou o sumiço de bens apreendidos, como relógios de luxo. Os agentes e um delegado citados por Gritzbach foram afastados temporariamente de suas funções. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o afastamento ocorre enquanto as denúncias são devidamente apuradas.
Os bens de Monteiro também estão na mira da Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo. Ele foi sócio de duas empresas: a MD Construções e a Baronesa Motors. Nelas, chegou a integralizar, respectivamente, R$ 26 mil e R$ 250 mil.
A MD é dona de dois terrenos em condomínios de alto padrão em Bragança Paulista, no interior de São Paulo. Um deles foi adquirido por R$ 439 mil e tem 498 m². O outro foi comprado por R$ 150 mil. Nele, foi construída uma casa de 172 m². Já a concessionária Baronesa anunciava Mercedes-Benz, BMWs e outros carros de luxo importados — em seu nome, no entanto, a reportagem identificou apenas uma Hilux e duas carretas. Nos últimos meses, ela foi esvaziada e seu site e redes sociais retirados do ar.
Em 2023, Monteiro se retirou das duas sociedades. Apenas sua mulher, que é médica, permaneceu nas empresas. No caso da Baronesa, eles eram sócios do filho do ex-delegado do Dops Lourival Gaeta.
Falecido, Gaeta foi acionado pelo Ministério Público Federal em uma longa ação que busca multar agentes da repressão na ditadura militar. Ele foi citado em depoimentos de vítimas como torturador. Como o ex-delegado morreu, seu espólio responde pela ação.
O advogado Daniel Bialski, que defende Eduardo Monteiro, afirma que “são falaciosas e mentirosas as acusações lhe assacadas pelo delator Vinicius Gritzbach”. “Aliás, já houve investigação pretérita sobre esses fatos e que acabou arquivada a pedido do Ministério Público, sem que existam fatos novos à determinar que nova seja iniciada”.
Segundo Bialski, Monteiro “constitui empresa com sua esposa visando empreender, tudo devida e regularmente declarado perante a Receita Federal”. “Ainda, quanto a loja que intermediava compra e venda de veículos explicita-se que esta encontra-se aberta, porém com dificuldades comerciais, e o então sócio é amigo de muitos anos de Eduardo”, diz.
Fabio Baena Martin
Delegado de polícia desde 2002, Fábio Baena passou por importantes delegacias da capital antes de chegar ao DHPP, como a Delegacia de Combate ao Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro e Tráfico de Entorpecentes (Denarc) e pelo Grupo de Operações Especiais (GOE).
Após a morte de Cara Preta e Sem Sangue, Baena foi transferido do DHPP e passou pela Delegacia Geral de Polícia e pelo Cerco da 2ª Seccional.
O inquérito policial de homicídio, mencionado no depoimento, era o mesmo no qual Gritzbach era investigado pelo suposto envolvimento no assassinato de dois integrantes do PCC, facção que o havia jurado de morte e a qual ajudou na lavagem de dinheiro.
Para que seu nome também fosse retirado da investigação, como já mostrou o Metrópoles, os policiais teriam pedido R$ 40 milhões para o corretor, mas que não foram pagos.
Em nota ao Metrópoles, a defesa de Baena e Monteiro afirmou que a prisão foi arbitrária e midiática. “A palavra pueril de um mitômano, sem qualquer elemento novo de prova, não poderia jamais motivar medida tão excepcional”, diz a defesa, em nota, referindo-se a Gritzbach.
“Ambos compareceram espontaneamente para serem ouvidos e jamais causaram qualquer embaraço às repetidas investigações”, diz a nota. O Metrópoles busca a defesa de Rogério Felício. O espaço está aberto para manifestação.
Rogerinho segue foragido
Com salário de R$ 7 mil mensais, o agente da Polícia Civil de São Paulo Rogerio de Almeida Felício é sócio de uma clínica de estética, de uma empresa de segurança privada e de uma construtora que ergueu cinco condomínios de 37 casas no litoral sul paulista.
Conhecido como Rogerinho, o policial civil também foi citado pelo delator Vinícius Gritzbach como um dos agentes que cometeram “ilicitudes e arbitrariedades” na investigação sobre a morte de Cara Preta.
Rogerinho é um policial popular nas redes sociais. Tem mais de 100 mil seguidores em sua página no Instagram. Lá, publica fotos e vídeos, por exemplo, ao lado do cantor sertanejo Gusttavo Lima, de quem é segurança. Também faz marcações de sua construtora, a Magnata Construção e Incorporação. A empresa tem outros dois sócios.
Apesar do capital de R$ 30 mil, trata-se de um negócio milionário. Em sua página, a construtora anuncia cinco empreendimentos em Praia Grande, no litoral sul de São Paulo. Ao todo, esses complexos reúnem 37 casas. Elas estão à venda por até R$ 350 mil cada.
O Metrópoles obteve parte das 47 matrículas de cartório em nome da construtora. Uma delas se refere ao condomínio Magnata 1. O terreno, na Vila Caiçara, fica a três quarteirões da orla de Praia Grande. Somente esse terreno custou R$ 319 mil à construtora. No local, foram construídas 10 casas, segundo o registro do imóvel.
Nesse condomínio, por exemplo, uma das casas foi comprada por um policial militar. A construtora move uma ação de cobrança contra ele por inadimplência do pagamento pela aquisição do imóvel.
Além da Magnata, Rogerinho é sócio de uma empresa de administração de bens pessoais. O Metrópoles não localizou imóveis em nome dela. O policial também aparece nos quadros de uma clínica de estética na capital paulista e de sua empresa de segurança privada, a Punisher.
Operação Tacitus
A Operação Tacitus, deflagrada nesta terça-feira, cumpre oito mandados de prisão e 13 de busca e apreensão. O objetivo é desarticular organização criminosa voltada à lavagem de dinheiro e crimes contra a administração pública (corrupção ativa e passiva).
Os mandados estão sendo cumpridos nas cidades de São Paulo, Bragança Paulista, Igaratá e Ubatuba.
Segundo o MPSP, provas obtidas em diversas investigações revelaram como os investigados se estruturaram para exigir propina e lavar dinheiro para suprir os interesses do PCC.
Os investigados vão responder pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva e ocultação de capitais, cujas penas somadas podem alcançar 30 anos de reclusão.