Melhores amigos: quem eram os jovens mortos atropelados na calçada
Jovens de 15 e 16 anos foram atropelados no sábado (31/8). Os órgãos de Kaique serão doados e famílias ainda aguardam liberação dos corpos
atualizado
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São Paulo — Os corpos dos jovens Kaique Peres Santana, de 16 anos, e Héros Alcondas de Abreu, de 15, ainda não haviam sido liberados até a noite desta terça-feira (3/9). Eles morreram após serem atropelados por um Hyundai/HB20 branco dirigido por Sérgio Roberto de Paula, sob efeito de álcool, O carro invadiu a calçada da Avenida João Paulo Primeiro, na Brasilândia, zona norte de São Paulo. Naquele sábado (31/8), às 7h47, os sonhos dos melhores amigos morreram juntos.
Kaique estava prestes a realizar o sonho de estudar em outro país. Em junho deste ano, o garoto ganhou uma medalha de bronze na Olímpiada Estadual de Matemática.
“Meu filho Héros era um menino amado querido que amava estudar amava ajudar as pessoas esforçado educado um exemplo de filho! Fui abençoada quando Deus me proporcionou gerar um anjo”, disse à reportagem a mãe do menino, Michele Alcondas da Silva.
Ele adorava futebol. Sonhava ser jogador. Emocionada, Celia do Carmo Carioca, diretora da Escola Estadual Professor Jair Toledo Xavier, onde Héros estudava, conversou com o Metrópoles. Para descrever o garoto, a palavra “muito” foi repetida diversas vezes.
“Muito querido. Muito comprometido com os estudos. Muito amigo de todos. Muito divertido. Muito simpático. Muito vivo”, falou.
“Ele dizia: quando você estiver triste, lembra do ‘palhaço aqui'”, contou a diretora, com a voz embargada. “Adorava contar piadas, fazer brincadeiras. Estamos muito abalados”, disse.
Na escola estadual, funcionários e alunos contaram com o apoio do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva-SP). “Coincidentemente, a psicóloga vem na escola às segundas. Nós acolhemos os alunos, conversamos com todos aqueles que estavam em estado de choque. É muito difícil lidar com isso”, explicou.
A diretora defende uma revisão do Código de Trânsito Brasileiro. “A legislação precisa passar por novos critérios. Toda semana você vê acidentes monstruosos e a penalidade é mínima. Entra pela porta da frente e sai pela frente. E as famílias despedaçadas”, encerrou.
Na manhã desta terça-feira, amigos e funcionários fizeram uma homenagem a Héros no pátio do colégio.
Sonho interrompido
Os jovens tiveram as mortes confirmadas na madrugada desta terça. Antes do acidente, os dois estavam indo jogar futebol.
Os policiais, ao chegarem no local do atropelamento, se depararam com o veículo sobre a calçada.
Segundo boletim de ocorrência obtido pelo Metrópoles, o motorista, Sérgio Roberto de Paula, estava agitado e disse que trafegava pela via quando cochilou e perdeu o controle do automóvel, acordando somente após o acidente.
Questionado se havia ingerido bebida alcoólica, respondeu que sim. Sérgio foi submetido ao teste do etilômetro, que teve como resultado o valor de 0,36 mg/l, índice considerado crime de trânsito — o mínimo é 0,04 mg/l. Ele foi preso em flagrante e depois liberado pela Justiça.
Héros Alcondas Abreu chegou a ser levado para a Santa Casa de São Paulo. Kaique Peres Santana foi para o Hospital das Clínicas com o helicóptero Águia.
O pai de Héros, Lucas Gomes de Abreu, prestou depoimento e disse que o filho saiu de casa para jogar bola na companhia do amigo. Por volta das 8h, meia hora depois que o filho saiu de casa, recebeu de vizinhos a notícia de que os dois adolescentes tinham sido atropelados. No local do acidente, presenciou o filho sendo socorrido.
Em depoimento, afirmou conhecer o homem que causou o acidente. De acordo com o que ele e o pai de Kaique, Éder Rodrigues da Silva Santana, falaram à polícia, o motorista é morador do bairro e é visto frequentemente bêbado e saindo de bares dirigindo.
“Não podemos andar na calçada?”
Daniele, prima do Héros, repete que quer justiça e uma mudança na legislação. “Não podemos andar na calçada?! O Sérgio acabou com duas famílias”, disse à reportagem sobre a liberação do motorista, preso em flagrante após o atropelamento.
“Como vai ficar minha família e a do Kaique?”, questionou. “E liberado pela porta da frente? A vida do meu primo do Kaique não valia de nada?”, continuou.
Indignada, Maria José, tia de Héros e vizinha de Kaique, clamou pela seriedade na justiça brasileira. “Em liberdade, mesmo acusando o bafômetro. É revoltante”, disse sobre o homem acusado de matar os dois jovens.
A conversa com o Metrópoles aconteceu enquanto as famílias ainda aguardavam os corpos do adolescentes serem liberados.
O enterro de Héros será na quarta-feira (4/9).
A reportagem não conseguiu contato com familiares de Kaique. A mãe do menino quer doar os órgãos do filho e o enterro acontecerá entre quarta e quinta-feira (5/9).
O momento é de resolver burocracias. O depois, garantem as famílias, será de luta por justiça.