Quem é o tenente que recrutava PMs para escolta de delator do PCC
Três policiais militares apontam em depoimento à Corregedoria nome de tenente do 23º BPM como escalador de bicos ilegais
atualizado
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São Paulo – Apontado como o responsável por escalar policiais militares para fazer a segurança particular de Vinícius Gritzbach, delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), o tenente Giovanni de Oliveira Garcia, de 32 anos, ingressou na corporação em 2014.
Ele se tornou tenente após concluir o curso de formação de oficiais, na Academia do Barro Branco, na zona norte da capital paulista. Já oficial, Giovanni passou por diferentes batalhões da capital paulista, como o 37º BPM, na região do Capão Redondo, zona sul; e o 18º BPM, na zona norte. Em setembro de 2021, o oficial foi transferido para o 23º BPM, na zona oeste, onde permanece até o momento.
Fontes da Polícia Militar afirmaram que, chamado de “Chefinho” entre seus subordinados, o tenente Giovanni seria o responsável pela administração de uma rede de policiais escalados para realizar bicos ilegais como seguranças particulares, incluindo escolta de clientes com alto poder aquisitivo, principalmente em regiões nobres da cidade de São Paulo — como Itaim Bibi e Faria Lima.
De acordo com o Portal da Transparência do governo estadual, o tenente recebeu R$ 15.900 líquidos, em setembro deste ano, como pagamento. Ele ou sua defesa não foram localizados até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.
Segurança ilegal
Apesar de ser proibido pela PM, o serviço de segurança particular era oferecido pelo tenente, que fazia o elo entre PMs interessados e Gritzbach, afirmam depoimentos obtidos pelo Metrópoles.
Em seu relato à Corregedoria, o soldado Adolfo Oliveira Chaves, de 34 anos, afirmou que “foi convidado” para trabalhar para a família do delator “pelo 1º tenente PM Garcia do 23º Batalhão da PM [23º BPM]”.
O oficial, segue o soldado, “administra atividade de segurança particular para exercer as atividades de segurança da família [de Gritzbach]”.
Elo com o PCC
O soldado Adolfo acrescentou à Corregedoria que trabalhou com a segurança de Gritzbach e familiares dele por cerca de dez meses, em 2023.
O PM pediu para deixar de prestar o serviço após saber, “por meio da mídia”, que Vinícius Gritzbach “tinha envolvimento com o crime organizado, PCC”.
Quando foi pedir as contas, ele não mencionou ao oficial do 23º BPM que a motivação era o elo de Gritzbach com a facção.
Ele comunicou ao tenente Garcia que deixava o serviço “por achar que estava perigoso”, reforçando que “não citou a informação de organização criminosa a ninguém”.
Apesar disso, o soldado voltou a trabalhar na segurança de Gritzbach, dias antes do assassinato, mesmo sabendo sobre “as atividades ilícitas” do cliente.
Ele alegou ter aceitado o trabalho “em razão de sua precária condição financeira”, mesmo realizando os bicos oficiais da PM, os quais, de acordo com o soldado, “não são suficientes para suprir suas necessidades”.
Soldados
O soldado Jefferson Silva Marques de Souza, de 29 anos, afirmou que trabalhou como motorista particular para a família do delator do PCC “esporadicamente”, por um mês e meio. Ele acrescentou que foi a primeira vez que atuou como segurança particular e que conseguiu o bico ilegal por intermédio do tenente Garcia.
Jefferson disse ainda conhecer o oficial desde 2019, quando ambos trabalharam juntos na Força Tática do 18º BPM, o mesmo batalhão onde estão lotados os três PMs cujos relatos a reportagem teve acesso.
PM que estava em voo com delator deu versões diferentes à polícia
O também soldado Samuel Tillvitz da Luz, de 29 anos, realizou a segurança particular de Gritzbach e da namorada do delator, acompanhando o casal durante sete dias em uma viagem na região nordeste. Eles foram até Maceió (AL) para procurar imóveis de aluguel, com o intuito de passar as festas de fim de ano.
No retorno, quando desembarcou no aeroporto de Guarulhos, Gritzbach foi executado, na frente de Samuel, cuja contratação foi viabilizada pelo tenente Garcia, como afirmado pelo soldado em depoimento.
Arma da corporação
Como mostrado pelo Metrópoles, o soldado Samuel prestava serviço de segurança ao delator há pelo menos um ano.
Ele confessou ter levado a arma de uso profissional, pertencente à PM de São Paulo, para realizar a segurança contratada de forma particular na viagem que, segundo ele, aconteceu durante um “afastamento regulamentar” obtido por folgas mensais acumuladas.
Ainda no depoimento que prestou à Corregedoria da PM, o soldado disse desconhecer que Gritzbach era acusado de homicídio, lavagem de dinheiro e jurado de morte pelo PCC. Além disso, disse que não reagiu ao ataque feito com 29 tiros de fuzil na área de desembarque para “proteger a própria vida”.
SSP e PM
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) e a PM foram questionadas sobre os recrutamentos atribuídos ao tenente do 23º BPM. Ambas não se posicionaram.
Em uma nota, semelhante a outras encaminhadas anteriormente, a SSP diz que policiais civis e militares são investigados por envolvimento com o delator do PCC, “com acompanhamento das suas respectivas corregedorias”.
A pasta, sob a gestão do PM da reserva Guilherme Derrite, acrescentou ter criado uma força-tarefa para investigar o assassinato de Gritzbach, em uma parceria entre as polícias Civil, Militar, Técnico-Científica, Federal e membros do MPSP.