Quem é Coronel Mello, vice de Nunes, ex-Rota e indicado de Bolsonaro
Coronel Ricardo Mello Araújo foi indicado por Tarcísio e Bolsonaro para disputar a Prefeitura de SP na vaga de vice de Ricardo Nunes (MDB)
atualizado
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São Paulo — Oficialmente anunciado nesta sexta-feira (21/6) como vice na chapa do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), o coronel da reserva Ricardo Mello Araújo (PL) fez longa carreira na Polícia Militar paulista, onde chegou a comandar a Rota, a tropa da PM conhecida pela truculência.
O anúncio sela o compromisso firmado por Nunes para acatar o vice indicado por Jair Bolsonaro (PL) em troca do apoio do ex-presidente nas eleições. Foi Bolsonaro quem pressionou Tarcísio, seu afilhado político, a viabilizar Mello Araújo na vaga na chapa do emedebista.
A breve passagem do político à frente da Ceagesp tem sido destacada pelos aliados como um trunfo eleitoral. No discurso bolsonarista, Coronel Mello moralizou a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo, na zona oeste da capital, no período em que chefiou o local no governo Bolsonaro, entre 2020 e 2022. É atribuído a ele o fim dos esquemas de corrupção na Ceagesp, como cobrança de propina de comerciantes, e dos prejuízos — o local teria passado a dar lucro na gestão dele. Segundo seus aliados, ele acabou até com a prostituição infantil que ocorria dentro do complexo. A gestão dele também foi alvo de críticas.
Trajetória na PM
Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo tem 53 anos e nasceu na cidade de São Paulo em uma família de PMs. Ele é a terceira geração a trabalhar como oficial da Polícia Militar paulista. Seu avô foi integrante da Força Pública e combatente paulista durante a Revolução de 1932. Já o pai liderou o Batalhão de Choque e o Comando de Policiamento da Capital, dois dos cargos mais importantes da corporação, e teve seu comando marcado por uma greve de PMs, com 250 amotinados, em 1988.
Coronel Mello foi admitido no curso preparatório da PM quando ainda tinha apenas 15 anos e se formou na Academia Militar do Barro Branco, escola que forma oficiais da corporação, em 1992. Com a patente de tenente, trabalhou a maior parte da carreira no 34º Batalhão da Polícia Militar do Interior, na cidade de Bragança Paulista, e depois no 28° Batalhão, na capital.
Ainda major, Mello passou à condição de assessor militar da Secretaria da Segurança Pública (SSP), e trabalhou como um dos auxiliares do ex-secretário Antônio Ferreira Pinto, entre 2012 e 2014.
O período foi marcado por uma onda de ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) contra a PM. Segundo investigações da época, 106 policiais foram mortos por integrantes da facção. Ferreira Pinto operou uma central de escutas telefônicas que fornecia informações diretamente para a Rota para enfrentar a facção.
Mello, já com a patente de tenente-coronel, assumiu o comando da Rota em 2017. Neste período, suas relações com parlamentares da extrema-direita se intensificou. Segundo relato do ex-deputado estadual Frederico D’Ávila (PL), feito em uma sessão na Assembleia Legislativa (Alesp) no fim de 2019, Mello o procurou para ajudar a arrecadar fundos para reformas e melhorias no batalhão.
Críticas na Rota e bolsonarismo
A aproximação com Bolsonaro ocorreu também no período em que comandou a Rota. Em meio à série de críticas enderençadas ao PM, Mello recebeu mensagens de apoio de Jair Bolsonaro, que fez sua carreira parlamentar baseada na defesa dos militares. O gesto resultou em gratidão, e o coronel apoiou o ex-presidente na campanha de 2018, quando ele foi eleito.
Carreira na Ceagesp
Mello entrou para a reserva da PM pouco após a eleição, no começo de 2019, e o apoio ao ex-presidente lhe rendeu a indicação para o comando da Ceagesp, no ano seguinte. O local passou a ser o enclave bolsonarista da capital, no momento em que João Doria, então governador do Estado pelo PSDB, fazia ferrenha oposição a Bolsonaro.
Mello e o então chefe do Comando de Policiamento do Interior da PM, Aleksander Lacerda, participaram da organização dos atos convocados por Bolsonaro em 7 de setembro de 2021, que contou com milhares de pessoas e lotou a Avenida Paulista de ponta a ponta.
A atuação de Mello e Lacerda terminou com ambos investigados por improbidade administrativa em um inquérito do Ministério Público de São Paulo (MPSP), mas o processo foi arquivado em 2022.