Queda do apartamento: veja como aumentar a segurança de crianças
Queda de janela do 8º andar provocou morte de criança em SP; especialistas apontam cuidados com redes de proteção e limitadores de abertura
atualizado
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São Paulo — A morte de criança de 4 anos, que caiu do oitavo andar de um prédio na zona leste de São Paulo, na última segunda-feira (7/8), despertou a preocupação de pais sobre o que fazer para evitar acidentes envolvendo janelas e sacadas de apartamentos.
A menina Maria Yloa escalou o vaso sanitário, a caixa de descarga e chegou a uma janela basculante desprotegida, antes da queda. Segundo os pais da garota, a tragédia aconteceu em um intervalo de cinco minutos em que a mãe desceu até a portaria para entregar uma chave enquanto a filha estava no banho.
Especialistas ouvidos pelo Metrópoles alertam que não basta apenas instalar qualquer rede de proteção ou limitador de abertura. Laudos que garantam a qualidade do serviço e manutenção constante podem trazer um pouco mais de segurança, em um ramo onde não há regulamentação legal específica sobre o tema.
A altura é algo que desperta a curiosidade de todos, até mesmo dos adultos, e as crianças não vislumbram os riscos envolvidos — e isso vai até o início da adolescência. “Tem muito a questão do lúdico e do simbólico, da fantasia. Depois, quando elas ficam maiores, já vem a questão da curiosidade e de se sentirem atraídas pelas aventuras”, afirma Erika Tonelli, especialista em Entornos Seguros e Protetores da organização global Aldeias Infantis SOS.
A pediatra Heloisa Tabet afirma que, nesse contexto, a instalação de grades ou redes de segurança em todas as janelas e sacadas é fundamental para evitar a queda de crianças, independentemente de onde estejam ou do tamanho que a passagem tenha. “Por menor que seja a janela, precisa ter grade, rede”, diz
Heloisa também alerta para que não se deixe sofás, estantes, cadeiras ou escadas próximos a janelas e sacadas. “Aquelas escrivaninhas e estantes que ficam encostadas próximas às janelas são super-perigosas, mesmo tendo rede. Elas fazem com que a criança suba e fique olhando para baixo”, diz.
Segundo a pediatra, cordões de cortinas e persianas também podem provocar acidentes graves, mesmo com uma queda de uma altura não tão grande, dentro da própria casa. “Eles podem enrolar no pescoço. Precisa amarrar no alto, fora da altura da criança”, afirma.
Segurança
Pesquisadora no Laboratório de Química e Manufaturados do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Gabriele Paula de Oliveira Lima afirma que a NBR 16046, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), referencia questões relacionadas à fabricação e instalação das redes de proteção.
A pesquisadora do IPT também diz que, até o momento, não há legislação ou organismo que certifique as redes de proteção. Mas, segundo a ela, o interessado pode exigir do fabricante um laudo ou relatório de que o material foi avaliado conforme as exigências da ABNT, por precaução.
“Os laudos trazem uma segurança no sentido de demonstrar que a empresa fabricante tem uma preocupação com a qualidade dos seus produtos e pode assegurar o usuário num futuro processo de reclamação por danos ou acidentes”, diz Gabriele.
Segundo a pesquisadora, as normas vigentes não especificam com qual matéria-prima deve ser feita a rede. A exigência é para que tenham resistência à chama e temperatura máxima de trabalho acima de 50°C. Não devem ser confeccionadas com material reciclado.
Manutenção
“O grande problema dessas peças é que são colocadas e esquecidas, mas elas têm vida útil. Não dá para esperar arrebentar um pedaço e depois chamar alguém para consertar”, afirma Marco Antônio Chaves Gama, do Departamento de Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Segundo o pediatra, a vida útil de uma rede de proteção também pode variar de acordo com a região onde foi instalada. Em um lugar com uma brisa marinha carregada de sal, por exemplo, a deterioração pode ser mais rápida.
Gama também critica a falta de regulamentação legal sobre o uso e manutenção de redes de proteção. “Pula-pula também não tem. Escorregador, também não”, diz. O pediatra afirma que, de forma geral, não se tem interesse em criar normas e, quando elas são criadas, não se pensa na proteção, mas em quem pode se beneficiar delas por outros motivos, como comerciais.
Limitadores de abertura
Os limitadores de abertura de janelas basculantes, como as de banheiro, são adaptações e também não há especificações legais a respeito desse tipo de produto.
“Sou um defensor da regulamentação. Infelizmente, não temos”, diz o especialista em segurança condominial Leandro Santos.
Segundo ele, a eficiência dos limitadores depende do material utilizado e da manutenção. No caso daqueles que contam com barra, o problema pode estar no freio final. “Daí perdem a ponta e abrem totalmente”, diz, citando um risco.
Aqueles que são feitos por correntes limitadoras também podem ser insuficientes para impedir o impulso e a esperteza de uma criança. “Tem correntinha com diâmetro muito básico, parece bijuteria. Uma criança com um pouco mais de curiosidade pode estourar”, afirma.
Uma opção para janelas basculantes, segundo o especialista, é a instalação de gradil por pressão na parte interna, sem que seja necessário furar a parede. Santos alerta, entretanto, que todas as alternativas são adaptações, justamente por não haver legislação sobre o tema.
Para a especialista da Aldeias Infantis, a instalação correta e a manutenção de limitadores é fundamental, mas não basta. “É importante também não deixar crianças sozinhas no banheiro, porque se elas tiverem acesso à janela, seja subindo em vaso sanitário ou outro móvel e pia, há risco”, diz Erika.