Promotor pede arquivamento do caso em que PM socou cara de idosa
Idosa de 70 anos e filhos dela denunciam agressão e tortura no interior paulista; pedido do MPSP é avaliado pelo Tribunal de Justiça de SP
atualizado
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São Paulo – O Ministério Público de São Paulo (MPSP) pediu o arquivamento do inquérito policial no qual dois policiais militares são denunciados por agredir uma idosa, com um soco no rosto, e os dois filhos dela, quando ambos eram levados para uma delegacia.
A violência ocorreu em Igaratá, interior paulista, em 30 de maio. O soco desferido pelo soldado Kleber Freitas da Silva, 40 anos, contra o rosto da idosa Vilma dos Santos Rodrigues, 70, foi registrado em vídeo (assista abaixo).
Nas alegações em que pede o arquivamento do caso, o promotor de Justiça Daniel Gruenwald Lepine, da Promotoria de Santa Isabel, afirma que as provas do caso “são insuficientes para comprovar que o policial militar Kleber ofendeu a integridade física de Vilma”. O promotor acrescenta, ainda, que “há controvérsia” no depoimento prestado pela idosa e “os fatos expostos no vídeo”.
As agressões foram precedidas por uma confusão, iniciada por causa de uma briga entre vizinhos, no bairro Parque das Palmeiras. O soldado Kleber e seu parceiro, o também soldado Thiago Alves de Souza, 36, afirmaram em depoimento à Polícia Civil terem sido acionados para atender a um caso de desentendimento familiar por causa da demarcação entre propriedades rurais.
“Os familiares já estavam exaltados, e dois irmãos acabaram atentando contra a integridade física dos policiais militares, que conseguiram algemar um deles”, diz trecho do relato.
Quando foram algemar o segundo homem, o clima mudou. Imagens feitas com um celular, por uma testemunha, mostram o soldado Kleber dando um soco em um dos homens, já rendido e deitado no chão. A idosa se aproxima e dá um tapa no policial, que soca o rosto dela com força e a derruba no chão.
Em seguida, o mesmo policial faz menção de sacar sua arma e diz “agora vou dar um tiro”. Ele, porém, desiste. O soldado parte para cima da testemunha que grava a violência, mas é impedido de pegar o celular.
Promotor questiona
Para o promotor de Santa Isabel, as imagens mostram a idosa agredindo o PM, “o qual desfere um soco sem olhar o alvo”. Em seguida, ele se afasta, “para proteger sua arma de fogo”.
“A sequência de imagens contradiz a versão de Vilma, a qual aduziu que o policial militar apontou a arma de fogo para ela, fato que não ocorreu”, argumenta Lepine.
O soco sofrido por Vilma fez a idosa cair no chão. O laudo sobre a agressão dela, ainda segundo a Promotoria, “não constatou lesão corporal.”
Lepine também questiona a veracidade das agressões sofridas pelos dois filhos da idosa, que precisaram ser levados para um hospital antes de serem encaminhados à delegacia.
Por fim, o promotor solicitou o retorno dos autos à Polícia Civil, orientando que os dois PMs fossem novamente ouvidos “a fim de que informem se desejam representar criminalmente em face de Luciano e Benedito [filhos de Vilma].”
Família se revolta
Vilma dos Santos Rodrigues, irmã e filha das vítimas de agressão, afirmou ao Metrópoles estar indignada com o pedido do MPSP.
“É revoltante. Tudo o que passamos e estamos passando, minha mãe e irmãos. Um deles ainda sente dores da tortura, da agressão que sofreu. É muito revoltante e agora [o MPSP] querendo passar pano. Queremos justiça.”
O pedido de arquivamento do caso, feito pelo MPSP no último dia 14, ainda é avaliado pela Tribunal de Justiça de São Paulo.
Em nota conjunta, enviada ao Metrópoles nesta quinta-feira (31/8), os advogados Marcos Soares e Jorge Luiz de Souza, que representam a idosa e seus filhos, afirmaram que a defesa está “inconformada” com o pedido da Promotoria. “O Inquérito ainda está com a Justiça para decidir sobre o pedido de arquivamento. Se mantido o arquivamento, a defesa tomará todas as medidas judiciais cabíveis para reverter esta situação.”
Os dois policiais foram afastados das ruas na ocasião. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo foi questionada sobre a atualização da situação dos PMs, mas não havia se manifestado até a publicação desta reportagem.