Professora denunciou maus-tratos em escola infantil de SP em 2016
Ex-funcionária conta que menina com pagamentos atrasados era levada ao refeitório, mas não recebia comida; polícia pediu a prisão dos donos
atualizado
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São Paulo – Uma professora que trabalhou na escola infantil particular de São Paulo alvo de uma investigação por maus-tratos contra crianças havia denunciado a conduta dos proprietários em 2016. Sem se identificar por medo de retaliações, ela levou o caso à Secretaria de Estado da Educação, mas a apuração não foi adiante.
“Eu mandei um email, usando outro nome, dizendo que as crianças eram maltratadas, que alguém precisava ir até lá”, conta a professora. Ela foi orientada a ir até a Delegacia de Ensino, mas teve medo de ser descoberta pelos donos da escola e não levou a denúncia adiante.
Maus-tratos em escola: “Minha filha ficou na sala escura até dormir”
Procurada, a Secretaria de Educação não confirmou ter recebido a denúncia. Disse, em nota, que “é contra qualquer tipo de violência, seja dentro ou fora das escolas”. O órgão informou ainda que a diretoria de ensino Centro-Sul abriu uma averiguação sobre todos os relatos apontados e encaminhou o processo de sindicância para a Seduc-SP, onde as partes serão ouvidas e todos os documentos serão analisados. “Após conclusão, as medidas cabíveis serão tomadas.”
A professora que fez a denúncia trabalhou na escola por quase um ano, entre 2015 e 2016. No início, ela conta, os donos da escola não praticavam maus-tratos na sua frente. “Depois de muitos meses fui descobrir o que faziam.”
Sem comida para inadimplentes
Além da sala escura e das humilhações, a ex-funcionária conta que muitas vezes o casal proprietário negava comida às crianças. “Havia uma menina de 2 anos que eles levavam para o refeitório, mas não davam comida porque a mãe estava inadimplente”, afirma. “Eu e outra professora tínhamos que alimentar essa criança às escondidas.”
Em outra situação, a professora conta que o diretor arrastou um menino, que escorregou e sofreu um corte na cabeça. “Aos pais, ele disse que o garoto tinha caído do escorregador. Era muito revoltante.”
A ex-funcionária diz que conseguiu o telefone de alguns pais e procurou alguns deles para contar sobre os maus-tratos, mas muitos não acreditaram. “A gente não podia usar celular lá dentro, então eu não tinha vídeo nem foto de nada.”
Após sair da escola, também fez posts em suas redes sociais, mas os donos desmentiram e fizeram acusações contra ela.
Nessa quinta-feira (22/6), a professora foi ouvida pelo delegado Fábio Daré, do 6º DP, por mais de duas horas. “Falar disso tudo de novo me faz muito mal”, diz. Além dela, 12 mães prestaram depoimento. Após as denúncias, a escola, que fica no Cambuci, zona sul, fechou as portas na quarta-feira (21/6).
A Polícia Civil pediu a prisão temporária do casal nesta sexta-feira (23/6). O Metrópoles tentou entrar em contato com a escola por telefone fixo, celular e mensagem, mas ninguém respondeu. O perfil da instituição no Instagram está fora do ar. O espaço segue aberto para manifestações.
Vídeos de agora
As denúncias de agora foram feitas por outra professora, que se indignou com o tratamento dispensado às crianças pelo casal de donos. Ela gravou vídeos dos maus-tratos e avisou os pais, que então foram à delegacia.
Um dos vídeos feitos pela ex-funcionária, que trabalhou no local por dois meses, mostra a dona da escola e uma funcionária advertindo crianças entre 1 e 2 anos de idade com gritos e xingamentos. Em uma das cenas, um menino aparece amarrado a uma pilastra com a própria blusa.
Outro aluno, que fez xixi na roupa, ouve os gritos de uma funcionária na frente dos colegas. “Hoje você não fez xixi na roupa por qual motivo? Vou começar a conversar com você e gravar as suas respostas. Quando a sua mãe, seu pai ou sei lá quem vier te buscar, eu vou pegar e colocar: ‘Aqui a resposta do seu filho pra mim’”.
Em outro momento, a diretora chama a atenção de uma menina de pouco mais de 1 ano para que ela guarde os brinquedos que estão no chão. “Eram só quatro pecinhas, e já que você quer dar uma de louca, vai guardar tudo”, diz a diretora para a criança, que é vista chorando (veja um trecho abaixo).