Primeiro Comando Puro: MPSP apura criação de facção dissidente do PCC
Ministério Público (MPSP) investiga suposto surgimento de facção rival do PCC que teria sido criada por lideranças expulsas por Marcola
atualizado
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São Paulo — O Ministério Público de São Paulo (MPSP) apura, com certo “ceticismo”, o surgimento de uma facção chamada Primeiro Comando Puro (PCP), atribuída a dissidentes do Primeiro Comando da Capital (PCC) que foram expulsos e jurados de morte após “racharem” com Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo da maior organização criminosa do país.
A descoberta da suposta nova facção é tratada como “informação preliminar” pelo setor de inteligência da Polícia Civil paulista e circula nos bastidores do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), em meio ao racha histórico na cúpula do PCC. Como mostrou o Metrópoles, essa é a quarta guerra interna da facção em 30 anos de existência.
Fontes do MPSP, ouvidas sob reserva pela reportagem, não descartam que dissidentes do PCC, os quais romperam com Marcola, estejam criando uma nova facção, diante do histórico mais recente de conflitos na cúpula, a partir de 2018. Eles, porém, veem o movimento com ceticismo, por conta do prejuízo financeiro que a divisão causaria no faturamento bilionário oriundo do tráfico de drogas.
“Investigamos todo esse movimento de divisão, de brigas, mas com ceticismo. É muito poder e muito dinheiro em jogo”, disse uma das fontes do MPSP. “Como qualquer divisão, neste momento, eles teriam muito a perder. Entre ter uma previsão [de surgimento de uma facção dissidente do PCC] e a realidade se alterar, acho que há muito chão pela frente”, completou.
A disputa na cúpula do PCC em 2018 culminou com o assassinato de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, maior liderança da facção nas ruas até então. Os corpos dele e de Fabiano Alves de Souza, o Paca, foram encontrados, em 16 de fevereiro daquele ano, em uma reserva indígena de Aquiraz (CE), a 30 km da capital cearense.
Racha do PCC
O racha atual na maior facção criminosa do Brasil é provocado por uma disputa de poder entre Marcola e antigos aliados que já fizeram parte da Sintonia Geral Final, a mais alta cúpula do PCC, e agora acusam o líder máximo de ter atuado como delator.
O principal motivo do conflito, que já é considerado histórico, seria um diálogo gravado entre Marcola e policiais penais federais, na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO). Na ocasião, o líder máximo do PCC afirma que o preso Roberto Soriano, o Tiriça (foto em destaque), número 2 da organização, seria um “psicopata”.
A declaração foi usada por promotores durante o julgamento de Tiriça, que foi condenado a 31 anos e 6 meses de prisão, em 2023, por ser o mandante do assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo.
Também romperam com Marcola os presos Abel Pacheco de Andrade, o Abel Vida Loka, Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, Daniel Vinicius Canônico, o Cego, e Reinaldo Teixeira dos Santos, o Funchal.
Como mostrado pelo Metrópoles, Tiriça seria o suposto líder do Primeiro Comando Puro (PCP). O grupo também já teria avançado em firmar alianças com o Comando Vermelho (CV), a maior organização criminosa do Rio de Janeiro, inimiga do PCC.
Rastro de violência
Por causa do conflito, aliados de Marcola começaram a tomar as “biqueiras”, como são chamados os pontos de venda de drogas em São Paulo, que pertenciam aos dissidentes.
Familiares dos ex-líderes também já manifestam medo de perder seus bens adquiridos com os negócios e o dinheiro do PCC. Alguns deles chegaram a procurar a polícia para pedir proteção, segundo informações de inteligência do MPSP.
O conflito já tem deixado um rastro de sangue em cidades paulistas. A primeira morte a se tornar pública foi a do traficante Donizete Apolinário da Silva, de 55 anos, aliado de Marcola, que foi assassinado a tiros quando caminhava com a esposa, de 29, e com a enteada, de 10, em Mauá, na Grande São Paulo.
Na semana retrasada, Luiz dos Santos Rocha, o Luiz Conta Dinheiro, foi fuzilado quando chegava de carro em casa, em Atibaia, no interior. Apontado como “tesoureiro do PCC”, ele era beneficiado por uma saidinha temporária.
No mesmo dia, Cristiano Lopes da Costa, o Meia Folha, foi morto a tiros em uma lanchonete no bairro Vicente de Carvalho, no Guarujá, litoral paulista. Ele era considerado um dos líderes na região e, segundo testemunhas, foi baleado por um pistoleiro que passou de moto pelo local atirando.