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Prevent Senior usa recuo de paciente em ofensiva contra denunciantes

Pedido de desculpas de paciente que depôs ao MPSP e em duas CPIs é usado pela Prevent Senior em ações de até R$ 300 mil contra denunciantes

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Prevent Senior
1 de 1 Prevent Senior - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

São Paulo — Um pedido de desculpas feito por uma das principais testemunhas do caso Prevent Senior na CPI da Covid, em 2021, passou a ser usado pela empresa em uma ofensiva jurídica contra outros denunciantes que falaram à comissão no Senado e ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) no inquérito que resultou em denúncia criminal contra a cúpula da operadora, na semana passada. Tratam-se de ações judiciais nas quais a operadora pede que essas pessoas sejam condenadas a pagar até R$ 300 mil em indenizações por danos morais

Como mostrou o Metrópoles nesta quinta-feira (13/6), o advogado Tadeu de Andrade procurou a Prevent Senior para se retratar em troca da retirada de uma ação judicial de R$ 100 mil movida em razão de seus testemunhos em investigações e entrevistas. O acordo foi feito em agosto de 2023, época em que ele viu sua própria advogada, Bruna Morato, ser condenada a indenizar a empresa em R$ 300 mil — meses depois, ela seria absolvida.

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Prevent Senior tem usado carta para ampliar ofensiva jurídica contra testemunhas da CPI e do MPSP
Advogada usa gravação em que Tadeu confidenciou que fez acordo por receio de condenação
Beneficiário da Prevent Senior, Tadeu Frederico de Andrade foi testemunha do MPSP e da CPI da Covid; ele pediu desculpas à empresa
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Trecho de carta de retratação de Tadeu de Andrade à Prevent Senior feita em troca de retirada de ação em que a operadora pedia sua condenação a indenização de R$ 100 mil

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Prevent Senior tem usado carta para ampliar ofensiva jurídica contra testemunhas da CPI e do MPSP

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Advogada usa gravação em que Tadeu confidenciou que fez acordo por receio de condenação

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Beneficiário da Prevent Senior, Tadeu Frederico de Andrade foi testemunha do MPSP e da CPI da Covid; ele pediu desculpas à empresa

Pedro França/Agência Senado

Tadeu não recuou sobre sua versão dos fatos que viveu na pandemia. Ele foi receitado com o chamado kit Covid, composto por remédios sem eficácia comprovada contra o coronavírus, medicado com flutamida, usado para tratar câncer de próstata, e encaminhado ao tratamento paliativo, segundo ele, indevidamente, quando tinha chances de vida. Dois anos após a CPI, ele baixou o tom sobre a empresa e diz se manter indignado com a médica que lhe tratou.

Mesmo assim, sua retratação, obtida pelo Metrópoles, contém trechos com críticas a outras testemunhas que denunciada a Prevent e até mesmo a jornalistas que lhe entrevistaram. Ele diz que o grupo de vítimas do qual fez parte era “apenas um engodo” e que foi “arrastado” para a “militância político-partidária”. Diz ainda ter sido “influenciado por personagens nefastos e com outras intenções”, como “interesses político partidários e interesses jornalísticos com o mesmo objetivo”.

No grupo de vítimas ao qual Tadeu de Andrade se refere há pessoas que perderam pais, mães e irmãos em hospitais da Prevent Senior. Eles foram testemunhas do Ministério Público paulista e pelo menos sete desses casos foram apontados como homicídios culposos atribuídos à cúpula da empresa ao fim da investigação. Os donos e diretores da operadora negam qualquer irregularidade no tratamento dos pacientes durante a pandemia.

A retratação de Tadeu de Andrade não serviu somente para a Prevent Senior retirar o processo por meio do qual cobrava R$ 100 mil dele. Agora, ela é usada como instrumento para ampliar sua ofensiva contra outros denunciantes que prestaram depoimento à CPI da Covid no Senado na condição de vítima ou testemunha.

Somente contra a advogada Bruna Morato, foram duas ações judiciais, ambas com pedidos de R$ 300 mil. Ela representou médicos que serviram de testemunhas para a CPI e para o MPSP. Também defendeu Tadeu de Andrade na ação que a Prevent Senior moveu contra ele. As ações têm como base entrevistas e depoimentos.

Bruna Morato chegou a ser condenada a indenizar a Prevent Senior em R$ 300 mil em uma das ações. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) reverteu a condenação. Nesse processo, a empresa chegou a usar o relato de Andrade a seu favor para manter a condenação da advogada. Não deu certo.

O roteiro foi repetido em outra ação contra a advogada. Em sua defesa, Bruna Morato anexou uma ata notarial na qual expõe a transcrição de áudios de Tadeu de Andrade em conversa com ela por WhatsApp. Nos áudios, ele diz: “Provavelmente, o juiz vai dar ganho de causa para a Prevent. Então, agora que sai a sentença, logo mais eu devo perder essa ação, lá? E eu tô bem, bem, bem desesperado com isso”.

“Dessa declaração [retratação] para que eu possa concordar e, então, eles arquivariam o pedido e o arquivamento do processo, sem resolução do mérito, né?”, disse Tadeu, na conversa com Bruna Morato. Ele, então, pediu para que ela revogasse sua procuração para que outro advogado lhe representasse.

A Prevent Senior também usou o depoimento de Tadeu de Andrade em processos contra outros médicos, como foi o caso de George Joppert Neto. Ele está entre os médicos que elaboraram um dossiê para denunciar o uso do kit Covid em meio à pandemia.

“Ficávamos na dúvida se o paciente voltava ao hospital com sintomas por causa do agravamento da doença ou dos efeitos colaterais dos medicamentos”, disse o médico, em um de seus depoimentos, à Câmara Municipal de São Paulo.

No processo contra Joppert, a Prevent Senior afirma que o depoimento de Tadeu de Andrade “só reforça as mentiras ditas dolosamente e com fins de interesse pessoal” do médico que, segundo a empresa, é “sabedor da ampla repercussão dos seus ataques públicos”. Nessa ação, ele é cobrado em R$ 100 mil pela empresa.

Procurada pelo Metrópoles, a Prevent Senior afirmou que Tadeu de Andrade procurou a empresa, em agosto de 2023, “dizendo-se arrependido do que havia dito sobre a empresa em depoimentos e entrevistas e visando restabelecer a verdade dos fatos”.

“[O advogado] Propôs que fosse retirada a ação judicial indenizatória por danos morais movida contra si em troca de uma retratação escrita, o que foi aceito. A retratação somente é usada em peças judiciais que têm como base as antigas acusações, admitidas como infundadas pelo próprio beneficiário”, diz a Prevent.

Procurado, Tadeu de André não negou as informações e não quis dar entrevista.

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