Prefeitura de SP faz tapa-buraco em avenida onde começou recapeamento
Prefeitura fazia tapa-buraco e recapeamento ao mesmo tempo em avenida da Vila Mariana; questionada, suspendeu o 1º serviço e deixou crateras
atualizado
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São Paulo — A Prefeitura de São Paulo iniciou na última semana uma ação tapa-buraco em uma avenida da Vila Mariana, zona sul da capital paulista, onde havia acabado de começar o recapeamento completo do asfalto, em um flagrante serviço duplicado.
O trabalho só foi suspenso depois que o Metrópoles questionou a administração municipal a respeito da “duplicidade” do serviço, que seria pago duas vezes pela gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), resultando em desperdício de dinheiro público.
O tapa-buraco é um serviço pontual, com um remendo feito para correção de imperfeições no asfalto em um determinado trecho da via. Já o recapeamento é substituição do pavimento como um todo, podendo se prolongar por várias quadras ou uma avenida inteira.
Na última quinta-feira (26/10), a gestão Nunes anunciou o recapeamento de 126 vias da capital paulista, a começar pela Avenida Prefeito Fábio Prado, entre as ruas Vergueiro e Francisco Cruz, no coração da Chácara Klabin, na Vila Mariana. Segundo a prefeitura, as obras no local já estavam em andamento no mesmo dia do anúncio.
Na sexta-feira (27/10), estava em curso também o serviço de tapa-buraco na mesma Avenida Fábio Prado, na altura da Praça Giordano Bruno. Foram feitos vários recortes no asfalto e colocados cones para que os carros desviassem das crateras abertas no local — empresas contratadas fazem um retângulo maior que o buraco original para realizar o tapamento, seguindo recomendação da prefeitura.
Questionada pela reportagem na própria sexta, a Prefeitura afirmou que a Secretaria Municipal das Subprefeituras identificou o início de uma operação tapa-buraco na avenida e pediu o cancelamento da ordem de serviço. “A empresa responsável foi advertida e não receberá pelo trabalho realizado”, disse, em nota.
Porém, o que já não estava bom ficou ainda pior. Durante o fim de semana, os cones foram removidos dos recortes no asfalto e motoristas foram obrigados a fazer um “rally” pela avenida para acessar a Rua Francisco Cruz.
Nesta segunda-feira (30/10), a situação persistiu, já que o trabalho de tapa-buraco foi abandonado pela metade na sexta —só com a abertura das crateras, sem o tapamento. Também não há sinalização sobre o problema e a reportagem do Metrópoles presenciou vários motoristas fazendo manobras arriscadas durante o fim de tarde, além do risco de acidentes e danos a carros e motos que não conseguiam fazer o desvio.
“Com certeza, tem risco de acidente, com motos e esses degraus no asfalto. É muito movimento, todo o pessoal que vem da [Avenida] Ricardo Jafet para chegar à [Rua] Domingos de Morais”, diz o médico Frederico Augusto da Silva Almeida, de 56 anos.
Questionada novamente, a Prefeitura reafirmou que o recapeamento da avenida como um todo já está em andamento, com previsão de término em janeiro de 2024. Não foi informado o que será feito, até a conclusão do recape, no local onde as crateras foram abertas na última sexta pelo tapa-buraco, que não será finalizado.
Segundo a Prefeitura, não é possível saber quanto custaria o tapa-buraco iniciado no local, “uma vez que seria necessária uma medição depois do serviço executado, o que não aconteceu”. A gestão Nunes diz que a responsável na região é a empresa Trajeto Construções e Serviços.
Serviços indevidos
Em setembro, o Tribunal de Contas do Município (TCM) apontou que empresas que realizam tapa-buraco na cidade são pagas por serviços indevidos.
A auditoria realizada pelo TCM apontou que as contratadas estariam aplicando mais massa asfáltica do que o necessário e recebendo mais por isso. Em um dos exemplos, um buraco de 1 metro quadrado virou uma área de 17 metros quadrados e outro buraco de 2 metros virou uma área de 23 metros.
Em 2023, o número de pedidos pelo serviço de tapa-buraco disparou em São Paulo, chegando a 1 a cada 2 minutos. De abril a junho, por exemplo, foram 55.813 chamados, ante 37.829 no ano passado — aumento de 47,5%.