Prefeitura de Praia Grande tenta impedir entrada de afegãos na cidade
Refugiados afegãos deixaram o Aeroporto de Guarulhos no final da tarde; hotéis da cidade já tinham se recusado a receber o grupo
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – A Prefeitura de Praia Grande, no litoral paulista, tentou impedir a entrada na cidade do grupo de refugiados afegãos que estava acampado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Eles chegaram à Baixada Santista por volta de 20h desta sexta-feira (30/6), mas homens da Guarda Municipal tentaram bloquear a passagem dos ônibus na entrada da cidade e nas imediações da colônia de férias do Sindicato dos Químicos.
Em nota, a Prefeitura de Praia Grande confirmou que não concorda com a entrada dos refugiados na cidade porque muitos deles estão doentes e precisam ficar isolados. Alegou, ainda, que o município não tem estrutura para recebê-los.
A situação, segundo a nota de Praia Grande, foi criada pelos governos estadual e federal e se trata de uma “ação humanitária executada de forma equivocada”. Por fim, a prefeitura informou que a colônia de férias onde os afegãos seriam recebidos não possui alvará do Corpo de Bombeiros.
Pelo Twitter, o ministro da Justiça, Flávio Dino, disse na noite desta sexta-feira (30/6) que os refugiados serão transferidos para estabelecimento hoteleiro “devidamente contratado”. “O Brasil tem leis e nós estamos cumprindo. Esperamos das demais autoridades públicas idêntico comportamento”, escreveu.
Um grupo ligado à deputada federal Juliana Cardoso (PT) acompanhava a transferência dos refugiados e informou que, após a tentativa de bloqueio por parte da Guarda Municipal, a Polícia Rodoviária Federal foi mobilizada para ajudar os ônibus a entrar na cidade. Houve intensa negociação, mas guardas armados continuaram impedindo o acesso dos ônibus. O ministro Flávio Dino realizou um reunião com a prefeita Raquel Chini no final da noite para contornar a situação.
A deputada divulgou uma nota de repúdio em que critica a atitude da Prefeitura de Praia Grande. ” Essa ação demonstra falta de solidariedade e humanidade, indo contra os princípios básicos de acolhimento e respeito aos direitos humanos”, diz a nota (veja abaixo).
Corredores vazios
Os 153 imigrantes deixaram o Aeroporto Internacional de São Paulo às 18h desta sexta-feira (30/6). Membros da Acnur, a Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Refugiados, acompanharam o grupo no trajeto. Com a saída dos refugiados, os corredores do aeroporto onde eles estavam alojados ficaram vazios (veja vídeo abaixo).
A transferência foi decidida depois de reuniões entre representantes do governo federal, estadual e municipal de Guarulhos nesta quinta-feira (29/6). As autoridades estiveram no aeroporto e conversaram com voluntários que auxiliam os afegãos.
A ideia inicial era levar o grupo para hotéis, mas, segundo a deputada Juliana Cardoso, os estabelecimentos se recusaram a receber os imigrantes por causa do surto de sarna. Mais de 20 afegãos foram diagnosticados com a doença na última semana e precisaram ser medicados.
A transferência para o litoral paulista preocupa a presidenta do Coletivo Frente Afegã, Aline Sobral. Ela afirma que a organização não foi autorizada a acompanhar os imigrantes no trajeto, apesar de ter contato próximo com o grupo. “O Posto Humanizado, mais uma vez de forma arbitrária, não deixou o coletivo e a ARRO irem para Praia Grande”, conta Aline.
ARRO é a sigla em inglês para a “Organização de Resgate de Refugiados do Afeganistão”. A entidade é formada por afegãos que se refugiaram no Brasil e também teria sido impedida de acompanhá-los até a colônia de férias.
O Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante, citado por Aline, pertence à Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social de Guarulhos. O Metrópoles questionou a Prefeitura de Guarulhos sobre o tema e aguarda uma resposta. O espaço continua aberto para manifestação.