Prédio de PPP no centro de SP segue vazio 3 meses após inauguração
Conjunto habitacional destinado à moradia de famílias removidas por causa de projeto da prefeitura no centro só tem 10 apartamentos ocupados
atualizado
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São Paulo – Três meses após ser inaugurado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em um evento no dia do aniversário de São Paulo, o Residencial João Octaviano Machado Neto, na Alameda Cleveland, no centro da capital paulista, está praticamente vazio. Apenas 10 dos seus 190 apartamentos foram ocupados até agora.
Enquanto os imóveis seguem sem moradores, famílias que estavam na fila para receber os apartamentos afirmam que o auxílio-aluguel pago pela Prefeitura de São Paulo é insuficiente para equilibrar as contas.
“Hoje nós passamos necessidade. A gente só não passa fome porque as igrejas entregam doação”, diz Andria Raquel, de 54 anos, uma das cadastradas para receber as chaves.
O conjunto residencial foi construído por meio do programa PPP da Habitação, em uma parceria do governo estadual com a iniciativa privada. O terreno pertencia à Prefeitura de São Paulo e foi cedido à administração estadual para receber o empreendimento.
A ideia inicial das duas gestões era que os apartamentos fossem entregues às 190 famílias que foram retiradas de pensões e cortiços nas quadras 37 e 38 da Rua Helvétia em 2021, para um projeto da Prefeitura na região que já foi epicentro da Cracolândia.
Três anos depois de ser retirada da pensão em que vivia na Rua Helvétia, Raquel se emociona ao falar sobre os prédios vazios. “A gente olha e chora”, diz ela.
A eletricista afirma que não recebeu nenhuma previsão de quando poderá fazer a mudança para o local. “Me sinto enganada”, diz.
A comerciante Graciele Santos Veloso, de 46 anos, também vivia em uma das pensões desapropriadas pela Prefeitura em 2021. Segundo ela, o auxílio-aluguel que recebe há dois anos é insuficiente para pagar o apartamento de R$ 1.500 onde mora com a família desde que precisou sair da Rua Helvétia.
A comerciante diz que há meses não tem nenhum retorno sobre a situação do prédio. “A gente mandou um monte de documento para eles e, desde então, não falaram mais nada.”
Enquanto isso, parte dos vizinhos recebeu a notícia de que foi desclassificado para entrar no conjunto habitacional.
“Disseram que eles não se encaixam no perfil. Então, quem que vai se encaixar? Na verdade, eles não estão fazendo prédios para os moradores que já estavam aqui”, afirma a comerciante Ednalva Borges.
Critérios
O Metrópoles questionou o governo estadual sobre a situação do conjunto habitacional. Em nota, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação afirma que as famílias removidas das quadras 37 e 38 têm prioridade de atendimento, mas precisam atender aos critérios da PPP da Habitação para entrar nas unidades.
Entre os critérios, está a obrigatoriedade de que os moradores não tenham outras casas, não tenham sido contempladas por outros programas habitacionais e que tenham a “análise de crédito aprovada pelo agente financeiro [Caixa Econômica Federal]”, segundo a gestão estadual.
“As 10 famílias atendidas no empreendimento citado pela reportagem foram as que preencheram todos os requisitos, tiveram o crédito aprovado e os financiamentos contratados, denotando o cumprimento do compromisso de atendimento. Outras famílias estão na fase final do processo de financiamento para aquisição do apartamento”, diz a nota.
Segundo o texto, as unidades remanescentes serão “destinadas ao atendimento habitacional da demanda do Estado”, podendo incluir, dessa forma, pessoas que não são daquela região.
A nota afirma ainda que as famílias que tiveram o processo encerrado na PPP de Habitação do Estado – Lote 1 receberam orientação para procurar a Secretaria Municipal da Habitação, da Prefeitura de São Paulo.
A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) disse, em nota, que as 190 famílias removidas das quadras foram inseridas no auxílio-aluguel e receberão o benefício até o atendimento definitivo com unidade habitacional.
“A seleção e o atendimento das famílias nos empreendimentos construídos por meio da Parceria Público-Privada (PPP) na região, que é administrada pelo Governo do Estado de São Paulo, foram feitos pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU)”, diz o texto.