Porsche: TJSP mantém prisão preventiva de empresário que matou motoboy
A Justiça paulista manteve a prisão preventiva do empresário Igor Sauceda, que perseguiu, atropelou e matou o motoboy Pedro Kaique Ventura
atualizado
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São Paulo — A Justiça paulista manteve, nessa segunda-feira (26/8), a prisão preventiva do empresário Igor Ferreira Sauceda, de 27 anos, que perseguiu, atropelou e matou o motoboy Pedro Kaique Ventura, de 21, em 29 de julho na zona sul de São Paulo.
A juíza da 3ª Vara do Júri de São Paulo, Isabel Begalli Rodriguez, negou o pedido de liberdade feito pela defesa do motorista do Porsche amarelo, afirmando que soltá-lo seria colocar em risco a ordem pública, uma vez que o acusado teria “comportamento agressivo e ameaçador”.
“Constam dos autos notícias que o acusado teria comportamento agressivo e ameaçador e que teria, inclusive, utilizado o mesmo automóvel envolvido nos presentes fatos para intimidar pessoas de sua convivência”, escreveu a juíza na decisão. “Há, assim, indicação de risco à ordem pública e à instrução processual caso o acusado seja colocado em liberdade.”
Sauceda é réu por homicídio doloso triplamente qualificado por motivo fútil, emprego de meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima. Em audiência de instrução, o tribunal vai decidir se o caso será levado a júri popular.
Denúncia do MPSP
A denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) que fez a Justiça tornar Sauceda réu apontou que “o crime de homicídio foi praticado por motivo fútil, na medida em que Igor deliberou matar Pedro somente porque se irritou com o fato dele ter danificado o seu carro durante uma colisão de trânsito”. Antes do atropelamento, a vítima quebrou o retrovisor do Porsche.
“O crime foi, ainda, praticado com emprego de meio cruel, uma vez que Igor acelerou o carro que conduzia na direção da motocicleta conduzida pela vítima, a atropelou e arrastou por alguns metros, provocando atroz e desnecessário sofrimento a Pedro, além de revelar brutalidade fora do comum em contraste com o mais elementar sentimento de piedade”, acrescentou o MP.
A denúncia indica que Igor também empregou recurso que dificultou a defesa da vítima, “na medida em que colheu Pedro de forma absolutamente surpreendente e pelas costas, pois o atropelou em alta velocidade e atingiu primeiro a parte de trás de sua motocicleta”.
Imagens do atropelamento
Uma imagem registrada por câmera de segurança mostra o momento exato em que o Porsche amarelo dirigido por Igor Ferreira Sauceda acerta a moto de Pedro Kaique Ventura, na Avenida Interlagos, no dia 29 de julho.
A cena, divulgada em 4 de agosto, é rápida e flagra a hora em que o carro de luxo acerta a motocicleta de lado.
Igor Sauceda foi preso em flagrante horas após o acidente, por homicídio doloso, com dolo eventual. No dia seguinte, durante a audiência de custódia, a juíza Vivian Brenner de Oliveira converteu a prisão em preventiva e disse que o empresário usou seu Porsche “como uma arma” para perseguir e matar o motoboy.
O empresário chorou durante a audiência em que a Justiça determinou a sua prisão preventiva em 2 de agosto. Igor Sauceda se emocionou enquanto seu advogado, Carlos Bobadilla, dizia que o empresário veio de “família humilde” e “não ganhou o Porsche do pai”.
No vídeo da audiência de custódia, ao qual o Metrópoles teve acesso, a juíza faz uma série de questionamentos introdutórios a Igor Sauceda. Quando perguntado sobre sua profissão e remuneração mensal, ele diz ser empresário e ter ganhos mensais de R$ 20 mil. Igor e seu pai são sócios no Beco do Espeto, famoso bar do Itaim Bibi, na zona sul de São Paulo.
Após a manifestação da representante do Ministério Público, que se posiciona a favor da conversão da prisão em preventiva, o advogado de Igor começa sua sustentação. Carlos Bobadilla afirma que Igor é um rapaz de origem humilde, ao contrário do que, segundo ele, veículos da mídia querem fazer parecer.
“Faz-se necessário ainda, neste contexto da audiência de custódia, aduzir sobre quem é o Igor. Nas reportagens veiculadas em sites, eu cheguei a ouvir que esse rapaz era um rapaz de família rica, que ganhou a Porsche do pai, só mais um moleque que estava com uma Porsche na rua. Isso é mentira!”, afirmou Carlos Bobadilla.
“Igor nasceu no Rio Grande do Sul, com o pai e com o irmão. Igor vem de uma família humilde. […] Seu pai, buscando uma melhora da vida dos filhos, vem para São Paulo quando os filhos têm 12 anos. Igor e o irmão Gabriel, com 13 anos na época, trabalharam em lava jato, para ajudar na renda orçamentária familiar. Após muito tempo, Igor, junto com o pai, amealharam todas as suas economias, e surgiu a oportunidade de abrir um bar na região do Itaim, na rua onde o pai trabalhava como vallet. Felizmente o negócio deu certo”, complementou.
Na gravação, é possível ver Igor caindo nas lágrimas durante a fala do advogado.
Assista ao momento do acidente:
Durante a audiência, o advogado também afirmou que Igor Sauceda não teve um ataque de fúria, como afirmou o delegado Edilzo Correia Lima, do 48º Distrito Policial da capital, em entrevista coletiva após prender o empresário em flagrante.
Segundo Carlos Bobadilla, Sauceda sequer perseguiu Pedro Kaique. O que houve, diz o advogado, foi um acidente de trânsito.
Colisão fatal
O Porsche dirigido por Igor Sauceda perseguiu a motocicleta de Pedro Kaique em alta velocidade até colidir na parte traseira do veículo, fazendo com que o motoboy se chocasse contra um poste. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.
A colisão ocorreu após uma discussão de trânsito depois que a moto de Pedro Kaique arrancou o retrovisor do carro de luxo. Em seguida, houve uma perseguição por cerca de dois quilômetros. Os veículos se chocaram contra um poste e ficaram completamente destruídos.
Dolo eventual
Logo após a colisão, Igor Sauceda foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, pela delegada plantonista do 11º Distrito Policial. Naquele momento, a polícia não havia tido acesso às imagens das câmeras de segurança.
Após a divulgação dos vídeos, o delegado titular do caso, Edilzo Lima, mudou a tipificação para homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar, e determinou a prisão em flagrante.
O empresário foi transferido em 30 de julho para o Centro de Detenção Provisória II de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo.