Porsche: Justiça torna réu por homicídio empresário que matou motoboy
Igor Ferreira Sauceda, que dirigia um Porsche, vai responder por homicídio triplamente qualificado por morte do motoboy Pedro Kaique, em SP
atualizado
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São Paulo — A Justiça paulista recebeu, nesta terça-feira (6/8), a denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) e tornou réu por homicídio o empresário Igor Ferreira Sauceda, de 27 anos, que perseguiu, atropelou e matou o motoboy Pedro Kaique Ventura, de 21, na zona sul de São Paulo.
Sauceda, que dirigia um Porsche amarelo, vai responder por homicídio doloso triplamente qualificado por motivo fútil, emprego de meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima. A denúncia foi recebida pela juíza Isabel Begalli Rodriguez, da 3ª Vara do Júri de São Paulo. Em audiência de instrução, o tribunal vai decidir se o caso será levado a júri popular.
Ministério Público de São Paulo
Para o MPSP, “o crime de homicídio foi praticado por motivo fútil, na medida em que Igor deliberou matar Pedro somente porque se irritou com o fato dele ter danificado o seu carro durante uma colisão de trânsito”. Antes do atropelamento, a vítima quebrou o retrovisor do Porsche.
“O crime foi, ainda, praticado com emprego de meio cruel, vez que Igor acelerou o carro que conduzia na direção da motocicleta conduzida pela vítima, a atropelou e arrastou por alguns metros, provocando atroz e desnecessário sofrimento a Pedro, além de revelar brutalidade fora do comum em contraste com o mais elementar sentimento de piedade”, acrescenta o MP.
A denúncia indica que Igor também empregou recurso que dificultou a defesa da vítima, “na medida em que colheu Pedro de forma absolutamente surpreendente e pelas costas, pois o atropelou em alta velocidade e atingiu primeiro a parte de trás de sua motocicleta”.
Imagens do atropelamento
Uma imagem registrada por câmera de segurança mostra o momento exato em que o Porsche amarelo dirigido por Igor Ferreira Sauceda acerta a moto de Pedro Kaique Ventura, na Avenida Interlagos, no dia 29 de julho.
A cena, divulgada no último domingo (4), é rápida e flagra a hora que o carro de luxo acerta a motocicleta de lado.
Igor Sauceda foi preso em flagrante horas após o acidente, por homicídio doloso, com dolo eventual. No dia seguinte, durante a audiência de custódia, a juíza Vivian Brenner de Oliveira, converteu a prisão em preventiva e disse que o empresário usou seu Porsche “como uma arma” para perseguir e matar o motoboy.
O empresário chorou durante a audiência em que a Justiça determinou sua prisão preventiva na última sexta-feira (2/8). Igor Ferreira Sauceda, de 27 anos, se emocionou enquanto seu advogado, Carlos Bobadilla, dizia que o empresário veio de “família humilde” e “não ganhou o Porsche do pai”.
No vídeo da audiência de custódia, ao qual o Metrópoles teve acesso, a juíza faz uma série de questionamentos introdutórios a Igor Sauceda. Quando perguntado sobre sua profissão e remuneração mensal, ele diz ser empresário e ter ganhos mensais de R$ 20 mil. Igor e seu pai são sócios no Beco do Espeto, famoso bar do Itaim Bibi, na zona sul de São Paulo.
Após a manifestação da representante do Ministério Público, que se posiciona de a favor da conversão da prisão em preventiva, o advogado de Igor começa sua sustentação. Carlos Bobadilla afirma que Igor é um rapaz de origem humilde, ao contrário do que, segundo ele, veículos da mídia querem fazer parecer.
“Faz-se necessário ainda, neste contexto da audiência de custódia, aduzir sobre quem é o Igor. Nas reportagens veiculadas em sites, eu cheguei a ouvir que esse rapaz era um rapaz de família rica, que ganhou a Porsche do pai, só mais um moleque que tava com uma Porsche na rua. Isso é mentira!”, afirmou Carlos Bobadilla.
“Igor nasceu no Rio Grande do Sul, com o pai e com o irmão. Igor vem de uma família humilde. […] Seu pai, buscando uma melhora da vida dos filhos, vem para São Paulo quando os filhos têm 12 anos. Igor e o irmão Gabriel, com 13 anos na época, trabalharam em lava jato, para ajudar na renda orçamentária familiar. Após muito tempo, Igor, junto com o pai, amealharam todas as suas economias, e surgiu a oportunidade de abrir um bar na região do Itaim, na rua onde o pai trabalhava como vallet. Felizmente o negócio deu certo”, complementou.
Na gravação, é possível ver Igor caindo nas lágrimas durante a fala do advogado.
Assista ao momento do acidente:
Durante a audiência, o advogado também afirmou que Igor Sauceda não teve um ataque de fúria, como afirmou o delegado Edilzo Correia Lima, do 48º Distrito Policial da capital, em entrevista coletiva após prender o empresário em flagrante.
Segundo Carlos Bobadilla, Sauceda sequer perseguiu Pedro Kaique. O que houve, diz o advogado, foi um acidente de trânsito.
Colisão fatal
O Porsche dirigido por Igor Sauceda perseguiu a motocicleta de Pedro Kaique em alta velocidade até colidir na parte traseira do veículo, fazendo com que o motoboy se chocasse contra um poste. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.
A colisão ocorreu após uma discussão de trânsito depois que a moto de Pedro Kaique arrancou o retrovisor do carro de luxo. Em seguida, houve uma perseguição por cerca de dois quilômetros. Os veículos se chocaram contra um poste e ficaram completamente destruídos.
Dolo eventual
Logo após a colisão, Igor Sauceda foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, pela delegada plantonista do 11º Distrito Policial. Naquele momento, a polícia não havia tido acesso às imagens das câmeras de segurança.
Após a divulgação dos vídeos, o delegado titular do caso, Edilzo Lima, do 48º Distrito Policial, mudou a tipificação para homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar, e determinou a prisão em flagrante.
O empresário foi transferido na última terça-feira (30) para o Centro de Detenção Provisória II de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo.