Gestão Nunes evita ações restritivas contra poluição temendo desgaste
Mesmo com índices recordes de poluição atmosférica, gestão Nunes evita a adoção de medidas de emergência em meio ao calendário eleitoral
atualizado
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São Paulo — Mesmo com os consecutivos registros de índices recordes de poluição atmosférica na cidade de São Paulo, decorrentes da estiagem prolongada e da fumaça de queimadas trazida pelo vento à capital, a gestão de Ricardo Nunes (MDB) está reticente em adotar medidas mais rigorosas para evitar as consequências para a saúde dos cidadãos em razão do calendário eleitoral.
Nunes tenta a reeleição neste ano e quer evitar o desgaste que atitudes como fechamento de escolas ou restrições à circulação de automóveis lhe tragam rejeição, faltando 25 dias para as eleições, segundo apuração do Metrópoles.
A adoção de medidas restritivas durante a pandemia de Covid-19 gerou críticas a diversos prefeitos e ao governador João Doria (sem partido), além de ataques por parte de Jair Bolsonaro (PL), que apoia Nunes. Atualmente, o prefeito está tecnicamente empatado com Guilherme Boulos (PSol) e Pablo Marçal (PRTB) em várias pesquisas de intenção de voto.
A Prefeitura já registrou 450 mortes por síndrome respiratória aguda grave neste ano na capital, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde. Esse número, referente ao período entre janeiro e a primeira semana de setembro, só é inferior ao de 2016 (considerando o ano inteiro) e aos anos da pandemia. Uma reportagem da Folha de S. Paulo revelou que 76 dessas mortes ocorreram nos últimos 40 dias, período em que a poluição se intensificou.
Na manhã desta terça-feira (10/9), o prefeito foi questionado por jornalistas sobre as medidas adotadas contra a poluição. Em resposta, listou promessas de campanha, como a substituição da frota de ônibus por veículos elétricos e a ampliação das áreas verdes. Quando pressionado sobre ações de emergência, afirmou: “O que temos, já falei para a equipe hoje de manhã, é dar mais celeridade a esses processos”.
Em nota enviada ao Metrópoles, a Prefeitura disse que realizou na manhã desta quarta-feira uma reunião com representantes de Secretarias Municipais e está avaliando diretrizes e medidas em relação à qualidade do ar na cidade.
A Prefeitura possui tendas ativadas em locais como a Praça da República, no centro, e o Largo 13 de Maio, em Santo Amaro, para distribuição de água e descanso para a população.
Segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), o índice MP2,5, que mede a quantidade de micropartículas no ar (finas o suficiente para penetrar no sistema respiratório), está acima de 128 há mais de 48 horas. Esse índice é quatro vezes superior ao considerado bom.
Esse material, de acordo com médicos, está associado a doenças como asma, pneumonia e até câncer de pulmão.
O governo do Estado, por outro lado, divulgou nota nessa terça-feira recomendando que a população evite atividades físicas ao ar livre e aumente o consumo de água. Além disso, a Cetesb suspendeu temporariamente as autorizações de queima no estado para a despalha de cana, queima fitossanitária ou manejo.
O governo ressalta ainda que crianças menores de cinco anos, idosos e gestantes devem ter atenção redobrada às recomendações mencionadas, assim como pessoas com comorbidades. Nesses casos, é recomendado buscar atendimento médico imediatamente ao surgirem sintomas respiratórios. Outras recomendações incluem manter as janelas de casa fechadas.
Pelo Mundo Afora
O Metrópoles realizou um levantamento para verificar como outras capitais ao redor do globo têm enfrentado o problema da poluição.
Em Lahore, no Paquistão, o governo local fechou escolas, parques públicos, centros comerciais e escritórios em novembro de 2023, quando o índice de qualidade do ar ultrapassou 400 pontos, número considerado “perigoso”.
A IQAir, empresa suíça que faz um ranking diário da qualidade do ar em cidades ao redor do mundo, colocou São Paulo como a cidade mais poluída do mundo por três vezes nos últimos três dias. Lahore chegou à oitava posição.
Também em novembro passado, Délhi, na Índia, fechou escolas, proibiu a circulação de veículos a diesel e suspendeu obras, além de recomendar que a população permanecesse em casa. “Na verdade, o número de dias em que as escolas ficam fechadas devido à poluição do ar tem aumentado. Agora, as aulas são interrompidas por pelo menos cinco a seis dias seguidos”, disse Shariq Ahmad, diretor de uma escola pública em Kalkaji, no sul de Délhi, à BBC na época.
Pequim, na China, adotou uma série de medidas na última década para reduzir seus índices de poluição, como a diminuição do uso de carvão na indústria e restrição a veículos a diesel. Antes disso, em 2013, quando o índice de MP2,5 chegou a 300 pontos, o governo local reduziu a operação de fábricas e restringiu a circulação de veículos oficiais.
Em agosto de 2023, o Ministério da Saúde da Indonésia implementou uma série de medidas para a população, visando combater os efeitos da poluição na saúde. Na época, o governo distribuiu kits sanitários em centros de saúde e incentivou o uso de máscaras. O ministro da saúde, Budi Gunadi Sadikin, também declarou que o ministério deveria fornecer educação aos médicos sobre como lidar com doenças respiratórias.
Na última segunda-feira (9/9), o Ministério Coordenador de Assuntos Marítimos e Investimentos da Indonésia defendeu políticas baseadas em evidências para aumentar a conscientização pública sobre questões de poluição do ar e suas fontes.
Recomendações
Com uma qualidade do ar insalubre, o site suíço de monitoramento aconselha a população a ficar dentro de casa e fechar as portas e janelas para evitar que mais ar poluído entre nos cômodos.
A instituição também recomenda o uso de purificador de ar, considerando que ele circule o ar sem importar mais da poluição externa.
Aqueles que são mais sensíveis, devem evitar se expor ao ar livre. Se isso for inevitável, uma máscara de boa qualidade deve ser usada o tempo todo. O IQAir incentiva ainda que as pessoas deixem de praticar exercícios vigorosos em áreas externas.