Por que Tarcísio se convenceu a apoiar a votação da reforma tributária
Apoio do governador de SP, Tarcísio de Freitas, permitiu costura de acordo para colocar a reforma tributária em votação nesta quinta-feira
atualizado
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São Paulo – Uma madrugada de estudos e uma conversa olho no olho com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foram os momentos decisivos para que Tarcísio de Freitas (Republicanos) se convencesse a apoiar a votação da reforma tributária, mesmo diante da constatação de que compraria briga com os bolsonaristas, parte importante de sua base eleitoral.
O apoio de Tarcísio foi o último grande entrave à costura de consensos para a votação, que pode ocorrer ainda nesta quinta-feira (6/7) na Câmara dos Deputados.
A fala do governador, de que concordava “com 95%” da reforma e que não faria “cavalo de batalha” sobre os pontos divergentes, feita ao lado de Haddad, surpreendeu o governo, que comemorou o gesto de apoio.
Tarcísio foi dormir depois das 3h na noite de terça (4/7) para quarta-feira (5/7), quando chegou a Brasília para reuniões sobre o projeto. Passou a noite estudando modelos de arrecadação unificados existentes em outros países, em especial da União Europeia, e modelos de governança de órgãos similares ao conselho federativo proposto na reforma.
Segundo seus assessores, o material sobre a reforma produzido por seus técnicos da Fazenda dizia que o conselho federativo poderia reter recursos que deveriam ser de São Paulo para outros estados, mas havia correções a serem feitas que poderiam reduzir o risco.
Diálogo convergente
Na reunião com Haddad, na manhã seguinte, ambos falaram sobre a posição prévia já favorável de Tarcísio. Mário Covas e José Serra, dois governadores paulistas (ambos tucanos) que se opuseram à reforma, foram citados no bate-papo. Já a posição republicana do atual governador foi elogiada pelo ministro.
Os dois também mencionaram o apoio ao projeto de entidades paulistas como a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e os benefícios para o país com a aprovação do texto, que deve desburocratizar a arrecadação fiscal.
No momento em que Tarcísio entrou no ponto que mais o preocupava, Haddad levou a conversa para pontos de convergência. O ministro disse que o conselho federativo, órgão que se encarregaria de distribuir os recursos coletados com a arrecadação de impostos, poderia ter uma instância em que cada estado teria um peso e outra em que as regiões também teriam peso (equilibrando demandas de São Paulo e do Nordeste), o que deixou Tarcísio satisfeito.
Posição prévia já favorável
Os assessores diretos do governador fazem questão de lembrar que Tarcísio chegou a Brasília já disposto a trabalhar para construir um texto final da reforma que pudesse ser votado ainda nesta semana.
Eles lembram que, ainda em fevereiro, quando circulou em eventos organizados por bancos de investimentos para se apresentar ao mercado como governador eleito, já dizia que o Estado poderia perder arrecadação no curto prazo diante da mudança do ponto de cobrança (do lugar de produção para o lugar de consumo), mas que trabalharia por apoiar a reforma.
Movimentos políticos
Ao se reunir com a representantes da bancada paulista da Câmara dos Deputados, no domingo, o governador também ressaltou que era preciso alterar alguns pontos da reforma, mas não disse em nenhum momento que era contra sua votação.
Já em Brasília, reunido com deputados e governadores de outros estados, Tarcísio pôde ver que não havia vozes contrárias à votação do texto e que havia espaços para buscar alterações na proposta junto ao governo.
Caso montasse trincheiras contra a votação, Tarcísio poderia se ver isolado – com possível apoio explícito apenas de Ronaldo Caiado (União), de Goiás, e Cláudio Castro (PL), do Rio.
Por outro lado, ao conversar com representantes do PL, partido que reúne a maioria dos bolsonaristas, a avaliação obtida por São Paulo foi de que o partido estava dividido. Os bolsonaristas do partido já tinham fechado questão acerca de bombardear o projeto, que seria identificado nas redes sociais como “do PT” e que não poderia ser apoiado.
A opção política do grupo de Tarcísio foi aceitar o desgaste: conversar com sua base, esclarecer os pontos que defende e tentar costurar diálogos, admitindo que há divergências em um assunto tão complexo e que, historicamente, foi debatido sem consensos.
O desgaste, por fim, ocorreu. Ao se reunir com Bolsonaro e com aliados do PL nesta quinta-feira, Tarcísio foi hostilizado e teve de ouvir de Bolsonaro que o ex-presidente havia ficado “chateado” com ele.