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Por que os ingressos de eventos culturais se esgotam em São Paulo

Metrópoles conversou com nomes ligados à produção cultural para entender fenômeno que atinge venda de ingressos na capital paulista

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1 de 1 imagem colorida mostra público na virada cultural - metrópoles - Foto: Paulo Guereta/ Prefeitura de São Paulo

São Paulo – A atriz Bruna Gasgon, de 70 anos, se uniu a mais vinte amigos na última terça-feira (11/6) para tentar comprar ingressos para a peça “Fernanda Montenegro lê Simone de Beauvoir”, no Sesc 14 Bis. Cada um de sua casa ou trabalho, eles acessaram o site do Sesc São Paulo no horário marcado para as vendas on-line.

Depois de vários minutos enfrentando falhas no site, Bruna finalmente conseguiu acessar a área de ingressos, mas deu “com a cara na porta”. “No que eu consegui, veio a decepção: tudo lotado, esgotado. Fiquei arrasada”, conta a atriz. Na internet, vários fãs da artista também lamentaram a falta de ingressos para o espetáculo.

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A alta procura pela peça fez com que a instituição soltasse uma nota sobre o episódio. “Somente no portal do Sesc São Paulo foram mais de 130 mil acessos simultâneos, que geraram sobrecarga no sistema de vendas on-line”, afirma o texto, que diz que 10 mil ingressos foram vendidos para o espetáculo.

A cena de ingressos esgotados rapidamente na capital paulista, no entanto, não é uma exclusividade da peça de Fernanda Montenegro. Em São Paulo, frequentemente os moradores têm que enfrentar filas grandes e se planejar com antecedência para assistir a espetáculos, shows e visitar exposições que acontecem na cidade.

Em alguns casos, a alta procura faz com que os produtores de eventos culturais divulguem mais datas, como na turnê Caetano e Bethânia, ou na peça “Tarsila, a brasileira”, estrelada pela atriz Claudia Raia.

Instigado por casos como estes, o Metrópoles decidiu conversar com nomes ligados à área cultural para entender: afinal, por que os ingressos de eventos culturais se esgotam tão rápido na capital paulista?

População e mercado

Para o presidente da Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape) Doreni Caramoni, três fatores ajudam a entender a alta demanda em São Paulo: o tamanho da população, a presença forte de turistas na cidade e a preferência do mercado por iniciar projetos na capital paulista.

“Em função do tamanho da população e da quantidade de turistas na cidade, há normalmente um processo de lançamento dos shows começando por São Paulo. E quando você lança espetáculos e shows começando por São Paulo você reúne não só a demanda dos moradores e dos turistas que estão na cidade, mas também daqueles que querem ver o show primeiro”, conta Doreni.

“É um fenômeno que se retroalimenta”, diz ele “Um mesmo evento em São Paulo e em qualquer outra capital tende, por uma questão populacional, a vender mais”, afirma o presidente.

A cidade, de fato, movimenta o mercado cultural. Uma pesquisa divulgada pela Abrape mostra que a maior parte das empresas de eventos das áreas de cultura e esporte estão na capital paulista. Em 2022, São Paulo concentrava 18,1% do setor.

Preços acessíveis de ingressos

Para Ricardo Gentil, superintendente de Comunicação Social do Sesc, a demanda maior em São Paulo tem mesmo relação com o tamanho da cidade e com a oferta de programação, mas o preço acessível das programações do Sesc é um dos fatores que ajudam a entender fenômenos como o da peça da Fernanda Montenegro.

“Essa procura [por ingressos], até pela possibilidade de acesso, aqui em São Paulo é maior e destoa do restante do Brasil”, conta ele, afirmando que a entidade acaba atendendo um público que, em muitos casos, não teria condições de pagar pelo ingresso em outros locais.

“É importante a gente levar um artista conhecido para um público que muitas vezes quer ter o acesso não ia conseguir assistir se não fosse dentro do Sesc”, diz ele. O ingresso para a peça com Fernanda no Sesc 14 Bis custava R$ 60 a inteira.

Ricardo lembra outros eventos do Sesc que também foram sucesso de público, como shows do cantor Emicida e apresentações gratuitas do Rappa, no Sesc Itaquera.

Costume cultural

Diretora do Teatro Unimed, Neli Casimiro diz que a cultura faz parte do dia-a-dia dos paulistanos. Ela conta que desde pequena era levada ao teatro pela mãe.

“O paulistano vai ao teatro, ao cinema, aos shows”, diz ela. “E quando tem um nome expressivo isso acaba sendo um fator, a gente sente que vai ser um sucesso”.

Neli conta que chega a deixar algumas datas do teatro “congeladas” entre um espetáculo e outro já prevendo a prorrogação de temporadas por causa da alta demanda na cidade.

Foi o que aconteceu, por exemplo, com a peça “A última entrevista de Marília Gabriela”, que também teve os ingressos esgotados para as primeiras datas anunciadas e acabou com a temporada estendida até o fim de julho.

Diversidade de opções

Superintendente do Itaú Cultural, Jader Rosa afirma que a cidade tem uma relação forte e diversa com a cultura, atraindo programações que chamam a atenção do público nas mais variadas áreas.

“O polo cultural é bem efervescente em São Paulo. Tem desde uma mostra literária, um circuito de cinema, à mostra de dança e de teatro. Até programações de cunho internacional acontecem na cidade”, conta ele.

Jader diz que as pesquisas feitas pelo instituto comprovam que o brasileiro, no geral, tem o hábito de frequentar eventos culturais. Ele lembra um levantamento realizado pelo Itaú Cultural em parceria com o Datafolha que mostrou que 96% dos moradores do país realizaram atividades culturais em 2023.

Na capital paulista, ele diz que essa relação com a cultura se espalha pelos bairros da cidade e que a população incentiva a cultura.

“São Paulo tem tanto o público de forma mais central, como os dos festivais de música que acontecem de uma forma recorrente, como os movimentos periféricos. Tem várias feiras, festas e encontros periféricos que acontecem semanalmente e com muita força”, diz ele.

O superintendente defende a importância de programações gratuitas e com preço acessível para que cada vez mais paulistanos possam usufruir dos eventos.

Para ele, o futuro e a expansão da cultura na cidade de São Paulo estão diretamente ligados a descentralização das programações, levando eventos que hoje lotam no centro aos mais variados espaços da cidade nas demais regiões.

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