Poluição: mar de espuma cobre o rio Tietê no interior de São Paulo
Cena se repete há anos e é consequência do acúmulo de poluentes no maior rio do estado; governo inaugurou programa para combater
atualizado
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São Paulo – Um mar de espuma branca cobriu o rio Tietê na cidade de Salto, no interior de São Paulo, nesta semana. O fenômeno é uma consequência da poluição que atinge o curso d’água no caminho entre a nascente, na cidade de Salesópolis, e o interior do estado.
A cena não é rara e já foi registrada em diferentes locais de São Paulo nas últimas duas décadas.
Em 2003, por exemplo, o então prefeito da cidade de Pirapora do Bom Jesus, Raul Silveira Bueno, disse que o problema causava transtornos à população local e cobrou soluções em uma audiência pública sobre o tema na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
“As espumas ultrapassam os limites da normalidade e servem de exemplo para que sejam tomadas medidas concretas e não apenas paliativas ou emergenciais”, afirmou o político à época.
Os registros do problema costumam aparecer durante os meses de junho e julho, quando a chegada do inverno deixa o tempo mais seco e favorece o acúmulo de materiais poluentes na água.
Quando venta, os blocos de espuma são levados para fora das margens do rio e invadem algumas ruas, provocando sujeira e incomodando a população.
O secretário de Meio Ambiente de Salto, Flávio Roberto Garcia, diz que o problema é um reflexo da falta de tratamento de esgoto na Grande São Paulo. “Essa poluição vem das cidades da região metropolitana”, afirma.
Segundo o secretário, os poluentes do rio encontram o cenário perfeito para a formação das espumas na geografia dos municípios de Salto e Itu.
“A gente tem as corredeiras e a cachoeira. Acaba funcionando como uma máquina de lavar gigante. Esses poluentes, principalmente de origem saponácea, acabam formando essas espumas que nos atrapalham aqui”, afirma Flávio.
Ele diz que a cidade perde dinheiro por causa da poluição e afirma que o turismo na região seria bem maior se o Tietê estivesse em melhores condições.
Morador de Salto, o cabeleireiro Antônio Domingos Penhavel diz que a própria população da cidade aproveitaria mais a região se o rio fosse limpo.
“Eu poderia pescar, andar [perto]. O visual seria muito mais bonito. Antigamente era assim, né?”, afirma. Hoje, o morador não chega nem perto do rio. “Nem pensar! A água é muito suja, contaminada.”
Mancha de poluição
Dados do relatório “Observando o Tietê”, divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica, mostram que a mancha de poluição no rio cresceu mais de 40% entre 2021 e 2022 no trecho monitorado pela organização.
Em 2021, a mancha alcançava 85 quilômetros. No ano seguinte, alcançou 122 quilômetros.
Desde 1992, diferentes projetos encampados pela Sabesp e por gestões estaduais prometeram deixar o rio limpo outra vez. Apesar de alguns avanços, o Tietê continua sendo lembrado por muitos paulistas pelo mau cheiro e as águas sujas.
Afinal, o Rio Pinheiros está limpo? Fomos conferir
Em março deste ano, a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) lançou o programa Integra Tietê, com o objetivo de recuperar o rio. O projeto prevê um investimento de R$ 5,6 bilhões em obras de desassoreamento, tratamento de esgoto e monitoramento da água.
Em entrevista ao Metrópoles, a subsecretária de Recursos Hídricos e Saneamento Básico do estado, Samanta Souza, disse que o projeto se diferencia dos anteriores porque propõe um trabalho conjunto entre agentes públicos.
Encontros mensais
“Todos os órgãos, inclusive os municípios e os comitês de bacia, atuam integradamente”, afirma Samanta. A integração se dá pelo chamado “Fórum Integra Tietê”, que reúne agentes como a própria Secretaria de Meio Ambiente, a Sabesp e os membros dos Comitês de Bacias Hidrográficas do Estado.
Desde que o projeto foi anunciado, o fórum tem feito encontros mensais, mas a ideia é que as reuniões sejam bimestrais, com eventos extraordinários quando necessário.
A subsecretária diz, ainda,que o programa vai usar as lições aprendidas com o Novo Rio Pinheiros, criado pela gestão João Doria (sem partido), para avançar no combate à poluição.
O Novo Rio Pinheiros conectou mais de 650 mil imóveis à rede de esgoto. Com isso, segundo a gestão anterior, um volume equivalente a 23 mil piscinas olímpicas de esgoto deixou de chegar ao Pinheiros.