SP: Tarcísio toma posse sob expectativa de virar novo líder da direita
Tarcísio de Freitas assume como 39º governador de São Paulo de olho em vácuo político do agora ex-presidente Jair Bolsonaro
atualizado
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São Paulo – Eleito há dois meses na “garupa” de Jair Bolsonaro (PL), Tarcísio de Freitas (Republicanos) assume neste domingo (1/1) o comando do governo de São Paulo sob a expectativa de ocupar o vácuo político do agora ex-presidente da República e se credenciar como nova liderança da direita brasileira.
Aos 47 anos, Tarcísio será empossado como 39º governador do estado mais rico e populoso do país nesta manhã, em cerimônia na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Em seguida, ele será recebido por Rodrigo Garcia (PSDB) no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, para a transmissão formal do cargo.
Como já virou regra no xadrez político nacional, quem senta na cadeira de governador de São Paulo automaticamente se torna presidenciável para a eleição seguinte. No caso de Tarcísio, aliados já vislumbram a ascensão dele como novo líder da direita para enfrentar o PT na disputa pelo Planalto em 2026.
A esses aliados, Tarcísio tem dito que seu foco é fazer uma boa gestão para disputar a reeleição daqui a quatro anos. Mas a postura adotada pelo ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro após a vitória nas urnas, em outubro, e a formação de seu secretariado indicam um projeto político mais ambicioso.
Sem romper com seu padrinho político, Tarcísio tem se afastado cada vez mais do chamado “bolsonarismo raiz”, ao qual ele mesmo já disse não pertencer, e montou um primeiro escalão composto, em sua maioria, por pessoas de sua estrita confiança, nomes ligados ao ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, e aliados de Gilberto Kassab (PSD), que será seu secretário de Governo e articulador político.
Com cargos distribuídos também a bolsonaristas e evangélicos, Tarcísio promete um governo liberal na economia e conservador nos costumes, exatamente como Bolsonaro há quatro anos, mas sem provocar tensões com outras instituições, como fez o agora ex-presidente da República.
Aliados projetam que, desta forma, o novo governador paulista deve herdar uma parcela do espólio bolsonarista e emergir como uma grande liderança de direita até a próxima disputa presidencial. Nos basditores, a aposta é de que Tarcísio troque o Republicanos pelo PSD e vire o grande adversário do PT na corrida pelo Planalto em 2026.
Perfil
Debutante em eleições, Tarcísio será o primeiro governador paulista genuinamente carioca, fato que chegou a ser usado contra durante a campanha eleioral pelos adversários. Ele nasceu em junho de 1975 na cidade do Rio de Janeiro, onde depois se formou engenheiro pelo Instituto Militar de Engenharia, e é torcedor do Flamengo.
Desde Jânio Quadros (1955-1959), São Paulo não empossava um governador nascido em outro estado. Jânio era natural de Campo Grande (MS), mas, ao contrário de Tarcísio, mudou-se ainda jovem para São Paulo, onde se formou em Direito e se elegeu vereador, deputado e prefeito da capital antes de assumir o governo.
Tarcísio também se formou militar pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e foi engenheiro do Exército, atuando em São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Amazonas. Entre 2005 e 2006, integrou a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, chefiada pelo Brasil.
Após uma rápida passagem como auditor da Controladoria-Geral da União (CGU), Tarcísio foi indicado para a diretoria do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), em 2011, no governo Dilma Rousseff (PT). A gestão foi marcada por uma “faxina ética” feita no órgão que colecionava escândalos de corrupção e estava sob influência do ex-deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL e hoje aliado de Tarcísio.
Em 2015, ele passou no concurso e se tornou consultor legislativo da Câmara dos Deputados, onde estabeleceu vínculos políticos. Voltou ao governo na gestão de Michel Temer para coordenar projetos da Secretaria Especial do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), responsável pelas privatizações e concessões federais.
Depois da eleição de Bolsonaro, em 2018, foi indicado por amigos em comum para comandar o poderoso Ministério da Infraestrutura, onde caiu nas graças do então presidente da República, como tocador de obras. Ganhou o apelido de “Tarsício do Asfalto” e só mudou seu domicílio eleitoral para São Paulo para concorrer a governador, após muita pressão de Bolsonaro.
Filho de uma empregada doméstica e de um funcionário do Banco do Brasil, Tarcísio é casado há 24 anos com Cristiane, que ganhou um cargo na Embratur durante o governo Bolsonaro. Juntos, eles têm um casal de filhos adolescentes que ficou estudando em Brasília, enquanto Tarcísio e a mulher ficaram em campanha em São Paulo. Agora, os Freitas serão os novos inquilinos do Palácio dos Banderiantes.