Secretário da Saúde vira “embaixador” antinegacionista de Tarcísio
Secretário da Saúde de SP, Eleuses Paiva atua para afastar aimagem de negacionosta associada a Jair Bolsonaro do governo de Tarcísio
atualizado
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São Paulo – Além da gestão de toda estrutura que envolve o SUS paulista, o secretário estadual da Saúde, Eleuses Paiva, tem tido uma destacada atuação para afastar do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) o rótulo de negacionista associado ao padrinho político do governador, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Eleuses está trabalhando como uma espécie de “embaixador” antinegacionista do novo governo paulista para construir pontes com atores políticos da área da saúde que foram fustigados por Bolsonaro nos últimos anos e que viam com desconfiança a administração do ex-ministro bolsonarista em São Paulo.
Esse movimento inclui se aproximar da ministra da Saúde do governo Lula, Nísia Trindade, de prefeituras e até de entidades como a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que, no Brasil, intermediou a chegada de médicos cubanos durante o programa Mais Médicos, uma das bandeiras do PT na Saúde.
Primeiro secretário anunciado por Tarcísio após a eleição, Eleuses foi uma indicação de Gilberto Kassab, atual secretário de Governo, e atua em parceria com o presidente nacional do PSD dentro da máquina paulista. Os dois se falam por telefone mensagens mais de uma vez por dia, segundo auxiliares.
Com reuniões e elogios públicos a políticos e autoridades demonizados pelo bolsonarismo, Eleuses segue as diretrizes estabelecidas por Kassab, que se equilibra entre petistas e bolsonaristas, apregoando uma posição de centro, para destravar projetos de seu interesse.
O secretário da Saúde teve papel central, por exemplo, na articulação da sanção, pelo governador Tarcísio, do projeto de lei que autoriza a distribuição gratuita de remédios à base de canabidiol no SUS paulista, política critica por grupos bolsonaristas.
O autor do projeto sancionado é o deputado estadual Caio França (PSB), filho do ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, ex-governador que foi candidato ao Senado na chapa do petista Fernando Haddad, hoje ministro da Fazenda do governo Lula.
Eleuses e Caio França tiveram duas reuniões e o deputado de oposição foi convidado para participar da cerimônia de sanção do projeto de lei ao lado de Tarcísio.
Nesta semana, diante do que ficou marcado como uma “barbeiragem” do governo, o veto ao projeto de lei que permitia a prorrogação de laudos que atestassem autismo em pacientes, também coube a Eleuses atuar para atenuar os danos.
O secretário gravou um vídeo e deu entrevistas dizendo que o governo “errou” ao vetar a medida – que ocorreu após técnicos da secretaria escreverem que o autismo poderia “deixar de existir” se diagnosticado precocemente, o que é rechaçado por especialistas. Tarcísio seguiu o mesmo caminho e divulgou um “erramos” em suas redes sociais.
A estratégia foi afastar a ação de qualquer conotação ideológica, tratando o caso como um erro técnico. A falha foi atribuída a uma falta de clareza na redação da justificativa do veto ao projeto, seguida de promessas de diálogo com a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) para “aperfeiçoar” a proposta.
“Erramos. É importante esclarecer que o entendimento do Governo de São Paulo é que o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista é permanente e, portanto, os direitos serão definitivos. Falhamos ao deixar passar uma redação que não deixasse clara essa postura”.
— Tarcísio Gomes de Freitas (@tarcisiogdf) February 10, 2023
Diplomacia
A habilidade política do secretário vem de três mandatos na Câmara dos Deputados — entre 2005 e 2011 e entre 2019 e 2022 — e como vice-prefeito de São José do Rio Preto. Ele também fez carreira em associações médicas — foi presidente da Associação Médica Brasileira — e ocupou cargos de direção na Faculdade de Medicina de Rio Preto, onde lecionou.
Com a ministra Nisia, o secretário já teve duas reuniões, uma em Brasília e uma em São Paulo, na terça-feira (7/2). Ambas foram tocadas com a preocupação de deixar a ministra confortável. O governo paulista vem buscando formas de financiar a ampliação do número de cirurgias, que ficou represada durante a pandemia.
“Fico satisfeito porque estamos na mesma sinergia, já que nossas prioridades são as mesmas que as do governo federal. Quem ganha com isso é a população de São Paulo e do país”, disse o secretário à ministra. “Tenho certeza que faremos uma parceria de muito sucesso e com muitas ações pela frente”, respondeu Nisia.
Com a OPAS, a reunião foi com a representante da entidade no país, Socorro Gross, quem Eleuses recebeu em seu gabinete e depois acompanhou em uma visita ao Instituto Butantan, que fornece vacinas para vizinhos da América Latina. A visita foi na semana passada.
Na conversa, o secretário falou mais de uma vez a palavra “parceria” e chamou a OPAS de uma instituição de “excelência”. Ouviu da representante internacional que era uma “obrigação” da OPAS apoiar iniciativas paulistas.