Salles: “Tentam me rotular de radical, mas não sou radical em nada”
Ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, deputado Ricardo Salles quer se viabilizar no PL para ser candidato a prefeito de SP em 2024
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – Quarto deputado federal mais votado de São Paulo, Ricardo Salles (PL) iniciou seu primeiro mandato em Brasília de olho na Prefeitura da capital paulista. Aos 47 anos, o ex-ministro do Meio Ambiente tenta convencer o partido comandado por Valdemar Costa Neto de que a sigla precisa lançar um candidato bolsonarista a prefeito de São Paulo nas eleições de 2024, e que seu nome é o mais competitivo.
Salles recebeu a reportagem do Metrópoles em sua casa, no bairro dos Jardins, na capital paulista, na tarde da última sexta-feira (17/3). Horas antes, havia sido anfitrião de um encontro com dez deputados bolsonaristas para alinhar a estratégia eleitoral e tentar “viabilizar a candidatura”. Disse que recebeu essa “oportunidade” de Valdemar, que flerta com a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Em tom conciliador, o ex-ministro de Jair Bolsonaro pregou uma campanha equilibrada e “sem radicalismos” por parte da direita. Ele considera que o deputado Gulherme Boulos (PSol) é o adversário a ser batido na disputa pela Prefeitura. Na condição de parlamentar de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), declarou não ter problema em apoiar projetos governistas se eles forem positivos para o Brasil.
“Eu nunca fui radical. As pessoas, para se oporem a mim, tentam me rotular de radical, mas eu não sou radical em nada. Eu sou firme nas minhas convicções, é diferente. Radical não é isso, o radical não trabalha na racionalidade e eu trabalho com coisas racionais”, disse ele.
Leia a entrevista concedida por Ricardo Salles ao Metrópoles:
Após quatro anos de governo Bolsonaro, como o senhor e os demais parlamentares bolsonaristas pretendem atuar na oposição ao governo Lula? Existe espaço para diálogo?
Nós sofremos durante esses quatro anos do governo do presidente Bolsonaro uma oposição ferrenha, com temas que poderiam ter sido temas de consenso barrados por mera oposição política. Entendo que isso foi ruim para o Brasil. Não posso falar por todos os deputados bolsonaristas, mas posso falar por uma boa parte, que nosso interesse não é repetir essa oposição radical e absolutamente irracional. Pelo contrário: temos o compromisso de que, se houver propostas boas que mereçam ser apoiadas, apoiaremos. Agora, aquilo que for ruim para o Brasil, nós vamos nos posicionar contra e não há pressão do governo que nos convença do contrário. Ninguém do nosso grupo está interessado em cargo, verba, favores ou benesses do Estado. Isso não aconteceu nem quando o Bolsonaro era presidente, que dirá agora que nós somos oposição.
O senhor já se lançou como pré-candidato a prefeito de São Paulo nas eleições de 2024. É uma decisão irreversível?
A grande dificuldade, neste momento, está em garantir que o PL terá um candidato próprio e que esse candidato corresponda às aspirações de um partido que, graças aos bolsonaristas, fez a maior bancada da Câmara dos Deputados. Entre os cinco mais votados em São Paulo, quatro são bolsonaristas. Isso ajudou a eleger grande parte dos não-bolsonaristas. Um partido que teve esse desempenho precisa ter candidato próprio. Eu sou paulistano, tive duas experiências no governo estadual, conheço a cidade muito bem, fui ministro e fui o quinto deputado mais votado do Brasil. Como é que vamos abrir mão de tudo isso e vamos ser vice, ou nem isso? Seria um desrespeito com os nossos eleitores. Precisamos de uma campanha muito equilibrada, sem radicalismo, mas com princípios e valores, sobretudo no momento em que no outro espectro político temos um Guilherme Boulos que representa tudo com o que nós não concordamos.
“Se existe um espectro da política brasileira com o qual eu discordo integralmente e não acho que tenha um único ponto de coincidência é com o Guilherme Boulos. Então, a contraface da visão do Boulos é a visão do Ricardo Salles.”
Se o PL decidir não ter candidatura própria à Prefeitura da capital, pensa em mudar de partido só para disputar a eleição?
Não estou considerando essa hipótese, no momento, pelo fato de que o próprio Valdemar disse há duas semanas que eu tenho a liberdade de me colocar como candidato e de fazer todas as medidas e todo o esforço para me viabilizar. Na medida em que o próprio presidente do partido me dá essa oportunidade, eu também deixo de lado essa consideração sobre sobre mudança de partido. Eu acho que, se ele me deu a oportunidade de me viabilizar como candidato, agora o meu papel é fazer a viabilização.
O senhor se reuniu nesta sexta-feira (17/3) com deputados bolsonaristas para discutir a estratégia para a campanha de 2024. O que foi decidido nessa reunião?
Foi um café da manhã nesta mesa aqui [aponta para a mesa onde ocorre a entrevista]. Vieram deputados federais e estaduais. Discutimos a Prefeitura de São Paulo e chegamos a dois consensos. O primeiro deles é que o PL tem que ter um candidato bolsonarista. O segundo é que não achamos que deva ser considerada a possibilidade de apoiar o [prefeito] Ricardo Nunes. Entendemos que o Nunes não nos representa e que não reúne as características para ser um candidato apoiado pela direita. Isso também exclui a possibilidade de indicar um vice para o Nunes. Claro que essa não é uma decisão, não cabe a nós tomar essa decisão. A decisão do partido é do Valdemar.
Por que o prefeito Ricardo Nunes não reúne as características de um candidato de direita?
Por várias razões. Mas a primeira é que o partido dele está intrinsecamente ligado ao governo do Lula.
“O Nunes é Lula. O MDB, o partido dele, é base do governo Lula, tem ministérios no governo Lula e pessoas ligadas historicamente ao Lula tem cargos relevantíssimos no governo do Ricardo Nunes.”
O primeiro escalão do Nunes inclui gente que vem, inclusive, do PT, como, por exemplo, a Marta Suplicy [secretária municipal de Relações Internacionais, ex-petista e filiada ao MDB]. Além disso, o Ricardo Nunes não tem, enquanto prefeito, uma trajetória que corresponda às bandeiras desse movimento conservador de direita. Ele não trabalha por uma cidade moderna para o mercado, que valoriza o papel do setor privado. O governo dele é muito mal avaliado, é um governo que tem R$ 20 bilhões ou R$ 30 bilhões em caixa e a cidade está péssima. Não tem nem a desculpa de dizer que não tem dinheiro, porque ele está cheio de dinheiro e ainda assim a cidade está um lixo.
Ainda sobre a reunião com os deputados bolsonaristas, o ex-presidente Jair Bolsonaro participou por videochamada. Vocês mantêm contato frequente? Qual a avaliação dele sobre o atual cenário político no Brasil?
Falo com ele pelo menos uma vez por semana. O presidente tem apontado as contradições do governo do Lula. Ele tem citado, por exemplo, o aumento do desemprego, dos problemas de segurança, de impostos, o encarecimento de vários itens importantes do dia a dia das pessoas e comenta os escândalos do primeiro escalão do governo, que conta com esse loteamento da máquina pública. Eu acho que o Bolsonaro está deixando o Lula mostrar a que veio. Nesses primeiros 100 dias do governo, a gente tem visto uma decepção tremenda. A economia anda muito mal e uma grande parte das pessoas, principalmente no mercado financeiro, que “fez o L”, como a gente brinca, e deu um voto de confiança ao Lula, já se decepcionou. Há críticas muito severas a esse caminho econômico totalmente equivocado.
Alguns aliados, como Carla Zambelli, disseram que Bolsonaro deveria estar no Brasil ajudando na oposição ao governo Lula. O senhor concorda?
Acho que ele tem que vir no timing dele. Tem questões políticas e pessoais que ele sabe avaliar melhor do que qualquer um, portanto o timing do regresso do Bolsonaro só ele pode determinar. Acho um assunto que cabe única e exclusivamente a ele. Qualquer um que quiser pressioná-lo ou a ficar lá ou a voltar estará incorrendo em erro. Ele é que tem que ter o tempo dele, decidir quando ele quer voltar e por que quer voltar.
Como o senhor avalia a gestão do prefeito Ricardo Nunes? Qual o maior problema da cidade de São Paulo hoje?
A zeladoria da cidade é uma vergonha. A cidade está suja, cheia de moradores de rua espalhados, sem acolhimento, sem a menor perspectiva, toda esburacada. Estão fazendo um programa de recapeamento que é uma maquiagem, basta ver que, onde choveu forte, o recapeamento já foi embora. A parte de infraestrutura da cidade sofreu quase toda com as enchentes desse período. Mesmo com o dinheiro, ele não se preparou para as chuvas. O transporte também está péssimo, assim como a iluminação pública. Há um emaranhado de fios soltos, não há preocupação em enterrá-los. É inexplicável ter R$ 30 bilhões em caixa e a zeladoria estar assim. O Nunes é refém dos grupos que controlam esta prestação de serviços: lixo, caçambas, asfalto, transportes. São grupos de interesse que controlam a Prefeitura de São Paulo há muito tempo e é necessário romper com tudo. Não há um choque de gestão. Acho que São Paulo precisa ter um movimento semelhante ao que houve em Nova York, com o Rudolph Giuliani, na década de 1990, com aquele programa de Lei e Ordem, de Tolerância Zero. É necessário um choque firme para a cidade realmente se enquadrar. Outro ponto importante é o IPTU da cidade, que não para de subir. Com mais de R$ 30 bilhões em caixa, é possível cortar o IPTU e dar um desconto de até 50% por dois anos para desafogar a sociedade.
Nunes recentemente contratou o marqueteiro Duda Lima, homem de confiança do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Como avalia essa estratégia?
O Duda Lima é um prestador de serviço. Como todo prestador de serviço, ele vai para onde há demanda da contratação dele. Se você me perguntar se o Ricardo Nunes tem segundas intenções, do ponto de vista de trazer o PL para o lado dele ao contratar o marqueteiro do PL, eu acho que tem. É claro que tem. Mas não quer dizer que o PL vá com o Nunes só porque ele contratou o Duda Lima.
Nas últimas eleições municipais, em 2020, Bolsonaro, mesmo no poder, não foi um cabo eleitoral influente. Acredita que isso pode ser diferente em 2024?
O presidente Bolsonaro, em 2020, tinha decidido não participar ativamente das eleições e não apoiar candidatos. Essa era a decisão original. Depois, por influência de alguns assessores, tomou a decisão de apoiar, no Rio, o Marcelo Crivella e, em São Paulo, o Celso Russomanno. Ambos perderam a eleição não por culpa do Bolsonaro, mas porque aqueles que o aconselharam a apoiar esses nomes não souberam ler o quadro político. Espero que esses mesmos assessores, desta vez, não tentem influenciar o presidente Bolsonaro com essa narrativa de que a direita em São Paulo não ganha e que tem que apoiar o Ricardo Nunes. Essa narrativa é errada.
Diante da polarização política muitos candidatos estão preferindo se colocar mais ao centro. Como pretende driblar isso para reunir apoio de quadros fora do bolsonarismo?
Acho que há três mundos em jogo nessa eleição. Há uma visão de uma esquerda ultrapassada, anticapitalista e antiempreendedora, que é a visão do Guilherme Boulos. Há também o Ricardo Nunes, que representa justamente o establishment e todos esses grupos de interesse que capturaram a máquina pública municipal há décadas. E você tem a possibilidade, do lado de cá, de ter uma candidatura com meu nome ligada ao livre mercado, empreendedora, que busca uma cidade dinâmica e inspirada nas coisas modernas do capitalismo mundial que deram certo. Não se trata de uma briga entre direita e esquerda, mas, sim, de implementar aqui uma visão moderna do que deu certo no mundo inteiro. Se não for Ricardo Salles, que seja de um candidato alinhado com essa visão moderna, embora eu não tenha vislumbrado, até o momento, nenhum outro candidato que seja viável eleitoralmente, que tenha o apoio do Bolsonaro e que tenha votos o suficiente.
Não existe nenhum outro nome no campo da direita hoje que poderia brigar por essa candidatura à Prefeitura de São Paulo?
Não vejo, porque os dois candidatos que tiveram mais votos que eu aqui na cidade e neste campo de cá, o Eduardo Bolsonaro e a Carla Zambelli, não são candidatos. No Executivo, não temos gente se colocando à disposição. Então não, não estou vendo nenhum nome melhor que o meu no campo da direita, no campo liberal, para ser candidato. Para a eleição não ficar só entre esses dois polos [Nunes e Boulos], a direita precisa ter candidatura e mostrar para a sociedade que não se trata de ser radical, não se trata de ser intransigente. Trata-se de ser firme, que é muito diferente de ser radical.
O senhor diz que o Nunes é o candidato do establishment, mas também coleciona anos na política. O senhor já foi secretário no governo de Geraldo Alckmin, ministro do governo Bolsonaro. Por que se considera um nome do antiestablishment?
Eu não represento nenhum grupo de prestadores de serviço da cidade. Não sou representante dos grupos que prestam serviços de transporte, recapeamento, iluminação pública. Sou ligado ao setor privado que presta bom serviços, a pessoas da política com uma visão empreendedora, uma visão de liberdades individuais. Inclusive para que a turma da esquerda possa ter na cidade de São Paulo os seus espaços. Não se trata de transformar a cidade de São Paulo num polo conservador, se trata de transformar a cidade num polo de eficiência, de respeito à propriedade privada, de qualidade dos serviços públicos prestados e de combate à corrupção. Houve uma captura, e essa palavra é muito importante, da cidade de São Paulo pelos grupos de interesse desses serviços.
Mas como o senhor faria para retirar esses supostos grupos de interesses?
Vou lhe dar um exemplo. Quando houver uma licitação de iluminação, você tem que pegar o melhor modelo do mundo de iluminação pública e aplicar esse modelo na cidade. E não colocar na cidade o modelo que os fornecedores querem colocar.
O senhor já pensa em algum nome para ser vice na sua chapa?
Lá na frente, se eu tiver legenda e me firmado como candidato, eu vou dizer quem é o meu vice.
Mas já tem alguma conversa pelo menos? É homem ou mulher?
Eu tenho, mas não posso falar porque seria deslealdade com a pessoa. Tem mulher e tem homem. Me desculpe, mas ainda não posso dizer.
Na sua opinião, qual deve ser o principal adversário nas eleições de 2024?
O Boulos. Ele foi muito bem votado na capital. Ele vem já há algumas eleições trabalhando na capital, ele tem um histórico na capital e ele certamente terá o apoio do Lula, se o PT não puxar o tapete dele. Qual é a questão chave? Se a economia estiver bem, o Lula é um forte palanque para o Boulos. Se a economia não estiver bem, que é o que parece estar acontecendo, o Lula será um peso para o Boulos. Mas isso o tempo é que vai dizer. O fator econômico vai ser determinante nisso, no quanto o Lula terá de influência sobre o Boulos. Economia indo bem significa influência positiva. Economia indo mal, influencia negativa.
Não se preocupa com nenhum outro nome? Nem com o próprio Nunes?
O meu problema, hoje, em relação ao Nunes, é a capacidade dele de atrair a legenda do PL para ele. Uma vez superada essa questão de legenda, acho que, eleitoralmente, a disputa contra o Nunes não é problema.
O senhor espera o apoio do governador Tarcísio de Freitas na sua campanha?
Tarcísio foi eleito pelos bolsonaristas, pelos eleitores do Bolsonaro. Portanto, é natural que o Tarcísio esteja onde estão os eleitores do Bolsonaro. Eu entendo que, se eu for candidato, os eleitores do Bolsonaro estarão do meu lado, porque o ministro do Bolsonaro fui eu, a pessoa que é alinhada ao presidente Bolsonaro e tudo aquilo que sustentou a eleição do Tarcísio no estado é o mesmo público que o meu. Mas cabe ao próprio Tarcísio escolher o momento oportuno de apoiar algum candidato, até porque ele precisa ter uma boa relação com o executivo municipal. Tomar partido neste momento, seja de um, seja de outro, só tende a atrapalhar a administração do Tarcísio e entendo a posição dele em não se manifestar agora. Precisamos aguardar um pouco o desenrolar dessa viabilidade eleitoral que o Valdemar me permitiu. Se eu estiver bem na campanha, é um incentivo para o Tarcísio me apoiar. Se eu não estiver bem posicionado, talvez seja um incentivo para ele não me apoiar. Mas isso o tempo é que vai dizer, não dá para dizer agora.
Alguns aliados do senhor manifestaram incômodo com o pouco espaço que o Tarcísio tem dado aos bolsonaristas no governo. O senhor concorda que eles têm sido preteridos?
O que ocorre é que a base política que dá sustentação ao governo é uma base ampliada, que conta com os bolsonaristas, mas também inclui outro grupo. Tarcísio terá que medir esse equilíbrio entre os bolsonaristas que carregaram a campanha dele para ele ser eleito, e os outros, que representam uma força política também, mas que não foram da campanha. Muitos, inclusive, apoiaram Rodrigo Garcia. É o caso do próprio presidente da Assembleia, o André do Prado, que no primeiro turno apoiou o Rodrigo abertamente. Esse xadrez da direita com as outras forças é algo que o Tarcísio vai, acho eu, ter que a todo momento mensurar e equilibrar.
Mas o senhor vê o Tarcísio se distanciando do bolsonarismo?
Acho que quem sente muito isso na pele são os deputados estaduais, que obviamente gostariam de ter mais espaço no governo, até porque dependem politicamente dessa aliança com o governo do estado e talvez não tenham tido, até agora, oportunidade de ter o espaço que eles querem. Tenho a impressão que o Tarcísio vai rever isso em algum momento, mas é só ele que vai poder dizer.
O senhor foi contemporâneo do Alexandre de Moraes no governo de São Paulo e depois foi alvo de um inquérito relatado por ele no STF. Qual a sua opinião sobre a atuação dele à frente dos inquéritos dos atos antidemocráticos e das fake news?
Acho que houve de maneira geral no Brasil, durante esses quatro anos, um acirramento muito grande das visões e das das instituições. Um avanço das decisões do Poder Judiciário sobre as prerrogativas tanto do Executivo quanto do Legislativo. E também, em razão desse avanço, críticas ao poder Judiciário e, digamos assim, ataques ao poder Judiciário que, na minha visão, também ultrapassaram o limite. Acho que todos se excederam. A frase que melhor representa o que deveria prevalecer nesse momento é a frase do Marco Aurélio Mello, de que é necessária autocontenção das autoridades. Isso é necessário para relevar questões passadas, disputas, mágoas e olhar para frente. Assim, podemos permitir que o Brasil tenha essa pacificação. Mas essa pacificação só virá com uma simultânea autocontenção de todos se continuar essa disputa, essa briga, essa exacerbação dos ânimos.
Quando diz que todos se excederam, isso inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro?
Eu acho que todos nós, autoridades públicas e instituições, vivemos um crescente depois do período do impeachment da Dilma Rousseff, da Operação Lava Jato e da mudança de poder, de aumento da adrenalina e da testosterona. Isso trouxe consequências para o relacionamento entre as autoridades. Mas agora é o momento de recolher, de se acalmar, deixar a poeira abaixar e as pessoas se respeitarem e autoconterem. O presidente Bolsonaro já comentou que, algumas vezes, falou coisas que depois, pensando, ele não teria falado. Tenho certeza de que também membros do Legislativo adotaram posturas em relação ao Executivo da qual depois se arrependeram. A classe política, especialmente no Legislativo, começou a recorrer ao Judiciário para tudo, e não é correto você querer resolver no tapetão, fora da política, questões que são eminentemente da política.