As 6 ações de Tarcísio que prenunciam o “divórcio” do bolsonarismo
Governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas tem buscado se afastar de posições radicais do padrinho político Jair Bolsonaro
atualizado
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São Paulo – Mais do que declarar publicamente que nunca foi um “bolsonarista raiz”, como fez em entrevista nesta semana, o governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem adotado medidas que indicam um afastamento gradual do bolsonarismo, força política que foi decisiva para sua eleição em outubro.
Desde a vitória nas urnas, Tarcísio já deu vários sinais de que pretende apartar seu governo em São Paulo das batalhas ideológicas que marcaram os quatro anos de mandato de seu padrinho político, o presidente Jair Bolsonaro (PL), e tensionaram o país.
Essas sinalizações aparecem tanto em gestos de aproximação com autoridades do Judiciário defenestradas pelos bolsonaristas, como na montagem da equipe do futuro governo paulista. Nos bastidores, já tem aliado do presidente Bolsonaro apostando em um iminente “divórcio” do ex-ministro bolsonarista.
A seguir, o Metrópoles lista seis ações de Tarcísio que tem afastado, cada vez mais, o governador eleito do bolsonarismo.
1. Soberania das urnas
Logo em seu primeiro pronunciamento como governador eleito, horas após a vitória sobre o petista Fernando Haddad no segundo turno, no dia 30 de outubro, Tarcísio enfatizou a legitimidade do processo eleitoral não apenas na sua conquista, como também no triunfo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Bolsonaro na corrida presidencial. “O resultado das urnas é soberano”, afirmou na ocasião, ante o silêncio de seu padrinho político.
2. Respeito à ciência
Ao contrário de Bolsonaro, que demitiu dois ministros da Saúde que discordavam da sua postura negacionista, Tarcísio escolheu nomes que respeitam a ciência para comandar a área em São Paulo. O médico e ex-deputado Eleuses Paiva será o Secretário da Saúde. Durante a pandemia, ele foi defensor do uso de máscaras, do distanciamento social e da vacinação, e crítico à falta de diálogo do governo federal com os estados.
Já o infectologista Esper Kallás foi o escolhido para chefiar o Instituto Butantan, órgão vinculado ao governo paulista que viabilizou a chegada da primeira vacina contra o coronavírus, a Coronavac, bastante atacada por Bolsonaro. Durante a pandemia, Kallás fez uma série de críticas à postura do governo bolsonarista no enfrentamento da Covid.
3. Diálogo com oposição
Diferentemente da posição belicosa de Bolsonaro em relação a seus adversários políticos, especialmente o PT, Tarcísio e integrantes de sua equipe já afirmaram que terão uma “relação institucional” com o governo Lula, com quem defendeu diálogo logo no primeiro discurso como governador eleito.
4. Aproximação com STF
Desde o início da transição de governo, Tarcísio tem ignorado a repulsa bolsonarista a alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e tem se aproximado do representantes do Judiciário. O governador eleito já foi flagrado jantando durante um evento na mesma mesa que o ministro Luís Roberto Barroso e, mais recentemente, teve um encontro reservado com o ministro Alexandre de Moraes, no apartamento do magistrado, em São Paulo.
Tanto Barroso quanto Moraes, ex e atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), são tratados como inimigos pelos bolsonaristas. “Não vou fazer o que erramos no governo federal de tensionar com Poderes. Vamos conversar com ministros do STF”, disse Tarcísio sobre o tema, em entrevista à CNN na última segunda-feira (5/12).
5. Recuo de bandeira bolsonarista
Durante a campanha eleitoral, Tarcísio encampou uma das bandeiras bolsonaristas em São Paulo e prometeu retirar as câmeras de monitoramento do uniforme dos policiais militares, com o argumento de que elas inibem a ação policial e beneficiam os criminosos. Após ser eleito, o futuro governador recuou da promessa e disse que irá manter os equipamentos nas fardas.
6. Resistência à influência do clã Bolsonaro
Dos dez secretários anunciados até agora, apenas um tem vínculo genuíno com o bolsonarismo: o deputado federal Guilherme Derrite (PL-SP), conhecido como Capitão Derrite, que será o Secretário da Segurança Pùblica. Ainda assim, bolsonaristas próximos ao presidente da República consideram o parlamentar como cota pessial de Tarcísio, por causa da boa relação de Derrite com o governador eleito e alguns de seus amigos.
Tarcísio tem recebido pressão para nomear indicados do clâ Bolsonaro no primeiro escalão, como a vereadora paulistana Sonaira Fernandes (Republicanos), ex-assessora do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho 03 do presidente. O nome dela foi sugerido para assumir a Secretaria da Mulher e dos Direitos Humanos, mas Tarcísio vem demonstrando resistência à indicação. Para esse cargo, auxiliares próximos ao governador eleito apostam no nome da deputada federal Rosana Valle (PL-SP), que, embora também seja da base bolsonarista, não é vinculada ao clã.