Policial que reagiu a roubo e filmou dupla: “Não atirei para matar”
Policial penal Fernando Antonio da Costa relata ao Metrópoles como aconteceu o assalto que terminou com um bandido morto e outro baleado
atualizado
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São Paulo — Vítima de uma tentativa de assalto, o policial penal Fernando Antonio da Costa, de 44 anos, afirma que só decidiu reagir porque foi ameaçado de morte e não atirou com intenção de matar os ladrões. Um dos criminosos morreu no local e outro foi socorrido com vida.
Ao Metrópoles, o policial penal relata ter sido perseguido pelos assaltantes por cerca de quatro quilômetros e que tentou despistá-los, mais de uma vez, antes de atirar. Fernando já estava no portão de casa, em Sapopemba, na zona leste da capital paulista, na hora em que sacou a arma e reagiu (veja abaixo). Ele não se feriu.
“Em nenhum momento, eu atirei para matar. A minha intenção era evitar ser ferido ou morto no assalto. Só pensei em me defender da injusta agressão, nada mais do que isso”, afirma o policial.
“Depois que aconteceu, meu pensamento foi todo na minha filha. Foi na frente da minha casa. Minha filha ouviu o barulho de tiro, viu a minha moto pela câmera, mas não me viu. Ela ligou desesperada para minha esposa: ‘Cadê o papai?’.”.
O episódio seria o quarto assalto que Fernando sofreu em São Paulo – o primeiro trabalhando como policial penal. Na primeira vez, criminosos roubaram a sua moto, no meio do trânsito, em 2002. Ele ainda perdeu dois carros – um ao parar em um farol e outro na porta de casa – após ser rendido por ladrões.
Assalto
Na tarde desta quinta-feira (14/12), Fernando saiu do plantão em uma cadeia na Grande São Paulo e notou, na metade do caminho de volta para casa, que estava sendo perseguido. Em sua cola, estavam Luan Souza Santos, 20 anos, e um adolescente infrator.
“Quando eu estava parado em um farol, percebi que eles chegaram muito perto e o garupa tentou se levantar da moto. Furei o farol vermelho e tentei fugir daquela situação”, relata. Em outro cruzamento, mais à frente, o policial também voltou a acelerar para despistar os ladrões. “Por um instante, achei que tinha conseguido fugir do perigo. Mas, quando desci da moto para abrir o portão de casa, os dois chegaram e já ouvi os berros”.
Fernando conta que os criminosos o abordaram aos gritos de “Perdeu, perdeu”. Em seguida, um deles teria feito a ameaça e posto a mão na cintura: “Se tentar, vai tomar! Se tentar, vai tomar!”. Foi nesse momento que o policial reagiu, segundo relata. Só no desfecho da ocorrência a vítima descobrira que a dupla, na verdade, não estava armada.
“Procuro sempre ser legalista”, diz. “Atirar era o único jeito daquilo parar e eu não ser alvejado. Até porque eu sou policial penal e ando armado. Se eles tomassem a minha arma, iam me matam com ela.”
A arma usada para reagir ao assalto é particular e tem capacidade para efetuar 16 tiros. Na ocorrência, Fernando realizou três disparos. Um dos ladrões, Luan, morreu na hora. O outro, menor de idade, ficou ferido e foi imobilizado pelo policial até a chegada de reforço.
Reação
Com curso de tiro e treinamento, o policial penal orienta as pessoas a não reagir a assaltos. “Eu corri um risco enorme. Se eles tivessem oportunidade de atirar em mim, teriam atirado”, afirma.
“Existe uma dinâmica, o tirocínio, que se aprende na polícia. Sem compreender a situação ou ter plena segurança do que vai fazer, não deve reagir. Se agir com emoção, você pode acabar errando o bandido e acertando um cidadão. É um peso muito grande para carregar”.
Segundo relata, sua primeira ação após balear os criminosos foi chamar a Polícia Militar (PM) e acionar a ambulância para resgatá-los. Em seguida, avisou o diretor da sua unidade sobre a ocorrência e gravou o vídeo que viralizou nesta sexta-feira (15/12).
“Fiz o vídeo para ele entender a dinâmica do que estava ocorrendo. Talvez pelo meu nervosismo ao relatar, ele poderia não ter entendido o ocorrido.”
Crime comum
Fernando é policial penal desde junho de 2022 e trabalha em um Centro de Detenção Provisória (CDP). Antes, ele atuou por nove anos como agente socioeducativo na Fundação Casa, instituição voltada a jovens infratores em São Paulo.
Para o agente, a principal hipótese é que ele tenha sido vítima de um crime comum – e não uma retaliação ligada à sua função no sistema penitenciário.
“Nunca tive nenhum problema no trabalho, seja com uma pessoa privada de liberdade ou com algum colega de trabalho”, afirma.
Segundo relata, um dos PMs que atenderam a ocorrência chegou a perguntar para o menor infrator o motivo da perseguição. “Ele falou: ‘Não, senhor, a ideia era tomar a moto, era roubar mesmo’”, diz.
O adolescente foi levado para o hospital e não corre risco de morte, de acordo com o boletim de ocorrência.