Abordagem polêmica: policial já deu tiro em casa e ameaçou a irmã
Policial Paulo Kim já teve arma apreendida em processo que começou com denúncia da irmã e admitiu tiro na casa da mãe; caso foi arquivado
atualizado
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São Paulo – Identificado como o homem que apontou uma arma para um jovem negro suspeito de tentar praticar um assalto em frente a uma estação do Metrô no último domingo (12/11), na zona norte de São Paulo, o investigador da Polícia Civil Paulo Hyun Bae Kim, de 50 anos, já foi denunciado pela própria irmã em um caso de violência doméstica, admitiu ter feito um disparo dentro da casa de sua mãe e teve a pistola apreendida.
Nessa quarta-feira (15/11), o ouvidor das polícias de São Paulo, Claudio Aparecido da Silva, disse que vai pedir o afastamento e o desarmamento do policial Paulo Kim por causa do novo episódio, que foi filmado. No vídeo (veja abaixo), o investigador está com a família e não se identifica como policial. O jovem sob a mira da arma, que é acusado de tentar praticar um assalto, caminha em direção a uma policial militar fardada, que assiste à cena. Testemunhas pedem que ela faça uma intervenção. Ela diz que está de folga e ainda chuta o rapaz.
O Metrópoles teve acesso a documentos que mostram o histórico de problemas envolvendo Paulo Kim, considerados “graves” pelo ouvidor das polícias. Aos 50 anos, ele ganha salário de R$ 9 mil como investigador, é sócio da irmã – a mesma que o denunciou no passado – em uma empresa de administração de bens e também atuou em uma empresa de táxis da família.
Tiro dentro de casa
Na tarde do dia 14 de outubro de 2013, a irmã do investigador compareceu à Corregedoria da Polícia Civil e afirmou, em depoimento, que, após uma discussão, Kim ligou para ela e disse que estava a caminho de sua casa, onde morava com sua mãe. Ela disse ter se escondido no banheiro porque ele tinha histórico de violência e chegou, em outra ocasião, a apontar uma arma para ela.
Atrás da porta, afirmou ter ouvido sua mãe gritar e, em seguida, um disparo de arma de fogo. Após o estampido, disse ter acudido sua mãe e percebeu que havia hematomas em seu braço. Durante o depoimento, o delegado fez constar que a irmã de Kim “recebeu uma ligação de Paulo, quando este passou a ameaçá-la”. “Agora o bicho pegou para você, para a Kelly e para o gordo também, vou quebrar vocês três”, disse o policial ao telefone, segundo o registro.
O delegado destacou no registro que a conversa por telefone foi realizada por “viva voz” e que ele e a escrivã também ouviram o que o investigador disse à irmã. Na época, a polícia foi levada até a casa da irmã de Kim e sua mãe, onde constatou supostas marcas de tiros na parede e um projétil no chão. O porteiro do prédio também entregou aos investigadores um estojo vazio que foi encontrado enquanto varria a área comum do condomínio.
A polícia registrou que, por cautela, uma arma de fogo localizada na casa foi apreendida. A pistola estava “municiada e apta a pronto emprego”, segundo identificaram os investigadores. Consta em um banco de dados do Ministério Público de São Paulo (MPSP) que Kim foi denunciado em razão desse inquérito. O processo está em segredo de Justiça e, em 2015, a Justiça reconheceu a prescrição das acusações. Ele havia sido denunciado por ameaça, com o agravante de ter sido cometida contra vítima que estava sob proteção de autoridades.
Disparo por “fadiga”
Em depoimento à polícia, o investigador Paulo Kim disse que, três dias antes da briga, sua irmã teria mandado uma mensagem chamando sua namorada de “vagabunda”. Kim disse que ligou para a irmã para tirar satisfação, mas que ela desligou o telefone na hora. Ele relata ter ido até o prédio dela e que teve de subir 11 andares de escada porque o elevador estava quebrado. Em razão da “fadiga”, continua ele, acabou atirando acidentalmente quando chegou ao apartamento.
À polícia Paulo Kim também admitiu a ligação telefônica para a irmã durante o depoimento à Corregedoria. Ele disse que não “falou em tom de ameaça, mas no sentido de justiça divina pela maldade” que sua irmã, uma amiga, e um primo que a acompanhavam estavam “fazendo com ele”. Ele disse que desde 2006 sua irmã tentava se apropriar dos bens que seria a herança da mãe de ambos.
No decorrer da investigação, uma grande reviravolta fez com que a história terminasse cheia de versões contraditórias e acabasse sendo arquivada pela Corregedoria. A amiga que estava com a irmã de Kim no depoimento à polícia e presenciou a ligação telefônica compareceu à polícia, disse que havia rompido a amizade com a irmã do investigador e desmentiu toda a denúncia. Disse ainda que não se sentia ameaçada pelo policial, que jamais soube de qualquer agressão física e que a irmã dele tinha “comportamento bipolar”.
A mãe do investigador disse, em depoimento à polícia, que o tiro foi acidental, e que “em momento algum foi agredida ou ameaçada por Paulo”. Ainda contou que a própria filha “apresenta distúrbios psicológicos quando está de TPM, fazendo inclusive uso de medicação para tanto, fazendo acompanhamento psicológico”. Afirmou também que a denúncia não aconteceu e que a filha que denunciou o irmão teve “uma crise de ciúmes”.
Em agosto de 2017, o investigador Paulo Kim foi absolvido no processo administrativo disciplinar por falta de provas.
A sociedade milionária
De alguma forma, a família continuou unida, inclusive por elos societários. Paulo Kim é sócio da irmã e da mãe na empresa Santana & Kim Gestão Patrimonial, cuja finalidade é administração de bens pessoais. A empresa tem capital de R$ 2,4 milhões. Os irmãos têm, juntos, uma participação de R$ 488 mil – em agosto deste ano, inclusive, os irmãos aumentaram seu capital na companhia.
A mãe da dupla tem a maior parte da sociedade, e suas cotas estão representadas por dois imóveis. Ela também é sócia de Paulo em uma empresa de táxis. Em um processo trabalhista, ele aparece como seu preposto. Também é citado pelo autor da ação, que diz ter sido funcionário e afirmou à Justiça que parte de seu salário era pago por fora. Os depósitos eram feitos por Paulo, o que serviu para condenar a empresa na Justiça.