Policial preso tem tia corregedora e acreditava estar acima da lei
Levantamento mencionado por promotores mostra que chefe de investigações Eduardo Monteiro acreditava que parentesco o blindava
atualizado
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São Paulo — O chefe de investigações Eduardo Monteiro, preso nessa terça-feira (18/12) em uma ação conjunta da Polícia Federal e Ministério Público de São Paulo (MPSP), acreditava estar acima da lei pelo fato de ser sobrinho da corregedora-geral da Polícia Civil, Rosemeire Monteiro de Francisco Ibanez.
A informação consta no pedido de prisão contra ele e outros policiais, obtido pelo Metrópoles, os quais formam, de acordo com a Promotoria paulista, um núcleo criminoso que atuava em parceria com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPSP, afirma, no pedido de prisão encaminhado à Justiça, que Eduardo Monteiro não temia “qualquer investigação” por parte da Corregedoria da Polícia Civil, “uma vez que sua tia seria corregedora, dando a entender que ele tem plenas condições de influenciar eventuais investigações de infrações funcionais”.
Além disso, como já mostrado pelo Metrópoles, Eduardo Monteiro estaria envolvido na retirada do nome de suspeitos de um inquérito policial que investigava o assassinato de dois membros do PCC, crime pelo qual também era investigado o corretor de imóveis Vinícius Gritzbach — executado no Aeroporto Internacional de São Paulo, na região metropolitana, em 8 de novembro.
Antes de ser assassinado, Gritzbach fez um acordo de delação premiada, prestando depoimento que foi usado para investigar e prender Eduardo Monteiro e mais três policiais civis — o delegado Fábio Baena, o chefe de investigações do Corpo Especial de Repressão ao Crime Organizado (Cerco), da 5ª Delegacia Seccional, Marcelo Marques de Souza, e o investigador Marcelo Roberto Ruggieri.
Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho, policial civil cuja prisão também foi decretada, nessa terça, estava foragido até a publicação desta reportagem.
Extorquindo o PCC
O caso em que livraram suspeitos do duplo homicídio não seria isolado, de acordo com a Promotoria paulista. “Há indícios de que o investigado teria extorquido outros criminosos do PCC para que eles não fossem investigados por crimes de homicídios”, de acordo com o pedido de prisão.
As ações criminosas de Eduardo Monteiro, investigadas pelo Gaeco, ocorreram no período em que ele coordenava investigações do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), e eram compartilhadas “em conversas de natureza duvidosa” com outros policiais “já conhecidos da Justiça”.
O parentesco com a corregedora-geral não impediu, como acreditava Eduardo Monteiro, que ele fosse preso nessa terça-feira, apontado como integrante de uma organização criminosa envolvida em homicídios, lavagem de dinheiro, crimes contra a administração pública e “outros delitos de extrema gravidade” — como ressalta o juiz Paulo Fernando Deroma de Mello, da 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
Foi ele quem determinou a prisão dos policiais e outros investigados, entre eles integrantes do PCC.
Propina de R$ 11 milhões
O delegado Fábio Baena, de acordo com a delação de Gritzbach, recebeu ao menos R$ 11 milhões de propina para retirar nomes de investigados da apuração do duplo homicídio dos integrantes do PCC. Antes das prisões, ele e Eduardo Monteiro foram afastados de suas funções, após o conhecimento público da denúncia de Gritzbach.
Na casa do investigador chefe do Cerco da 5ª Seccional, Marcelo Marques, policiais federais apreenderam, ainda nessa terça-feira, cerca de R$ 200 mil em dinheiro.
Todos os policiais civis presos foram algemados.
Defesa
Em nota ao Metrópoles, a defesa de Baena e Monteiro afirmou que a prisão foi arbitrária e midiática. “A palavra pueril de um mitômano, sem qualquer elemento novo de prova, não poderia jamais motivar medida tão excepcional”, diz a defesa, em referência a Gritzbach.
“Ambos compareceram espontaneamente para serem ouvidos e jamais causaram qualquer embaraço às repetidas investigações”, diz a nota. O Metrópoles busca a defesa de Rogério Felício. O espaço está aberto para manifestação.
Operação policial
A Operação Tacitus, deflagrada nessa terça-feira, cumpriu oito mandados de prisão e 13 de busca e apreensão. O objetivo foi desarticular organização criminosa voltada à lavagem de dinheiro e a crimes contra a administração pública (corrupção ativa e passiva).
Os mandados foram cumpridos nas cidades de São Paulo, Bragança Paulista, Igaratá e Ubatuba.
Segundo o MPSP, provas obtidas em diversas diligências revelaram como os investigados se estruturaram para exigir propina e lavar dinheiro para suprir os interesses do PCC.
Os investigados vão responder pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva e ocultação de capitais, cujas penas somadas podem alcançar 30 anos de reclusão.