Policiais detidos celebraram prisão de Gritzbach: “Cana de bilhões”
Delegado Fábio Baena e chefe de investigações Eduardo Monteiro ligaram para policial civil para comemorar prisão de delator do PCC
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo — “Assim que entrei na viatura, Eduardo [Monteiro] e doutor [Fábio] Baena ligaram para outro policial civil, de alcunha Bombom, comemorando e dizendo ser ‘cana de bilhões’.” Com essas palavras, o corretor de imóveis Vinícius Gritzbach relatou, em delação premiada ao Ministério Público de São Paulo (MPSP), a reação dos policiais civis que o prenderam, em fevereiro de 2022, ao cumprirem um mandado de prisão temporária.
Gritzbach era investigado na ocasião como o suposto mandante do assassinato, em 26 de dezembro de 2021, de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, e o motorista dele, Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, ambos membros do Primeiro Comando da Capital (PCC). O crime ocorreu na região do Tatuapé, miolo abastado da zona leste de São Paulo, onde em seis anos ocorreram, ao menos, sete execuções ligadas à maior facção criminosa do país.
O inquérito policial do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) era presidido pelo delegado Fábio Baena e a investigação chefiada por Eduardo Monteiro — os policiais mencionados pelo corretor de imóveis aos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
O policial Bombom mencionado pelo corretor, para o qual o delegado e o chefe do DHPP ligaram, é o investigador da Polícia Civil Marcelo Marques de Souza.
Morte e prisões
Vinícius Gritzbach foi executado a tiros, no Aeroporto Internacional de São Paulo, na região metropolitana, em 8 de novembro. O delegado e o investigador chefe foram presos, durante operação conjunta da Polícia Federal e do Gaeco, juntamente com Bombom e outro policial civil, terça-feira (17/12), sob a suspeita de envolvimento no assassinato do corretor.
Outros dois policiais civis envolvidos na “quadrilha” de agentes públicos, parceira do PCC em ações criminosas, segundo o MPSP, já estavam atrás das grades por conta de outra operação, também deflagrada pela PF e Gaeco, em setembro.
O policial civil Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho, também teve a prisão decretada, mas seguia foragido até a publicação desta reportagem.
A delação
Na delação, Gritzbach afirma que Fábio Baena e Eduardo Monteiro, sobrinho da então corregedora geral da Polícia Civil — que pediu afastamento nessa sexta-feira (20/12) — receberam R$ 5 milhões cada para retirar os nomes de dois suspeitos do inquérito sobre o homicídio de Cara Preta e Sem Sangue. Baena ainda teria recebido mais R$ 1 milhão de propina, para interferir no mesmo caso, ainda de acordo com a delação, corroborada pelo Gaeco.
Os policiais teriam sugerido o pagamento de R$ 40 milhões para tentarem livrar Gritzbach das suspeitas. A propina não foi aceita pelo corretor que, no entanto, teve objetos de luxo e até um sítio roubados pelos policiais — como consta na denúncia da Promotoria.
Em um vídeo mencionado pelos promotores, anexado ao processo que corre em sigilo, Fábio Baena pede desculpas para Gritzbach, quando concluiu o relatório de investigação do duplo homicídio. O corretor também entregou ao Gaeco um áudio no qual o delegado, juntamente com Eduardo Monteiro, afirma que iria ajudar Gritzbach no fim da ação penal.
“Eu não vou [te] esquecer nunca mais, porque pra mim, quando você entrou aqui, foi a salvação da minha família, de verdade”, afirma o delegado no registro.
Investigação da Polícia Federal, obtida pelo Metrópoles, afirma que os antecedentes de Fábio Baena indicam que ele “pode estar praticando atos de corrupção há tempos”.
Defesa
Em nota ao Metrópoles, a defesa de Baena e Monteiro afirmou que a prisão foi arbitrária e midiática. “A palavra pueril de um mitômano, sem qualquer elemento novo de prova, não poderia jamais motivar medida tão excepcional”, diz a defesa, em referência a Gritzbach.
“Ambos compareceram espontaneamente para serem ouvidos e jamais causaram qualquer embaraço às repetidas investigações”, diz a nota. O Metrópoles busca a defesa de Rogério Felício. O espaço está aberto para manifestação.
Operação policial
A Operação Tacitus, deflagrada na terça-feira (17/12), cumpriu oito mandados de prisão e 13 de busca e apreensão. O objetivo foi desarticular organização criminosa voltada à lavagem de dinheiro e a crimes contra a administração pública (corrupção ativa e passiva).
Os mandados foram cumpridos nas cidades de São Paulo, Bragança Paulista, Igaratá e Ubatuba.
Segundo o MPSP, provas obtidas em diversas diligências revelaram como os investigados se estruturaram para exigir propina e lavar dinheiro para suprir os interesses do PCC.
Os investigados vão responder pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva e ocultação de capitais, cujas penas somadas podem chegar a 30 anos de prisão.