Polícia suspeita que rival de “novo Marcola” foi morto e carbonizado
Murilo Batista Prado, o Irmão Soneca, de 25 anos, está sumido e polícia do interior de SP investiga se corpo achado carbonizado é do jovem
atualizado
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São Paulo – A Polícia Civil investiga se um dos dois corpos encontrados carbonizados em um carro, há cerca de dois meses em uma área rural de Ipeúna, interior paulista, seria de Murilo Batista Prado, o Irmão Soneca, de 25 anos. O jovem, apontado em registros policiais como um criminoso cruel e ambicioso, teria promovido uma matança na região de Rio Claro.
A série de homicídios, conforme denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) e obtida pelo Metrópoles, resulta da tentativa de Irmão Soneca em assumir a liderança de uma organização criminosa, conhecida como Bando do Magrelo, após a prisão do chefão Anderson Ricardo de Menezes, o Magrelo, no ano passado.
Fontes ligadas à investigação do caso afirmaram à reportagem, em sigilo, nesta quarta-feira (23/10), que Irmão Soneca teria tentado se aliar, sem sucesso, ao Primeiro Comando da Capital (PCC), facção com a qual o Bando do Magrelo disputa a hegemonia do tráfico de drogas na região. Magrelo, inclusive, chegou a afirmar almejar ser o “novo Marcola”.
Murilo, o Irmão Soneca, era membro da quadrilha rival da maior facção criminosa do Brasil, realizando negócios com o chefão Magrelo, com o qual chegou a ir ao Paraguai — onde teria negociado e transportado cargas de drogas para o interior paulista.
Mas, sem respaldo do PCC e considerado um traidor, Irmão Soneca teria sido julgado e condenado à morte por um “tribunal do crime”, promovido por criminosos do bando liderado por Magrelo.
Oficialmente, o jovem está com o paradeiro desconhecido. Porém, a polícia e o MPSP aguardam laudos oficiais que constatem a identidade dos dois corpos encontrados no veículo incendiado. A perícia também irá determinar se as vítimas foram queimadas vivas.
O corpo do jovem, conforme fontes afirmaram em sigilo, foi reconhecido por familiares, que também aguardam os laudos.
Carro queimado
No dia 19 de agosto passado, funcionários de uma usina avistaram fumaça e temeram que o fogo pudesse se alastrar. Ao se aproximarem, os trabalhadores constataram que um carro estava em chamas e identificaram dois corpos no porta-malas.
Por volta das 10h30, policiais da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), de Rio Claro, se deslocaram até a área rural de Ipeúna, cidade localizada na mesma região, para avaliar a cena do crime.
Na ocasião, já desconfiavam que os dois corpos seriam do sexo masculino, por causa da estrutura óssea de ambos. Suspeita-se que o outro corpo seria do padrasto de Irmão Soneca, Valdivino Rodrigues da Fonseca.
Matança no interior
Conforme mostrado pelo Metrópoles, com Magrelo atrás das grades, Murilo se dispôs a tomar o lugar do chefão no controle do tráfico de drogas da cidade de Rio Claro, o que culminou em uma onda de assassinatos na região.
A briga entre integrantes do mesmo grupo criminoso deixou cinco mortes “oficiais” de junho até os dias atuais.
Em 2 de junho, Maicon Donizete do Nascimento, o Zóio Verde, de 36 anos, e Valdeir Silva dos Santos, o Val, 39, foram mortos no bairro Parque Universitário.
Ambos eram sócios de um depósito de bebidas. No dia da morte deles, dois pistoleiros desembarcaram de um carro verde e atiraram. A dupla assassina fugiu.
Registros da Polícia Civil indicam que Zóio Verde foi alvo de 18 tiros. No carro dele, foram encontrados R$ 23 mil em dinheiro. Já Val foi alvo de sete disparos.
Uma denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPSP, obtida pela reportagem, chegou a afirmar que os comparsas dos mortos “se vingariam no próximo fim de semana”.
Val e Zóio Verde foram executados em um domingo. Como denunciado pelo Gaeco, seis dias depois, em um sábado, José Orlando Rodrigues, o Zóio, foi assassinado. Ele tinha saído do sistema carcerário no início do ano. Na ocasião, uma pedestre, sem nenhum envolvimento com o crime, foi ferida por uma bala perdida.
Testemunha sigilosa
Uma denúncia anônima ajudou a polícia a identificar os criminosos envolvidos na matança.
Conforme relatado pela testemunha sigilosa, Zóio Verde e Val teriam sido mortos por Leandro Agostinho Fernandes, o Filho do Turco, de 32 anos; Adalbert Aldivino Batista Prado, o Divino, 56, pai de Murilo; e José Orlando Rodrigues, o Zóio – morto seis dias após suposto envolvimento nos homicídios. Murilo é quem teria guiado o carro que levou os pistoleiros para o local do crime.
O quarteto também estaria envolvido, de acordo com o MPSP, nos assassinatos de um criminoso identificado somente como Gago e também no desaparecimento de Michael Diego Moraes em 29 de abril, após receber um telefonema. Depois da ligação, testemunhada pela mãe, o rapaz teria saído de casa e nunca mais foi visto.
Michael teria sido enterrado, clandestinamente, em um sítio pertencente ao Filho do Turco, onde também eram guardadas armas do grupo “dissidente” liderado por Murilo.
A mãe de Michael afirmou ao Metrópoles, nessa terça-feira (22/10), que o corpo do filho teria sido encontrado em agosto. Desde então, ela aguarda pela liberação, que deverá ser feita somente após a conclusão de exames de DNA.
Registros do TJSP mostram que Filho do Turco segue em liberdade, da mesma forma que Divino. O paradeiro de Murilo é desconhecido. As defesas dos três não foram localizadas. O espaço segue aberto.
Bando do Magrelo versus PCC
Quando estava em liberdade, na disputa pela hegemonia criminosa em Rio Claro, o Bando do Magrelo teria se envolvido em ao menos 30 homicídios de integrantes do PCC.
Dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo mostram que, em 2020, foram assassinadas 21 pessoas em Rio Claro. O número praticamente dobrou no ano seguinte devido à atuação da quadrilha liderada por Magrelo.
Em outra denúncia, também obtida pelo Metrópoles, o Gaeco afirmou que as execuções promovidas por Magrelo e o bando dele, em via pública, em plena luz do dia, com disparos de fuzil, “colocam tristes holofotes na cidade.” Além dos homicídios, a quadrilha é alvo de inquéritos que apuram o crime de organização criminosa com associação para o tráfico de drogas.
Magrelo foi preso em 23 de maio do ano passado, usando documento falso, na cidade de Borborema, a cerca de 210 km de distância de Rio Claro e a quase 380 km da capital paulista.
Seis dias antes, ele havia fugido da polícia por um buraco no muro da mansão em que morava, em Ipeúna, durante uma operação conjunta do Gaeco e da PM.