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Dispersão da Cracolândia impõe toque de recolher no centro de SP

Dispersão de frequentadores da Cracolândia, concentrados na Praça Princesa Isabel, aumentou insegurança entre moradores e comerciantes

atualizado

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Reprodução/Arquivo Pessoal
Cracolandia
1 de 1 Cracolandia - Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

São Paulo – Desde que o fluxo da Cracolândia foi dispersado da praça Princesa Isabel, em maio deste ano, após uma grande operação policial no centro da capital paulista, centenas de usuários de drogas se espalharam pelas ruas da região. O movimento alterou a rotina de moradores durante o dia e impôs até um toque de recolher à noite.

O antigo fluxo, que chegou a concentrar mais de dois mil dependentes químicos no mesmo quadrilátero, agora está fragmentado em pequenas cracolândias, principalmente nas regiões da Santa Efigênia e Campos Elíseos, bairros do centro paulistano.

A reportagem circula pela região há cerca de um mês e constatou que os fluxos itinerantes de usuários se concentram mais em cinco ruas da região, como dos Gusmões, dos Andradas e a Helvétia.

Seguranças particulares ficam nas adjacências têm orientado os pedestres a tomarem cuidado ao circular pela região. Não importa o horário, há o risco de se deparar com um desses grupos de dependentes químicos e ser assaltado.

Da janela de seus apartamentos, moradores de um condomínio da rua dos Gusmões, a mais ocupada pelos usuários, testemunharam a mudança gradativa da via em um ponto de uso e venda de drogas 24h. Isso mesmo com as rondas feitas por guardas-civis metropolitanos ou policiais civis e militares.

“Ilhados em casa”

“Eles ficam o dia inteiro usando droga, mais ainda de noite. Geralmente, ficam na esquina da rua dos Gusmões, esquina com a do Triunfo. Quando a polícia os dispersa, vão para a esquina da rua dos Andradas, também com a dos Gusmões. Ou seja, ficamos ilhados em nossas casas”, relatou a conselheira participativa Rose Correa, de 63 anos, que se mudou para a região há três anos.

Rose conta que desde a chegada dos usuários de crack na sua rua ela se vê obrigada a sair durante o dia “sem ostentar nada” para não ser assaltada. “Vou pra rua com chinelo de dedo, com uma sacola de plástico na mão, para não chamar a atenção de ninguém”, disse. À noite, o medo aumenta e a opção é não pôr os pés na rua.

Nessa sexta-feira (9/12), por exemplo, ela se trocaria em outro lugar para ir à festa de formatura da neta, para não chamar a atenção dos dependentes, e dormiria em outro local para não ter de voltar para casa à noite. “Como o evento termina tarde, também nem volto para casa, durmo na casa da minha filha, em outro bairro. Eles [usuários de droga] se acham os donos da rua”, criticou.

“Virou um inferno”

O analista de operações Vinicius Recio Leite, de 27 anos, mora no mesmo prédio e conta que desde a dispersão do fluxo da Cracolândia a rua “virou um inferno”.

“Ela é fechada todos os dias, não importa a hora. Eles ficam o dia todo vendendo e usando droga. De noite, piora, é um barulho enorme, não dá para dormir direito. Eles fazem feira de droga e ficam gritando ‘olha a maconha, olha a farinha [cocaína], olha a pedra [crack]’. A polícia até tira eles da rua, mas quando os policiais viram a esquina, dá uns dois minutos e eles voltam”.

Leite acrescentou “se sentir humilhado” por causa da insegurança que vivencia diariamente onde mora. “Eu realizei o sonho de ter uma casa própria, mas ter que passar no meio de um monte de drogado, com medo de ser assaltado todo dia, é humilhante. Os moradores daqui perderam o direito de ir e vir [com segurança].”

“As coisas mudaram”

A oficial administrativa Marilda Cristina Rodrigues, de 55 anos, também pensava estar realizando um sonho quando saiu de Pitituba, na zona norte, para morar no centro. Antes da chegada dos usuários à rua dos Gusmões, ela afirmou não receber muitas notícias de roubo. Desde a ocupação da via por eles, “as coisas mudaram”.

“Não temos mais direito ao silêncio, de andar na rua, porque eles não deixam. Há muita sujeira, degradação, fazem sexo no meio da rua, defecam, urinam, fora as brigas, gritarias e presença constante de helicópteros [da polícia ou de TV].”

Roubos crescem na região

Dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo indicam que os roubos na região da Cracolândia, policiada pelo 3º DP (Campos Elíseos), aumentaram em 41,7%. Foram 5.846 casos registrados entre janeiro e outubro deste ano, contra 4.123 ocorrências no mesmo período de 2019 – antes da pandemia da Covid-19.

A secretaria afirmou ao Metrópoles na sexta-feira que somente no mês de outubro apreendeu sete toneladas de drogas na capital paulista, sem especificar as apreensões na região da Cracolândia.

No período, também na cidade, a pasta informou que as polícias Civil e Militar prenderam 2.475 suspeitos, sendo 288 flagrantes por tráfico de drogas. Uma das operações ocorreu sexta-feira e prendeu duas pessoas por receptação de celulares roubados e autou 38 usuários de drogas.

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