Delegado cobra apoio de apps de namoro para elucidar sequestros
Facilidade para criar perfis falsos contribui para a ação de bandidos, alerta Eduardo Bernardo Pereira, da 1ª Delegacia Antissequestro de SP
atualizado
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São Paulo – O aumento substancial dos casos de sequestros arquitetados por meio de aplicativos de namoro em São Paulo levou a Polícia Civil a cobrar das empresas que operam as plataformas uma cooperação para tentar identificar os criminosos.
Mas essa colaboração está muito aquém do que a polícia precisa para elucidar um crime que, muitas vezes, faz uso de violência para executar a extorsão. É o que afirma o delegado Eduardo Bernardo Pereira, da 1ª Delegacia Antissequestro da capital paulista.
Segundo Pereira, os apps de namoro não têm cooperado com a polícia nas investigações, e a orientação é para que as pessoas deixem de usar as plataformas para marcar encontros.
“Hoje em dia, tendo em vista a dificuldade de um canal direto com os aplicativos de relacionamento, para o envio de ofícios, por exemplo, orientamos que evitem o uso das plataformas, especialmente o Tinder e o Happn“, afirmou.
Ambos os aplicativos afirmaram, por meio de nota, estarem à disposição da polícia.
O delegado disse ainda que os sistemas operacionais dos apps são “muito vulneráveis”.
“A possibilidade de criação de um perfil fake, nos apps de namoro, é muito simples”, frisou o delegado da Antissequestro.
Golpe do aplicativo
Diante dessa facilidade, criminosos criam perfis falsos e enganam as vítimas, marcando hora e local para raptar as pessoas.
Isso foi o que aconteceu com um homem de 46 anos, no último dia 25 de novembro. Acreditando ter marcado encontro com uma mulher, no Tinder, ele rumou para Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, onde foi recebido por bandidos, por volta das 20h30.
Ele foi mantido em um cativeiro, cujo endereço é incerto, enquanto os criminosos realizaram transferências bancárias, via Pix, totalizando um prejuízo de R$ 13 mil para a vítima.
Na madrugada do dia seguinte, ele foi largado na Vila Alpina, zona leste da capital paulista, onde pediu ajuda a policiais militares que faziam ronda pela região. A vítima foi levada ao 56º DP (Vila Alpina), onde o caso foi registrado como extorsão e roubo.
Para evitar situações semelhantes, caso a pessoa ainda queira usar os aplicativos de namoro, o delegado da Antissequestro orienta que os encontros sejam marcados em locais movimentados.
Casos disparam
Entre janeiro e setembro deste ano, os registros de sequestros aumentaram na capital e no estado de São Paulo, em relação ao mesmo período de 2019, período pré-pandemia.
Dados da SSP indicam o registro de 40 sequestros no estado, nos nove primeiros meses deste ano, e 29 na capital paulista. No mesmo período de 2019 foram, respectivamente, 11 e 4 registros, representando altas de 263% e 625%.
Entre janeiro e novembro, a 1ª Delegacia Antissequestro prendeu 250 suspeitos de realizar raptos na cidade, dos quais 90% ligados a perfis fakes de aplicativos de namoro.
Onde mais ocorre
Os bairros de Jaraguá, Taipas e Jaguaré, todos na zona oeste, concentram cerca de 70% dos casos investigados pela 1ª Delegacia na capital paulista. Todos as ocorrências são de sequestros, decorrentes de falsos encontros, feitos por meio de apps.
Em 100% dos casos, segundo a delegacia especializada, as vítimas são homens, com idades entre 25 e 60 anos.
Quando os criminosos percebem que a vítima conta com maior poder aquisitivo, abrem contas em bancos digitais por meio das quais realizam empréstimos e transferências para contas de laranjas. Por causa disso, a permanência em cativeiros pode durar até três dias.
Tinder e Happn
Em nota enviada ao Metrópoles, o Tinder afirmou cooperar com as autoridades, auxiliando em investigações oficiais, “conforme estabelecido pelas políticas locais e os requisitos legais.”
O aplicativo acrescentou que, caso a polícia acredite que a plataforma tenha “alguma informação que possa ser útil”, seu departamento jurídico está à disposição.
Também por meio de nota, o Happn afirmou que a segurança de seus usuários é sua “principal prioridade.”
A plataforma acrescentou que a polícia pode entrar em contato pelo atendimento ao cliente, que redireciona a solicitação “diretamente” para a equipe jurídica do app.
“Nesse cenário, o serviço jurídico solicitará informações importantes para identificar e investigar a situação diretamente com a polícia. Todas as informações que compartilhamos com as autoridades são totalmente protegidas, pois as compartilhamos por meio de um processo altamente seguro para garantir que tudo permaneça confidencial”, diz trecho da nota.