Polícia pede pela 2ª vez prisão de dono do Porsche que matou motorista
Primeiro pedido de prisão de Fernando Sastre, dono do Porsche envolvido no acidente que matou motorista de aplicativo, foi negado por juíza
atualizado
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São Paulo — A Polícia Civil paulista pediu, pela segunda vez, a prisão do empresário Fernando Sastre Andrade Filho (foto em destaque), de 24 anos, que bateu com seu Porsche em alta velocidade na traseira de um Sandero e causou a morte do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, de 52, na madrugada do último domingo (31/3), na Avenida Salim Farah Maluf, bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo.
Agora, o delegado do 30º DP (Tatuapé), que investiga o caso, pediu a prisão preventiva (por tempo indeterminado) de Fernando, alegando risco à ordem pública (o motorista poderia cometer o mesmo crime novamente), risco de obstrução da investigação (o empresário poderia ameaçar ou subornar testemunhas) e garantia da futura aplicação da pena (risco de fuga do país).
O Ministério Público de São Paulo (MPSP) se manifestou a favor da prisão preventiva de Fernando. Segundo a promotora Monique Ratton, o empresário “teve atitude totalmente descompromissada com a vida própria, do amigo e de terceiros, colocando toda a sociedade em risco ao dirigir em péssimas condições e em alta velocidade com um carro de tamanha potência, mesmo após já ter sido punido administrativamente com a suspensão da CNH”.
O primeiro pedido de prisão (temporária) foi negado pela juíza plantonista Fernanda Helena Benevides Dias, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), na segunda-feira (1º/4), dia seguinte ao acidente, quando Fernando acabou indiciado por homicídio com dolo eventual, lesão corporal e fuga de local. A juíza argumentou que o delegado “sequer narrou a necessidade da prisão pela qual representou, limitando-se a sustentar a gravidade dos fatos e o clamor público por Justiça”.
Fernando estava com um amigo no Porsche quando bateu em alta velocidade na traseira do carro de Ornaldo. A mãe do empresário foi ao local, e os policiais permitiram que ela levasse o filho ao hospital sem fazer o teste do bafômetro. Mas eles acabaram indo para casa, e Fernando só se apresentou à polícia 38 horas depois.
À Justiça a promotora Monique Ratton, do Ministério Público de São Paulo (MPSP), afirmou que Fernando e a mãe dele, Daniela Andrade, agiram para “atrapalhar as investigações”.
Vídeos e depoimentos
Segundo depoimento de uma amiga que estava com Fernando na noite do acidente, o empresário ingeriu drinks no jantar e discutiu com a namorada porque ela não queria que ele dirigisse por estar “um pouco alterado”, logo após saírem de uma casa de pôquer que funciona no sistema de “open bar” — ou seja, o cliente paga uma taxa fixa de consumação e tem direito a beber o que quiser.
Vídeos mostram que o Porsche do empresário, avaliado em mais de R$ 1 milhão, estava em alta velocidade (veja abaixo) quando atingiu o Renault Sandero de Ornaldo. O limite de velocidade na via é de 50 km/h. À Polícia Civil Fernando negou ter ingerido bebidas alcoólicas, mas admitiu que estava “um pouco acima do limite de velocidade”.
Em depoimento à polícia, a sócia-proprietária do clube de pôquer disse que Fernando Filho chegou ao local por volta de 23h30 de sábado e saiu aproximadamente 2h. Ela disse não ter visto o que ele bebeu, mas afirmou que todos os clientes podem comer e beber à vontade mediante pagamento da taxa de entrada, que é de R$ 300.
Imagens das câmeras de monitoramento externas mostram o momento em que o empresário deixa o local, com um amigo e, logo atrás, duas jovens (veja abaixo), por volta de 2h10.
O grupo conversa na rua por alguns minutos, até que o empresário e o amigo entram no carro de luxo, e as duas mulheres vão para outro veículo. O acidente aconteceria logo depois, às 2h25, segundo o registro da ocorrência.
De acordo com testemunhas, Fernando trafegava em “altíssima velocidade” e aparentava sinais de embriaguez, como “voz pastosa” e andar cambaleante. Uma delas relatou que havia garrafas verdes dentro do Porsche.
Fernando foi indiciado por homicídio com dolo eventual, lesão corporal e fuga de local de acidente. O pedido de prisão temporária feito pela polícia foi negado pela Justiça.
A mãe do empresário, como mostrado pelo Metrópoles, foi indiciada por fraude processual, porque ela inviabilizou que Fernando fosse submetido a exames toxicológicos.
Além disso, a conduta dos policiais militares que liberaram Fernando Filho será investigada. A Polícia Militar informou que instaurou investigação preliminar para apurar as circunstâncias.
O que diz a defesa
Em nota ao Metrópoles, a defesa do empresário afirma que ele deixou o local por receio de “linchamento”, além de precisar se “resguardar” após a notícia do falecimento do motorista de aplicativo.
“Fernando se apresentou espontaneamente na sede do 30º DP. Pôde, então, prestar depoimento, apresentando sua versão dos fatos”, diz a nota. “Todas as circunstâncias do acidente serão devidamente apuradas no curso da investigação, com a mais ampla colaboração de Fernando.”