Polícia pede quebra de sigilo de aluna da USP suspeita de desvio
Solicitação foi feita no âmbito de inquérito que apura se aluna cometeu estelionato e lavagem de dinheiro por meio da loteria
atualizado
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São Paulo – O Departamento de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil de São Paulo, solicitou a quebra de sigilo bancário da estudante Alicia Dudy Muller Veiga, suspeita de ter desviado R$ 920 mil reais da comissão de formatura de sua turma na Faculdade de Medicina da USP.
A quebra de sigilo, no entanto, foi solicitada pelos agentes do Deic de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, no âmbito de outro inquérito, na qual Alícia é investigada por estelionato e lavagem de dinheiro.
Essa investigação teve início ainda no ano passado, quando o dono de uma lotérica na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, registrou um BO contra a mulher de 25 anos.
De acordo com a investigação, no dia 12 de julho de 2022, Alícia teria dado um prejuízo de R$ 192.908,47 ao estabelecimento, após ter feito o agendamento do valor via Pix, sem pagar efetivamente pelas apostas que realizou.
A investigação também solicitou a quebra de sigilo bancário de outras pessoas identificadas durante a apuração.
O Metrópoles conversou com o dono da lotérica, que pediu para não ser identificado. Ele afirmou que está se manifestando somente nos autos.
Essa investigação corre paralelamente ao inquérito que investiga o suposto desvio do dinheiro da formatura.
Os estudantes começaram a relacionar os dois casos somente no final da semana passada, quando descobriram que o dinheiro arrecadado por mais de 100 alunos havia sumido. Alícia alegou aos colegas que havia colocado a quantia em uma gestora de investimentos, que lhe teria aplicado um golpe.
A tendência é que os dois inquéritos sejam unificados.
Alícia é aluna da USP desde fevereiro de 2018. Segundo apurou o Metrópoles, a estudante estava realizando uma prova quando a notícia do suposto desvio veio a público.
Em mensagens de WhatsApp, a aluna chegou a convocar uma reunião às pressas com a comissão de formatura, a qual ela presidia, para explicar os fatos aos colegas antes que ganhasse repercussão. Alícia não aparece na faculdade desde a última sexta-feira (13/1).
Os membros da comissão de formatura foram chamados para prestar depoimento. As oitivas devem acontecer nos próximos dias.
O Metrópoles tenta contato com Alícia desde o domingo (15/1), sem sucesso. O espaço segue aberto para manifestações.
O que diz a Faculdade de Medicina da USP
A Diretoria da Faculdade de Medicina afirma que foi informada que a Comissão de Formatura foi vítima de fraude e que “os fatos estão sendo apurados, buscando-se identificar os responsáveis pela fraude, e a Diretoria está apoiando na orientação aos alunos envolvidos”.
O que diz a comissão de formatura
A comissão de formatura da 106ª turma do curso de Medicina da Faculdade de Medicina da USP emitiu uma nota dizendo que teve conhecimento de que a então presidente da comissão transferiu, sem o conhecimento do outro membro da comissão, o montante de R$ 927 mil para uma conta pessoal.
Veja a nota na íntegra:
“A Associação de Formatura da 106a Turma do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo informa que, no dia 6 de janeiro de 2023, teve conhecimento de que a então Presidente desta comissão retirou, sem o conhecimento e consentimento de qualquer outro membro da comissão, um montante totalizando aproximadamente 927.000,00 reais. A atitude isolada não representa moral e eticamente a postura dos demais membros desta Comissão e os mais de 110 alunos aderidos, vítimas dessa conduta.
Ressalta-se o entendimento desta comissão de que a [suspeita] descumpriu nosso Estatuto ao movimentar esse montante sem a assinatura de nenhum outro membro e transferindo-o a uma conta pessoal sua. Na data do 6 de janeiro de 2023 a Comissão da Turma 106 tomou conhecimento dos fatos por meio de uma mensagem de WhatsApp em que a [suspeita] confessava as transferências para uma conta pessoal sua. Ela alega ter perdido cerca de 800,000.00 reais investindo em um esquema supostamente fraudulento da empresa “Sentinel Bank”. O restante, confessa ter utilizado para, em cunho pessoal, contratar advogados para tentar reaver o dinheiro perdido. O montante de cerca de 927.000,00 foi arrecadado durante 4 anos pela empresa ÁS Formaturas.
De toda a história contada pela [suspeita], o único fato que temos certeza é a transferência do montante guardado sob custódia da empresa ÁS Formaturas para uma conta pessoal dela. Ainda estamos averiguando em que contexto foram realizadas as transferências”.
O que diz a ÁS Formaturas
A Ás Formaturas afirma que não era responsável pela realização ou produção do evento de formatura. A empresa era incumbida de arrecadar os valores dos formandos e transferir para a turma. Em nota, a Ás informou que “todas as transferências foram realizadas rigorosamente conforme estabelecido nas cláusulas contratuais”.
“Estamos à disposição das autoridades para o fornecimento de contratos, documentos, e-mails e demais informações. Finalmente, gostaríamos de informar que mesmo estando isento de responsabilidades legais, estamos em contato com a comissão de formatura para buscar algum tipo de solução que viabilize a realização do evento planejado”, diz a nota.