Polícia pede para ficar com Audi da Japa do PCC, mas Justiça nega
Juiz negou autorizar que a Polícia Civil usasse o Audi Q3, apreendido com Japa do PCC; ela é investigada por lavagem de dinheiro para facção
atualizado
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São Paulo — A Justiça paulista negou o pedido da Polícia Civil para usar o carro de luxo — um Audi 2.0 TFSI Q3, modelo 2022 — apreendido com Karen de Moura Tanaka Mori, de 37 anos, conhecida como Japa do PCC, em fevereiro.
A legislação brasileira permite que bens ligados a organizações criminosas sejam usados por órgãos da administração pública, contanto que haja autorização judicial. O carro de luxo da Japa do PCC, avaliado em R$ 300 mil, estava registrado no nome de uma tia dela.
Na decisão, obtida pelo Metrópoles, o juiz Guilherme Eduardo Martins Kellner, da 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), afirma que a autorização para a Polícia Civil usar o Audi Q3 não representa “a alternativa que melhor atenda ao interesse público”.
“O veículo em questão, por ser de luxo e consequentemente chamar mais a atenção daqueles que o observam, deixa ser a melhor opção para sua utilização como viatura descaracterizada”, registra o magistrado. A decisão foi proferida no dia 7 de março.
“Outrossim, não parece ser apropriada a utilização de veículo provido de alto valor econômico voltada ao mero transporte dos agentes de segurança pública”.
Carro de luxo
O Ministério Público de São Paulo (MPSP) também havia sido contrário à ideia. Entre as razões, a promotoria alegou que seria difícil empregar o carro de luxo em ações de monitoramento ou campana.
“O veículo tem elevado valor econômico, sendo mais interessante ao interesse público a sua transformação em dinheiro do que a utilização pelas forças policiais”, escreveu o promotor Roberto Marcio Ragonezi Francisco, do MPSP.
A Japa do PCC responde à investigação por suposta lavagem de dinheiro da facção. Segundo o MPSP, ela movimentou R$ 35 milhões após a morte do marido, o ex-chefão do PCC Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, que foi executado em 2018.
Com patrimônio milionário e rotina marcada por viagens internacionais, ela é suspeita de herdar “bens escondidos” de Cabelo Duro e liderar esquemas da facção em Santos, Cubatão e Guarujá, no litoral paulista, e na cidade de São Paulo. Ela alega inocência. Atualmente, a investigada está em prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica.
A Japa do PCC foi detida em flagrante durante mandado de busca e apreensão Com ela, os agentes encontraram duas malas com R$ 1.039.600, em espécie, e cerca de 50 mil dólares (R$ 250 mil), além de documentos, o celular dela, um Iphone 14 e do Audi Q3.
Empresária de sucesso
Em depoimento à polícia, a investigada alegou ser uma empresária de sucesso e negou que o seu patrimônio tenha sido adquirido com dinheiro do crime. Também alegou que “nunca recebeu qualquer quantia” do marido e relatou que Cabelo Duro teria morrido “sem deixar quaisquer bens e dinheiro”.
A investigada, que é formada em enfermagem, disse que juntou dinheiro de 2008 a 2015 para abrir seus próprios negócios no ramo de estética. Segundo argumento em depoimento, enriqueceu após abrir “inúmeras empresas”, que se tornava bem-sucedidas, e vendê-las para terceiros.
Para justificar a fortuna encontrada pelos policiais, afirmou não ter depositado o dinheiro no banco porque “ temia que as autoridades a ligassem exatamente ao crime organizado e aos fatos ilícitos que a imprensa noticiava do seu marido”.
Já o Audi Q3 teria sido registrado no nome da tia por “não desejar que as pontuações de possíveis infrações de trânsito fossem cadastradas em seu nome”.