Polícia apura morte suspeita de menina de 6 anos que morava em circo
Menina de 6 anos morreu em circunstâncias ainda não esclarecidas após se mudar com a mãe de São Paulo, onde vivia no circo, para o Rio
atualizado
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São Paulo – O luto da dona de casa Letícia Porfírio, de 38 anos, ficou ainda maior com a morte da sobrinha Hamira Guidini Silva, de apenas 6 anos, pouco mais de um ano após o falecimento do irmão, José Carlos de Sousa Silva, aos 40 anos, pai da menina.
O homem foi uma das vítimas fatais da Covid-19, em setembro de 2021, na capital paulista. Já a causa da morte da filha dele, em dezembro passado, permanece cercada de mistério e passou a ser investigada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, onde ela faleceu dentro do hospital, após quatro dias internada, com lesões nas costelas.
Hamira morava com a mãe Marinês Guidini, de 41 anos, em um circo no Rio. Segundo Letícia Porfírio, tia da menina, ela deixou a cidade de São Paulo com a criança cerca de 11 meses após a morte de Silva. Na capital paulista, o casal se conheceu e iniciou relacionamento em um grande circo no Tatuapé, na zona leste, onde ele trabalhava como capataz, cuidando da parte técnica e administrativa. Foi no universo circense que a menina nasceu.
“Ela nos disse que tinha sido demitida [dois meses após a morte de Silva]. Mas o dono do circo nos informou que ela pediu as contas. Aí começaram nossas desconfianças”, conta Letícia. Nove meses depois, a mulher mudou-se para o Rio, com a menina. Até agora, a única certeza que ela tem é a de que Hamira morreu após ser internada com quadro de insuficiência respiratória, de acordo com a Secretaria Municipal da Saúde carioca.
“Minha ex-cunhada me ligou um belo dia falando que a Hamira tinha dado entrada no hospital com asma, que não respirava e que ia ser entubada. Depois que fizeram raio-x nela, foi indicado que 12 costelas e a clavícula da minha sobrinha estavam lesionadas”, relata Letícia.
Desconfianças e dúvidas
A avó paterna de Hamira, a cuidadora Mércia Porfirio da Silva, de 66 anos, afirmou ao Metrópoles que as dúvidas começaram a assolar a família antes mesmo da morte da menina, quando Marinês mudou-se para o Rio com a filha sem avisar e iniciou um novo relacionamento.
A última vez em que viu a neta com vida foi na Páscoa de 2022, em Campo Limpo Paulista, cidade do interior de São Paulo, onde a criança costumava passar quase todos os fins de semana com a avó. Um vídeo mostra a menina, junto com outras crianças, procurando ovos de páscoa escondidos no quintal da residência.
“Durante este tempo, tentei falar muitas vezes com minha neta, por telefone. Só consegui quatro vezes e foram muito rápidas. Eu pedia para fazer ligação em vídeo, mas a Marinês sempre tinha alguma desculpa. Só consegui ouvir a voz da Hamira nessas poucas ligações. Ela parecia estar triste. Alguma coisa estava acontecendo”, conta a avó paterna.
No último fim de semana em que esteve viva, Hamira ficou na casa do avô paterno, Ibson Lima Silva, também em um circo, no Rio. Quatro dias depois, já com a mãe, ela deu entrada no hospital Miguel Couto, no Leblon, zona sul carioca. A menina morreu cinco dias depois, no Hospital Municipal Albert Schweitzer, na zona oeste.
Um laudo da empresa que realizou os trabalhos de conservação do corpo da menina para seu traslado até São Paulo indica que a causa preliminar da morte de Hamira foi choque séptico (resultante de uma infecção que se alastra rapidamente pelo corpo).
A Polícia Civil carioca afirmou ao Metrópoles, nessa segunda-feira (9/1), aguardar os resultados de laudos periciais complementares, para que a causa definitiva do falecimento seja conhecida.
Diferentes versões
A avó da menina afirma que Marinês tentou insinuar que a criança teria sido ferida no circo em que passou o fim de semana com o avô. Segundo a idosa, contudo, a mãe da criança teria confessado participação na morte da menina ao prestar depoimento à polícia.
O Metrópoles entrou em contato com Marinês, para ouvi-la sobre a morte da filha. Ela não havia dado retorno até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.
Em depoimento à polícia, o avô paterno de Hamira afirmou ter sido procurado, no dia 2 de dezembro, pela nora de Marinês, questionando-o sobre lesões sofridas pela neta, acrescentando que ela estava internada. Ele argumentou que sua neta sempre foi bem tratada no circo e que nenhum funcionário relatou algum eventual acidente ou agressão, que poderia ter resultado nos ferimentos da criança.
Suposto pedido de perdão
O idoso disse ainda em seu depoimento que Marinês teria lhe pedido perdão na delegacia, “por ter apertado sua neta” enquanto ela precisava ser medicada com injeção para conter a febre no hospital. Essa ação teria “lesionado as costelas da menor”, segundo o depoimento. Desde então, Marinês não falou mais com os parentes da menina, por parte de pai.
“Não estamos acusando ela de nada. Mas queremos saber por que a Hamira ficou ferida e por que a Marinês contou mais de uma versão sobre o que aconteceu. Queremos saber a causa da morte da minha neta e as circunstâncias em que ela ficou ferida”, desabafou a avó da criança.
O 16º DP da Barra da Tijuca afirmou ao Metrópoles, nessa segunda-feira, que a investigação do caso está em andamento.
Agentes da Polícia Civil colheram depoimentos de familiares e testemunhas e também solicitaram um laudo de perícia complementar, cujo resultado ainda não foi concluído. “Diligências estão sendo realizadas para esclarecer todos os fatos”, diz trecho de nota da polícia.