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PMs viram réus por matar suspeito e forjar confronto na Operação Verão

Segundo MPSP, eles teriam agido “com intenção de matar”. Dupla de policiais, no entanto, foi mantida na corporação em função administrativa

atualizado

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São Paulo — A Justiça de São Paulo aceitou a primeira denúncia contra policiais militares envolvidos nas mortes registradas na Operação Verão, que deixou pelo menos 59 vítimas entre fevereiro e março na Baixada Santista. Dois PMs da Rota, elite da corporação, tornaram-se réus pelo homicídio qualificado de Allan de Morais, morto em 10 de fevereiro.

Glauco Costa e Diogo Souza Maia teriam manipulado a cena do crime para forjar um confronto com a vítima. Segundo o Ministério Público de São Paulo, eles, “agindo com a intenção de matar, com emprego de recurso que dificultou a defesa do ofendido, efetuaram disparos de arma de fogo contra a vítima”.

O MP pediu a suspensão dos agentes da corporação ou que fossem afastados das ruas. O juiz Alexandre Betini, de Santos, acolheu parcialmente o pedido e determinou que os policiais passassem a fazer apenas trabalhos administrativos.

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A versão dos policiais é que Allan de Morais, conhecido como “Príncipe”, seria integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC) e que, no dia do ocorrido, surgiu a informação de que ele estaria transportando armas para a facção no carro dele, um Jeep Compass. Conforme apurado pelo Metrópoles, ele estava voltando do trabalho no Jabaquara Esporte Clube.

Os PMs disseram em depoimento que, após localizarem Allan, o suspeito teria se negado a descer do carro, feito o veículo colidir contra a viatura e apontado uma pistola para a equipe policial. Antes que pudesse atirar, foi alvo de quatro tiros de pistola e quatro de fuzil.

Com base na perícia do Instituto de Criminalística, os promotores afirmam na denúncia que, na verdade, os disparos teriam ocorrido antes da colisão entre os veículos, o que indicaria que Allan não resistiu à abordagem.

De acordo com o MPSP, o policial Diogo Souza Maia foi até a janela do veículo e deu quatro tiros de fuzil em sequência. Com Allan baleado, o carro teria andado alguns metros e colidido com a viatura. Na sequência, dizem os promotores, Glauco Costa também atirou quatro vezes.

“Com o tiro de fuzil, em razão da multiplicidade e gravidade dos ferimentos, não havia como a vítima manobrar e acelerar o carro para fugir do local, tampouco manusear uma pistola para disparar, em meio ao confronto, contra os policiais”, diz a denúncia.

“Por volta das 17h39min [um minuto após a ordem de parada], a vítima já havia sido atingida, ao todo, por seis tiros que causaram a fratura de ossos da face, fratura de arcos costais, fratura exposta de clavículas direita e esquerda e fratura de braço direito e esquerdo.”

A cena, segundo o MPSP, não foi registrada por câmeras corporais, porque a câmera acoplada à farda do PM não estava ligada. No entanto, foi possível identificar o som dos disparos por câmeras de outros policiais envolvidos na ocorrência.

“Para encobrir os disparos simulados, além de o acusado Diogo Maia estar com a câmera portátil descarregada e, portanto, ser o único responsável por se aproximar da vítima, o denunciado Glauco Costa, com o ofendido já incapacitado e o Tenente Diogo em frente ao corpo, inclinou seu peito para o chão, de forma que a sua COP não filmasse o que se passava no interior do veículo”, afirma a denúncia.

“O suposto encontro da pistola no interior do Jeep e o arremesso para fora por parte do acusado Diogo Maia para que o denunciado Glauco Costa recolhesse o armamento teve sua ação obstruída, de modo que as câmeras corporais não filmaram a encenação anterior dos disparos e o posterior ‘encontro’ da arma”, dizem os promotores.

O Metrópoles não conseguiu contato com os policiais. Questionada, a Secretaria da Segurança Pública não se manifestou até o momento da publicação. O espaço segue aberto.

Allan de Morais

Allan de Morais Santos, de 36 anos, foi morto enquanto voltava do trabalho, no Jabaquara Esporte Clube. Momentos antes, foi filmado em uma partida de futebol no campo do clube, que disputa a série A4 do Campeonato Paulista.

O homem tinha passagem pela polícia por tentativa de homicídio e associação criminosa. Ele chegou a ser preso, mas cumpria pena em regime aberto. A família de Allan nega que ele tivesse envolvimento com a facção.

A morte de Allan de Morais foi citada em diversas oportunidades pelo secretário da Segurança Pública (SSP), Guilherme Derrite, como um troféu da Operação Verão.

Família

Em 7 de novembro, o Metrópoles conversou com Luciana de Castro, esposa de Allan de Morais. A mulher afirma que, após a morte do marido e outros episódios de violência na região, decidiu deixar o Morro do São Bento.

“Eu sou moradora do morro, estou vendendo minha casa pela metade do preço. Eu quero ir embora. Não dá mais para viver aqui. A gente é daqui, a gente é nascido e criado no morro. Minha raiz é aqui”, conta a moradora.

“Da maneira que meu marido morreu, da maneira que o filho da Bia morreu, é claro que a gente tem medo. Tudo isso é terrível”, desabafa Luciana.

A mulher afirma que, mesmo após o fim da Operação Verão III, em 1º de abril, a violência policial no Morro do São Bento não reduziu.

“Não houve redução da presença da polícia. Acho que isso foi abafado um pouco, na mídia. Mas aqui está tudo igual”, diz.

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