PMs que prenderam jovens passeando com cachorro são investigados em SP
Conduta dos policiais militares que prenderam casal de amigos na zona sul de SP é investigada, segundo Secretaria da Segurança Pública
atualizado
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São Paulo – A conduta dos policiais militares que prenderam um casal de amigos que passeava com um cachorro, no último dia 10 no Capão Redondo, zona sul de São Paulo, é investigada pela Polícia Civil. A detenção gerou revolta entre amigos e familiares dos jovens.
A vendedora Rafaela da Silva Pereira Lima, de 23 anos, e seu amigo Gabriel Pereira da Cruz, 24, permaneceram cinco dias atrás das grades, até que imagens de câmeras de monitoramento, além do relato de testemunhas, desmentiram a versão dos PMs. Por causa disso, a Justiça revogou a prisão dos amigos.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo afirmou em nota, enviada ao Metrópoles nesta terça-feira (19/9), apurar todas as circunstâncias sobre a prisão dos jovens, acrescentando acompanhar “os desdobramentos do caso”.
A pasta e a Polícia Militar foram questionadas sobre eventuais medidas tomadas contra os policiais, como afastamentos das ruas, mas nenhum posicionamento foi encaminhado.
O advogado Marcelo Batista de Aguiar, que defende Rafaela e Gabriel desde o dia de suas prisões, afirmou ao Metrópoles, também nesta terça, que ainda iria se reunir com seus clientes para definir os “próximos passos” sobre o caso.
Ele já havia adiantado que pretende processar o governo estadual por danos morais e materiais. Além disso, a defesa dos jovens vai solicitar a abertura de uma investigação por parte da Corregedoria da PM.
Rafaela e Gabriel foram presos em flagrante após um motorista de aplicativo, vítima de roubo, ter afirmado que ambos eram autores do assalto que ele sofreu na noite do último dia 10.
Vídeos de duas câmeras de monitoramento, obtidos pelo Metrópoles, mostram que dois homens abordaram o motorista de aplicativo, no momento em que uma passageira iria embarcar no carro dele (assista abaixo). Nenhuma mulher aparece no vídeo.
Os PMs que perseguiam os ladrões do carro de aplicativo não foram atrás dos criminosos, após eles desembarcarem do veículo da vítima. Os policiais abordaram o casal de amigos, que caminhava com o cão Rex.
Prisão injusta
Em entrevista ao Metrópoles, os jovens contaram como foi a espera até que tivessem a prisão revogada a pedido da Polícia Civil e do Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Bastante emocionado, Gabriel disse que foi uma semana que ele “nunca vai esquecer”. “Nem bicho merece um tratamento daqueles.”
Ele contou que sua cela chegou a receber 45 presos, apesar de ter apenas quatro beliches. Com isso, a maior parte dos detidos, incluindo o jovem, precisavam dividir espaço no chão frio durante a noite. Ele acrescentou que foi instruído por outros presos a mexer a comida antes de levá-la à boca.
Rafaela endossou as falas do amigo. No Centro de Detenção Provisória (CDP) de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, ela deixou de comer algumas refeições pelo fato de a comida ter aspecto de “estragada”.
A jovem também diz que não tinha acesso a itens básicos de higiene. “Meu kit não tinha escova de dente”, afirmou, mencionando também a falta de papel higiênico, além de uma quantidade insuficiente de cobertores para todas as detentas.
Outro problema, segundo Rafaela, eram os ratos. “Tinham ratos lá dentro que passavam perto da gente”, diz a estudante de enfermagem.
A jovem contou ainda que se surpreendeu com a mobilização gerada com a sua prisão. Ela e o amigo foram recebidos com festa pelos vizinhos ao voltarem para casa.
Outro lado
O Metrópoles questionou a Secretaria da Administração Penitenciária sobre as denúncias feitas pelo casal de amigos.
Em nota, a pasta disse que possui canais para recebimento de denúncias, como a Ouvidoria e a Corregedoria Administrativa do Sistema Penitenciário e que o sigilo do denunciante é preservado.
A secretaria afirmou determinar que seus funcionários trabalhem dentro da legalidade e em observância aos preceitos da Lei de Execução Penal e aos princípios dos Direitos Humanos.
Questionado sobre se irá solicitar as imagens das câmeras corporais dos PMs, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) não respondeu.
Em nota sobre a libertação dos jovens, a SSP disse que elementos foram coletados durante a investigação, os quais “subsidiaram o pedido de revogação da prisão do casal”.
A pasta, assim como a Polícia Militar, foi questionada se as imagens das câmeras corporais dos PMs foram disponibilizadas para confirmar a versão deles. Ambas as instituições da Segurança Pública não se posicionaram.