PMs que furtaram condutor de Porsche são condenados a 9 anos de prisão
Em setembro de 2024, dois PMs furtaram um relógio de luxo e R$ 1,6 mil em espécie em abordagem ao motorista de um Porsche em Caieiras (SP)
atualizado
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![Imagem colorida de motocicletas da PM](https://uploads.metroimg.com/wp-content/uploads/2025/01/29092717/pm-sp-6.jpg)
São Paulo — A Justiça Militar do Estado de São Paulo condenou a 9 anos, 6 meses e 18 dias de prisão os policiais militares (PMs) — um soldado e um cabo — presos em flagrante por terem furtado um relógio de luxo e dinheiro durante abordagem ao motorista de um Porsche em setembro do ano passado, na Avenida Marcelino Bresciani, em Caieiras, na região metropolitana de São Paulo. A pena deverá ser cumprida inicialmente em regime fechado e, posteriormente, os PMs têm ainda seis meses de detenção.
O Metrópoles teve acesso à sentença, assinada pelo juiz José Alvaro Machado Marques em 8 de janeiro. O cabo Elton Aparecido Leforte e o soldado, cujo nome não será divulgado p0r força de uma decisão judicial liminar, foram condenados pelo crime de extorsão, mas a pena foi aumentada pelo fato de os agentes estarem em serviço no momento do crime. Ainda cabe recurso.
O Tribunal de Justiça Militar (TJM) aceitou a denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) sobre o caso em 10 de outubro do ano passado. Na decisão, assinada pela Juíza Substituta da Justiça Militar, Maria Elisa Terra Alves, a magistrada cita relatos colhidos, o reconhecimento feito pela vítima e prints obtidos pela investigação como alguns dos “indícios suficientes de autoria” por parte dos PMs.
O que aconteceu
- Em 29 de setembro de 2024, os dois policiais militares abordaram um Porsche na altura do nº 800 da Avenida Marcelino Bresciani.
- De acordo com a denúncia, durante a abordagem, os PMs disseram que o veículo estava envolvido em ocorrência de estelionato e passaram a intimidar o ofendido, questionando se ele sabia das consequências de conduzir um veículo naquelas condições, e afirmaram que poderiam prendê-lo pelo crime de receptação;
- Consta no texto ainda que o soldado pegou o celular do motorista e acessou as suas fotos e conversas do WhatsApp, e até coagiu o ofendido a acessar seus aplicativos bancários, para verificar os valores vinculados na sua conta bancária;
- Então, esse soldado exigiu do dono do Porsche a quantia de R$ 20 mil, em espécie, para que fosse liberado sem nada ser feito, indicando que o valor seria dividido, igualmente, entre os militares;
- O motorista respondeu que não possuía esse dinheiro e nem tinha conhecimento do registro da ocorrência de estelionato envolvendo o veículo, o que levou o soldado a continuar mexendo em suas contas bancárias;
- O soldado observou que o motorista tinha no pulso um relógio da marca Patek Philippe, avaliado em R$ 5 mil;
- Então, obrigou o ofendido a tirar o relógio e colocá-lo na porta do carro, “tudo sob grave ameaça exercida com o emprego das armas de fogo da Corporação”, diz o texto;
- Durante a revista, os PMs ainda pegaram a quantia de R$ 1,6 mil, em espécie, que estava em uma bolsa do motorista, sem que ele percebesse;
- O soldado disse que entraria em contato pelo número de celular do motorista, informando os valores, em espécie, que ele teria que entregar aos policiais;
- Então, os acusados liberaram o ofendido e saíram do local na posse do relógio e do dinheiro;
- Durante a abordagem, os policiais retiraram suas tarjetas de identificação e as câmeras corporais de suas fardas, deixando-as em posição que impedia qualquer tipo de filmagem.
Flagrante
- Cerca de 1h30 depois da abordagem, os policiais entraram em contato com a vítima, via WhatsApp. Por lá, cobraram a propina e combinaram de se encontrar perto do endereço do motorista;
- Porém, o homem já havia denunciado a atitude dos policiais à Corregedoria da PM e quando os agentes suspeitos chegaram no local, por volta das 9h, foram abordados por uma equipe da corporação e levados para dentro da casa da vítima, onde prestaram depoimento;
- Na carteira do soldado foram encontrados R$ 855 e o relógio subtraído do Porsche. Com Elton Leforte, inicialmente, foi encontrada uma quantia de R$ 604 e, na sede da Corregedoria, mais R$ 100;
- A vítima reconheceu os policiais envolvidos, assim como seu relógio. Além disso, ligou para o número que trocava mensagens e o celular de Leforte tocou. Nesse momento, os PMs foram presos em flagrante;
- Os PMs, membros do 26° Batalhão de Polícia Militar, foram levados ao Presídio Romão Gomes.
O que diz a defesa
Ao Metrópoles, a defesa do cabo Elton Aparecido Leforte afirmou que irá recorrer da decisão, “porque a condenação não foi correta”.
O advogado Luis Antonio Lobo Cardoso alega que o crime de extorsão não existiu. “A própria vítima falou em seu depoimento em juízo que não foi ameaçada, intimidada ou coagida a pagar qualquer valor para não ter seu veículo apreendido”, diz a nota.
“Os acusados esclareceram cada detalhe da ocorrência e responderam a todas as perguntas, deixando claro que o crime de extorsão não existiu”, continua a defesa. “No entanto, o magistrado usou basicamente o depoimento dos policiais da corregedoria para condenar os acusados nesse crime grave de extorsão.”
“A defesa espera que os nobres desembargadores militares analisem com critério, principalmente o depoimento da vítima, para reformar a sentença e absolver os policiais desse crime”, finaliza.
Também foi procurada a defesa do soldado, representada pelo advogado Bruno Salla Rodrigues, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.