PM violenta e pancadão abalam região onde jovem foi jogado de ponte
Moradores afirmam que violência da PM e pancadão tiram o sossego na rua onde jovem foi jogado de ponte por policial no domingo em SP
atualizado
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São Paulo — Entre violência da Polícia Militar (PM) e o barulho provocado pelo pancadão, moradores e comerciantes das proximidades da Rua Padre Antônio de Gouveia, na Cidade Ademar, zona sul de São Paulo, não têm paz nos fins de semana. Na madrugada de segunda-feira (2/12), um rapaz foi jogado por um policial de uma ponte sobre o Córrego do Cordeiro, que cruza a via.
Os pancadões são chamados de Baile do Final, em referência ao ponto final da linha 576M-10 (Vila Clara-Pinheiros). A aglomeração costuma ser tamanha que, há pelo menos três anos, a parada derradeira dos ônibus se mudou para outro lugar já nos fins de tarde de domingo, evitando a confusão que acontece horas depois.
Esse, entretanto, parece ser o menor dos problemas para as pessoas que vivem no local. Um jovem morador com quem a reportagem conversou na tarde dessa terça-feira (3/12) estava acompanhado pela mulher e a filha de colo. Ele afirmou que PMs perseguem as pessoas aleatoriamente pelo fato de viverem em uma comunidade. “Outro dia me disseram que só não me pegariam porque estava no resguardo com a minha mulher e a minha filha, mas que voltariam quando estivesse sozinho”, disse.
Assista:
Durante os bailes, a truculência policial é costumeira até mesmo com quem está passando pela rua por obrigação, apenas para chegar em casa, segundo quem mora no local. Já participantes do pancadão dizem que sobram tapas e socos na cabeça e que são chamados de “demônios” pelos PMs.
As noites de domingo viram cenário de guerra, com lançamento de bombas pelos policiais, que cercam a via pelas duas extremidades, muitas vezes usando escudos, enquanto centenas de pessoas se reúnem no meio da rua.
Há provocações de lado a lado, jovens circulando sem capacete em motos sem placa, objetos arremessados contra um e outro e um clima de hostilidade que, geralmente, descamba para a violência escrachada.
Moradores relatam, porém, que nunca tinham presenciado uma tentativa de homicídio como a que aconteceu com o jovem sendo jogado da ponte por um PM, conforme mostram imagens gravadas por um celular e que chamaram a atenção da sociedade, nessa terça.
Indignados com a violência policial, moradores também não poupam críticas ao baile, que costuma se arrastar até o fim da madrugada de segunda-feira, quando muitos têm que seguir para o trabalho, cansados pela noite maldormida.
Quem pode até evita trabalhar na segunda por causa do sono. Segundo comerciantes, é comum fechar as portas no primeiro dia útil da semana, assumindo os prejuízos dessa decisão, por causa dos transtornos causados pelo barulho que vara a madrugada vizinhança afora.
Além do pancadão, os moradores são obrigados a conviver com falhas na zeladoria urbana e graves problemas sociais. Mesmo canalizado, o Córrego do Cordeiro é sujo e com matagal nas margens, às vésperas do início de mais uma temporada de chuvas. Nas proximidades, há barracos e pessoas em situação de rua.
Apesar de revoltados com a barulheira, nenhum morador aprovou a atitude do PM que atirou o jovem de cima da ponte.