PM que estava em voo com delator deu versões diferentes à polícia
Soldado disse à Corregedoria que não conseguiu falar com equipe de segurança de Vinícius Gritzbach, versão diferente da que deu ao DHPP
atualizado
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São Paulo — O soldado Samuel Tillvitz da Luz, de 29 anos, contou duas versões diferentes, em depoimentos formalmente registrados, sobre o assassinato do delator Vinícius Gritzbach, no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na última sexta-feira (8/11).
O PM acompanhou Gritzbach e a namorada durante sete dias em Maceió (AL), onde o casal pesquisava imóveis de aluguel, para passar o fim de ano. Samuel foi contratado há pouco mais de um ano como segurança particular pelo homem que foi denunciado por homicídio e lavagem de dinheiro e delatou integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e policiais suspeitos de corrupção.
Usando uma arma pertencente à corporação, o soldado acompanhou os últimos instantes de Gritzbach e os relatou à Corregedoria da PM e ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Ambos os depoimentos foram obtidos pelo Metrópoles.
À Corregedoria e ao DHPP, Samuel relatou versões semelhantes até o momento dos tiros. Depois disso, ele se contradiz.
Ao órgão de fiscalização da PM, o soldado afirmou que, logo após o assassinato de Gritzbach, tentou, sem sucesso, entrar em contato com os outros membros da equipe de segurança, formada por outros policiais militares que faziam bico ilegal e foram afastados.
Já o DHPP, que investiga a execução do delator, destaca o depoimento da seguinte forma: “indagado se chegou a ligar para alguém após os fatos, [Gritzbach] respondeu que apenas para os demais membros do grupo de escolta em busca de uma solução para o que iriam fazer para aquele evento; informa que se comunicaram, mas não houve definição do que deveriam fazer no momento”.
De volta a São Paulo, no aeroporto de Guarulhos, Samuel Tillvitz ficou responsável por acompanhar Gritzbach e a namorada do delator, Maria Helena Paiva Antunes, de 29 anos. Uma equipe com mais três seguranças, que deveria estar aguardando o casal, entre eles PMs, não estava no local porque o carro blindado usado por eles havia quebrado em um posto de combustíveis, a caminho do aeroporto.
Ida ao mercado
A namorada de Gritzbach afirmou que avistou Samuel na porta que dá acesso ao desembarque do aeroporto, para onde ambos foram se proteger dos tiros.
Alguns instantes depois, ela afirmou que o policial entrou sozinho em um mercado express, enquanto Maria o aguardou do lado de fora. “Após cerca de cinco minutos, Samuel saiu, não avistando nada [comprado por ele no mercado] em suas mãos”.
Nos dois depoimentos que prestou, Samuel não menciona essa ida ao mercado, quando ficou completamente sozinho, e o que a teria motivado, além do que teria feito lá.
Após isso, ele e Maria Helena saíram do terminal e embarcaram em um táxi, que rumou para um imóvel de Gritzbach, indicado por Samuel. Em depoimento, ele afirmou, entretanto, que não se recordava do endereço. O PM saiu do local, com a namorada de Gritzbach, sem que ambos se apresentassem à Polícia Civil, que conta com uma delegacia nas dependências do aeroporto.
“Proteger a própria vida”
No depoimento que prestou à Corregedoria da PM, o soldado disse desconhecer que Gritzbach era acusado de homicídio e lavagem de dinheiro e jurado de morte pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Além disso, afirmou não ter reagido ao ataque feito com 29 tiros de fuzil na área de desembarque para “proteger a própria vida”.
O soldado confessou ter levado a arma de uso profissional, pertencente à PM de São Paulo, para realizar a segurança contratada de forma particular na viagem a Maceió. Segundo ele, a viagem aconteceu durante um “afastamento regulamentar” obtido por folgas mensais acumuladas.
Namorada revela como foram os momentos finais do delator do PCC
Os policiais militares responsáveis pela segurança de Vinícius Gritzbach foram afastados das atividades na corporação e passaram a ser investigados. Nos primeiros depoimentos prestados, eles disseram que, momentos antes do ataque ao delator, pararam em posto de combustíveis para lanchar, enquanto aguardavam a chegada dele.
Segundo eles, quando decidiram ir em direção ao aeroporto, a caminhonete não funcionou. Apenas um dos PMs teria ido até o local.
“Testemunhas e partes envolvidas já prestaram depoimento e os policiais militares que faziam a segurança de uma das vítimas foram afastados de suas atividades operacionais até o fim das investigações”, informou a Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Câmeras de segurança do aeroporto registraram o momento em que dois homens de capuz descem de um carro preto e disparam contra Vinícius. Ele morreu na hora. Um motorista, que transportava clandestinamente passageiros, foi atingido por uma bala perdida e também morreu. O carro usado no crime tinha uma placa clonada e foi abandonado em uma comunidade de Guarulhos. Ninguém foi preso até o momento.