PM persegue moto com rapaz e menina de 13 anos, que morrem em acidente
Família de menina acusa PM de omitir perseguição em boletim de ocorrência, investiga por conta própria e acha imagens que mostram viatura
atualizado
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São Paulo — Uma menina de 13 anos e um rapaz de 18 morreram na madrugada desta segunda-feira (13/5) em São Mateus, zona leste da capital, em um acidente de trânsito que, para os familiares da garota, ocorreu após uma perseguição da Polícia Militar em que os PMs fugiram sem prestar socorro.
Como o registro da ocorrência não trazia nenhuma informação sobre perseguição, os parentes da menina investigaram o caso por conta própria e conseguiram imagens que mostram a participação de uma viatura da PM na dinâmica do acidente.
Manuella Souza Carvalho, de 13 anos, e Albert Wanderson de Moraes Balmant, de 18, estavam andando de moto nas primeiras horas da madrugada. A menina havia acabado de fugir da casa dos avós, sem a família saber – o que, segundo os parentes, ela nunca havia feito antes.
Os pais souberam da fuga e, preocupados, começaram a procurá-la pelas ruas do bairro.
Segundo a psicóloga Fabiana Farias de Almeida, de 34 anos, prima de Manuella, o pai achou a menina já acidentada, logo após começar a procura, em uma rua próxima à casa deles. Ele chegou antes do socorro médico, quando apenas vizinhos estavam na rua, dando ajuda às vítimas, de acordo com Fabiana.
Só então, a família soube que Manuella estava em uma moto, com Albert. O rapaz não era conhecido dos parentes da menina.
Conforme os familiares começaram a tentar entender o que havia acontecido, eles souberam que, quando o acidente ocorreu, a moto estava sendo perseguida por uma viatura da PM, que segundo os vizinhos contaram, pertenceria à Força Tática, uma divisão especializada em confrontos.
O que esses vizinhos disseram, na sequência, segundo o relato de Fabiana ao Metrópoles, é que depois da batida da moto, no lugar de prestar socorro à menina e ao rapaz, os PMs procuraram as casas vizinhas para saber se alguém teria câmeras que pudessem ter registrado a cena. “Eles coagiram as pessoas a não entregar as imagens”, afirma a prima.
Mas a família conseguiu achar imagens de uma câmera próxima que comprovam que a moto estava sendo perseguida pela PM, após bater em algumas casas que se recusaram a compartilhar o material. Veja o vídeo:
O boletim de ocorrência do caso, registrado no 49º Distrito Policial (São Mateus), não relata nenhuma perseguição. “Narram os policiais que, no local dos fatos, aparentava que a vítima condutora da motocicleta perdeu o controle e subiu na calçada e bateu contra duas barras de ferro e contra um poste”, diz o documento, feito a partir do relato do PM Jhonnes Hipolito, de 30 anos.
O documento diz que a equipe de Hipolito foi chamada pelo Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) para atender uma ocorrência de acidente de trânsito, mas que, quando chegaram no endereço, já havia equipes de socorro médico e uma outra viatura preservando a cena.
“A viatura não era a mesma da perseguição”, pontua Fabiana.
Ainda segundo o registro, a morte de Manuella foi atestada na hora, enquanto Albert foi levado a um centro médico mas chegou morto no Hospital Geral de São Mateus.
O que diz a Secretaria da Segurança Pública
A Secretaria Estadual da Segurança Pública, em nota, reafirmou as informações do boletim de ocorrência e não deu explicações para a cena captada no vídeo.
“A Polícia Militar foi acionada, por volta das 2h da madrugada desta segunda-feira (13), na rua Celso Betim, para atender uma ocorrência de acidente de motocicleta. Um homem de 18 anos, conduzia uma moto, quando se acidentou. Uma adolescente, de 13 anos, também se feriu, vindo a óbito no local. O jovem chegou a ser socorrido, mas também faleceu”, informa o texto.
“A perícia foi acionada e as circunstâncias do acidente estão sendo apuradas. O caso foi registrado como homicídio culposo na direção de veículo automotor no 49° Distrito Policial (São Mateus).”
“Qualquer denúncia, acerca da conduta de policiais, pode ser notificada à Corregedoria da instituição para as medidas cabíveis”, conclui a nota.