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PM matou ao menos 20 menores de idade entre janeiro e setembro em SP

Polícia Militar de SP matou ao menos 20 pessoas com menos de 18 anos entre janeiro e setembro deste ano, segundo dados da própria SSP

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1 de 1 Imagem mostra fotografia de adolescente - Metrópoles - Foto: Arquivo Pessoal

São Paulo — Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, foi baleado durante uma ação policial no Morro do São Bento, em Santos, nessa quarta-feira (6/11). Atingido provavelmente por uma bala da Polícia Militar, segundo a própria corporação, Ryan se junta às estatísticas: a PM matou ao menos 20 menores de idade entre janeiro e setembro deste ano. Entre eles, 14 eram pretos ou pardos. Os dados são da transparência da própria Secretaria da Segurança Pública (SSP) do estado de São Paulo.

O Metrópoles analisou os 474 registros disponíveis envolvendo PMs em serviço. No entanto, 115 não trazem a idade da pessoa morta em decorrência de intervenção policial (MDIP).

Em várias ocorrências, a história contada por testemunhas e familiares das vítimas contraria a versão apresentada pelos policiais. É o caso do menino Gicélio de Sousa Filho (foto em destaque), de 15 anos, morto na noite de 26 de junho, também no Morro do São Bento.

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Gicélio de Sousa Filho, de 15 anos, morto na noite de 26 de junho, em Santos
Objetos de Gicélio de Sousa Filho, de 15 anos, morto na noite de 26 de junho, em Santos
Objetos de Gicélio de Sousa Filho, de 15 anos, morto na noite de 26 de junho, em Santos
Caderno de Gicélio de Sousa Filho, de 15 anos, morto na noite de 26 de junho, em Santos
Mãe de Gicélio de Sousa Filho, de 15 anos, morto na noite de 26 de junho, em Santos
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Gicélio de Sousa Filho, de 15 anos, morto na noite de 26 de junho, em Santos

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Gicélio de Sousa Filho, de 15 anos, morto na noite de 26 de junho, em Santos

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Caderno de Gicélio de Sousa Filho, de 15 anos, morto na noite de 26 de junho, em Santos

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Álbum de Objetos de Gicélio de Sousa Filho, de 15 anos, morto na noite de 26 de junho, em Santos

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Camiseta com foto de Objetos de Gicélio de Sousa Filho, de 15 anos, morto na noite de 26 de junho, em Santos

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Gicélio de Sousa Filho, de 15 anos, morto na noite de 26 de junho, em Santos

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Local onde Gicélio de Sousa Filho, de 15 anos, foi morto na noite de 26 de junho, em Santos

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Viela no Morro do São Bento, em Santos

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Viela no Morro do São Bento, em Santos

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Escadão no Morro do São Bento, em Santos

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O garoto havia acabado de sair da aula, às 23h, na Escola Estadual João Octávio dos Santos, como mostra uma declaração assinada pela vice-diretora da unidade. Sonia Regina Gonçalves, mãe do Gicélio, afirma que, antes de chegar em casa, ele foi com amigos comprar refrigerante em um bar. Não terminou o dia. Foi baleado por PMs.

“Eu liguei para ele na escola e falei: ‘Filho, vem por baixo’, porque o morro já estava cheio. Ele respondeu: ‘Não, mãe, eu quero comprar um guaraná’. Eu tenho conta no bar que ele foi. Nisso que ele entrou, os caras já entraram atirando. Meu filho saindo com o guaraná nem deu tempo de vir para casa”, diz Sonia Regina ao Metrópoles.

“Eu ficava ligando para ele e ele não atendia. Foi quando falaram que estava cheio de polícia. Aí falaram que era meu filho, que ele já estava morto e tinha sido levado para a Santa Casa. Não deixaram eu entrar, me expulsaram”, acrescenta a mãe de Gicélio.

Além de Gicélio, uma pessoa morreu na ocorrência. Segundo a PM, teria havido uma troca de tiros. O tenente Patrick Calyuli Silva foi baleado e socorrido.

Página manchada de sangue

A mulher conta que, quatro meses depois, continua tentando preservar o quarto do filho, mantendo a cama arrumada, as roupas dele nas gavetas e o caderno que carregava quando foi baleado. Entre as páginas manchadas de sangue, é possível ver as anotações do garoto no colégio sobre a matéria de Língua Portuguesa.

Orgulhosa, Sonia Regina exibe o álbum de formatura do filho, que chegou há dois dias. “Ele era um menino estudioso, alegre. Ele estava sempre sorrindo”, diz a mãe. “Na vida, era só eu e ele. Ele era meu companheiro, meu amigo, meu irmão, meu pai. Ele era tudo para mim.”

Priscila Alonso Faria, irmã mais velha de Gicélio, decidiu voltar a morar com a mãe após a tragédia. “Não tem como deixarmos ela sozinha. Ela sente muita saudade”, diz.

Ela também critica o anúncio feito pela Polícia Militar de uma nova operação no Morro do São Bento, após a morte do menino Ryan.

“Agora foi uma criança de 4 anos. Daqui a pouco pode ser um senhor. O que eu quero é justiça. Quem sofre são as mães. Eles têm filho, não podem chegar assim oprimindo a gente”, afirma Priscila.

Dados da letalidade policial

Os dados mostram que entre os mortos pela polícia, 306 são negros ou pardos (68%) e 143, brancos. Outros 25 tiveram a cor da pele ignorada. Na população paulista em geral, 41% são negros ou pardos. Entre aqueles que tiveram a idade divulgada pela SSP, quase 60% têm até 29 anos de idade.

Outro dado aponta que, no estado como um todo, 67% das pessoas (320) foram mortas durante a noite ou na madrugada (das 18h às 5h59), embora o número de interações entre população em geral e a polícia nas ruas seja maior ao longo do dia.

A análise mostra que 8 das 31 mortes com endereços declarados em Santos ocorreram no Morro de São Bento (25% do total). Nenhum dos supostos confrontos com morte na principal cidade da Baixada Santista aconteceu na orla da praia.

O que diz a SSP

A SSP afirma que as forças policiais do estado trabalham para proteger a população e combater a criminalidade, prendendo e levando à Justiça aqueles que infringem a lei. “Desde o início do ano, mais de 151 mil criminosos, incluindo líderes de facções criminosas, foram presos, e 148,3 toneladas de drogas retiradas das ruas, gerando um prejuízo bilionário ao crime organizado”, diz, em nota.

A secretaria também ressalta que os confrontos “são consequência direta da reação violenta dos criminosos diante da presença policial”. Segundo a pasta, todos os casos dessa natureza são investigados pelas polícias Civil e Militar, com acompanhamento das corregedorias, do Ministério Público e do Poder Judiciário.

A secretaria diz, também, que as forças de segurança investem continuamente na aquisição de equipamentos não letais, além da capacitação e treinamento de seus policiais. “Durante sua formação, os agentes cursam disciplinas de Direitos Humanos, que abordam temas como o combate ao racismo, à violência de gênero e a outros crimes de intolerância, incluindo orientações sobre abordagem e atendimento a vítimas”, afirma.

A SSP diz que a PM paulista participa do grupo de trabalho “Movimento Antirracista – Segurança do Futuro”, coordenado pela Universidade Zumbi dos Palmares.

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