Diretriz do plano da fazenda contra febre maculosa é vaga, dizem infectologistas
Para especialistas, as medidas apresentadas à prefeitura de Campinas, região endêmica da doença, são “muito genéricas”
atualizado
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São Paulo – Infectologistas ouvidos pelo Metrópoles apontam contradições nas diretrizes do plano de contingência à febre maculosa apresentadas nessa sexta-feira (16/6) pela Fazenda Santa Margarida, local apontado pelo Secretaria de Saúde de Campinas como o foco do surto que atinge a cidade. Pelo menos quatro pessoas que estiveram no local no dia 27 morreram.
O plano exigido pela Prefeitura de Campinas foi uma condição para que a Fazenda Santa Margarida volte a abrigar shows e eventos. Segundo o estabelecimento, assim que o plano for aprovado, será divulgado na íntegra.
Entre as medidas propostas estão a construção de barreiras físicas, reforço na sinalização e uso de repelentes adequados.
Estão programadas, ainda, a contratação de empresas de engenharia ambiental e de controle de pragas; a cooperação constante com as autoridades de saúde locais e, por fim, a possibilidade de revisar e ajustar o plano emergencial de acordo com as necessidades.
A infectologista Rosana Ritchmann afirma que o documento divulgado pela fazenda explica as medidas apresentadas à prefeitura de maneira “muito genérica”.
Uma das contradições apontadas pela médica é a afirmação de que a fazenda fica localizada em uma região que “somente agora” teve alta incidência de febre maculosa.
“Fazenda Santa Margarida, conhecida por sediar eventos diversos, está localizada em uma região em que se constatou somente agora uma alta incidência de febre maculosa”, diz o texto.
A cidade de Campinas luta há quase 30 anos contra a doença. Nas últimas décadas, foram gastos cerca de R$ 20 milhões em ações de prevenção e controle.
“Eles estão numa área endêmica de febre maculosa, eles estão em Campinas. O próprio documento, ao cobrar ações da prefeitura, diz que Campinas é uma região endêmica. Ela se contradiz”, diz Rosana.
Para a infectologista, a principal medida citada no documento é a criação de barreiras físicas na fazenda para evitar a circulação de animais pelas áreas que recebem visitantes. “Isso seria para ontem.”
“O que há de mais importante nesse documento é dizer que vão colocar barreiras físicas. Eu imaginava que já tinha. Eles não vão conseguir acabar com carrapato, não existe isso. Mas no dia a dia você não pode deixar cavalo, boi, capivara, frequentar a fazenda. Tem que ter barreira o tempo todo”, afirma.
Tânia Chaves, infectologista consultora da Sociedade Brasileira de infectologia, destaca como ponto positivo do plano a contratação de empresas de Engenharia Ambiental e especialistas em controle de pragas.
“Nesse ponto, parece que foram buscar um bom assessoramento. Esse plano de ação precisa ser continuado”, arfima Tânia. A infectologista, no entanto, questionou a ausência de placas de sinalização sobre os riscos da doença.
“Eles não tinham placas informativas sobre a presença de carrapatos e o risco de febre maculosa? Isso seria algo básico. Campinas é endêmica para a doença”, diz.
Julio Croda, também consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma que as diretrizes do plano são vagas. Segundo ele, é preciso detalhá-las.
“No geral, é legal. Mas é muito vago. Não tem detalhamento. É importante que a fazenda demonstre essa iniciativa, de fazer esse monitoramento, controle, orientação. Mas é preciso detalhar cada item desse que foi apresentado”, afirma o infectologista. “Ficou faltando também estabelecer metas. Quais metas vão ser estipuladas para que a fazenda possa reabrir”, conclui.
Febre maculosa
A febre maculosa tem cura, mas o tratamento precisa ser iniciado precocemente com antibióticos adequados. O principal sintoma da doença é febre alta, que pode ser confundida com outras enfermidades.
“Por isso, é importante que o médico sempre pergunte, ou que o paciente relate que esteve em área de vegetação com presença de carrapato ou capivara. Com esse histórico, o tratamento deve ser iniciado imediatamente”, afirma Andrea von Zuben.
Os principais sintomas da febre maculosa são:
- Febre;
- Dor de cabeça intensa;
- Náuseas e vômitos;
- Diarreia e dor abdominal;
- Dor muscular constante;
- Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés;
- Gangrena nos dedos e orelhas;
- Paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões causando parada respiratória.
- Na evolução da doença, também é comum o aparecimento de manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos, que não coçam, mas podem aumentar em direção às palmas das mãos, braços ou solas dos pés.
Como é a transmissão?
A transmissão da doença ocorre em ambientes silvestres, nos quais exista o carrapato Amblyomma cajennense, popularmente conhecido como carrapato-estrela. Para que ocorra a transmissão, é necessário que o carrapato fique fixado na pele por um período de cerca de 4 horas.
Como se proteger:
Ao realizar trilhas e atividades de lazer ao ar livre, algumas precauções devem ser tomadas para evitar a febre maculosa:
- Evitar caminhar, sentar e deitar em gramados e em áreas de conhecida infestação de carrapatos;
- Em áreas silvestres, realizar vistorias no corpo em busca de carrapatos em intervalos de três horas para diminuir o risco de contrair a doença;
- Se forem verificados carrapatos no corpo, não esmagá-lo com as unhas, pois ele pode liberar as bactérias e infectar partes do corpo com lesões;
- Se encontrar o parasita, ele deve ser retirado de leve com torções e com auxílio de pinça, evitando contato com as unhas. Quanto mais rápido forem retirados, menor a chance de infecção;
- Utilizar barreiras físicas, como calças compridas, com a parte inferior por dentro das botas ou meias grossas;
- Utilização de roupas claras para facilitar a visualização e retirada dos carrapatos.