PL articula bolsonarista a favor da lei do aborto para comandar o CFM

São Paulo — O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) determinou que os prefeitos da legenda no Estado de São Paulo façam campanha com os médicos de suas prefeituras para eleger o cirurgião vascular Armando Lobato para o Conselho Federal de Medicina (CFM).

Lobato fez seis jantares de campanha para Bolsonaro e apoia o Projeto de Lei nº 1.904/24, que equipara um aborto ao crime de homicídio.

O presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, tem planos para assumir o controle do órgão, que fiscaliza e propõe normas para as práticas da Medicina no país, e disse que Bolsonaro chegou até a fazer lives na casa do médico em um dos eventos que organizou.

Em um encontro estadual do PL realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) nesta sábado (15/6), na zona sul da capital, Valdemar disse a prefeitos, candidatos a prefeitos, deputados estaduais e seus apoiadores, que lotaram um dos auditórios do prédio, que “a importância do Lobato no Conselho Federal de Medicina é que, quando ele for para lá, nós vamos por ele com nossa bancada de senadores, porque depois vai ter eleição nacional no CFM para a presidência”.

Valdemar orientou os prefeitos a chamarem seus secretários municipais de Saúde e pedir para que eles orientem os médicos das Prefeituras a votarem em Lobato. O marqueteiro do partido, Duda Lima, afirmou que a maioria dos médicos trabalha no setor público e que, por isso, uma articulação adequada levaria à vitória.

A bancada do PL no Senado tem 13 assentos. Valdemar vem fazendo uma série de articulações para trazer para seu partido outros seis senadores para a legenda, segundo ele disse no encontro, de forma que o partido seria o maior da Casa — o PL já é o maior da Câmara dos Deputados.

Punição por homicídio

Lobato já preside a Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular. Ao Metrópoles, ao defender o projeto de lei, o médico afirmou que havia falta de “conversação” sobre o tema, e daí as críticas.

“Acredito, ao meu ver, que isso é uma consequência de falta de informação ou de conversação entre o CFM e até com a imprensa e a população para explicar detalhadamente o porquê que foi feito essa medida pelo CFM referente à lei do aborto que é aprovada”, disse.

“Muito provavelmente, o que está acontecendo é que algumas pacientes que estão grávidas por mais de 22 semanas podem estar dizendo que foram causados por exemplo por estupro. Mas que, na realidade, pode não ter sido por estupro”, afirmou.

“E o que ocorre após 22 semanas? É que você não pode fazer o exame de corpo de delito e comprovar que houve o estupro. Então, o que acho é que há uma falta de conversação para explicar a situação. Estão sendo feitos abortos não em situação que a lei permite”, disse.

Lobato afirma ainda que fetos com esse período de gestação já têm órgãos, como os seres humanos, e que por isso o crime de homicídio seria adequado como punição.

“Após 22 semanas, na realidade, já é um ser humano. Já tem órgãos vitais, como coração batendo. Então isto, não podemos. Se você está fazendo isso deliberadamente, está cometendo assassinato”, afirmou.

Partidos de direita e igrejas evangélicas também adotam estratégias de indicação de pessoas com o mesmo viés ideológico para outros órgãos públicos, como os conselhos tutelares. Lobato vai disputar as eleições para o CFM na Chapa 1, a da situação.