Pensei em fazer um vídeo de despedida, diz paulista que estava em rave
Fernando Gottdank, 28 anos, deixou rave Universo Paralello, em Israel, enquanto terroristas começavam a disparar mísseis em direção ao local
atualizado
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São Paulo – O designer gráfico paulistano Fernando Gottdank, de 28 anos, que mora em Israel desde 2019, tenta retornar ao Brasil após escapar da festa rave que se tornou o principal alvo do grupo terrorista Hamas durante os ataques do último sábado (7/10). Pelo menos 260 pessoas foram encontradas mortas no evento, que ocorria em uma área rural na região do Kibbutz Reim, perto da Faixa de Gaza.
Fernando diz ao Metrópoles que tinha ido até o estacionamento do evento com um amigo por volta das 6h30 da manhã, quando avistou os primeiros mísseis sendo interceptados no céu.
“A gente estava aproveitando como uma rave normal. Quando deu umas 6h30, eu e um amigo saímos para tomar umas cervejas que tínhamos deixado no carro. Porque não podia entrar com bebida lá. A gente olhou para o céu, viu um foguete subindo e que foi interceptado. Na hora, pensei: ‘É sério isso? Começou?’. Quando a gente entendeu o que estava acontecendo, começou a procurar abrigo”, diz.
Fernando afirma que, em um primeiro momento, policiais que faziam a segurança da festa estavam sem saber o que fazer. Enquanto alguns diziam para evacuar o local rapidamente, outros minimizavam o risco e diziam que ia ficar tudo bem.
Segundo o designer, ele e seus amigos tentaram se esconder do lado de fora de um bunker, mas foram surpreendidos por trocas de tiros entre policiais e terroristas.
“Nós fomos até o primeiro bunker que apareceu no caminho. Era minúsculo, tinha uns 5 metros por 5 metros. Estava cheio. Então decidimos ficar encostados na parede do bunker, ao lado de um ponto de ônibus. Mas depois de um tempo a gente começou a escutar tiros, policiais atirando contra pessoas que estavam escondidas nas árvores (veja abaixo). Eram os terroristas. A gente decidiu pegar o carro e sair dali correndo”, diz Fernando.
Assista:
Ele afirma que o clima era de desespero entre as pessoas que tentavam deixar o local, e o fluxo de carros estava caótico.
“Bateu o desespero. Pensei até se eu deveria fazer um vídeo de despedida. Os caras me acalmaram, porque eu estava ali de copiloto do motorista. Aí consegui manter a calma e ajudar”, afirma.
Fernando e seus amigos seguiram por uma estrada de terra até chegar ao bunker de um posto de gasolina, onde ficaram escondidos por cerca de duas horas. Segundo ele, as pessoas que estavam no local tinham medo de que terroristas entrassem se passando por israelenses.
“A gente seguiu por uma estrada de terra até chegar em um posto de gasolina. Lá ficamos em um bunker dentro do posto. Tinha um oficial do Exército com uma metralhadora na frente. Pelas câmeras do lado de fora, a gente conseguia ver o que estava acontecendo lá fora. A gente estava muito apreensivo. Não sabia quem podia deixar entrar no bunker e quem não podia.”
“No fundo, a gente nunca quis acreditar”
Fernando afirma que, apesar de ter consciência do risco de atentados terroristas, a impressão era de que isso nunca iria acontecer. Ele diz que, a caminho do festival, até ironizou a possibilidade de ter que se esconder em um bunker.
“A gente sempre soube que tem o risco de isso acontecer, mas ninguém nunca levou tão a sério. Na nossa cabeça, era muito difícil de acontecer. Eu acho que a gente não queria acreditar. No caminho para a festa, a gente viu aquele bunker do lado do ponto de ônibus e até fez piada: ‘Aqui eles têm bunker até do lado do ponto de ônibus, não seria irônico se tivéssemos que usar?’. No final a gente acabou usando”, diz ele.
Volta para o Brasil
O designer gráfico diz que seu único objetivo no momento é rever sua família, em São Paulo. “No momento, estou só focado em sair daqui o mais rápido possível. Não sei como a situação vai escalar. Eu não quero estar aqui para descobrir. Estou tentando pegar uma passagem para a Europa e de lá para o Brasil. Preciso ver minha família. Eles estão sofrendo mais do que eu.”
Rave Universo Paralello
O Universo Paralello, festival de música eletrônica atacado no sábado (7/10) pelo grupo extremista islâmico Hamas em Israel, nasceu no Brasil e foi criado por Juarez Swarup Petrillo, pai do DJ Alok.
Juarez Petrillo, nome conhecido no meio da música eletrônica, criou o Universo Paralello em 2000. A festa começou em Goiás, e agora acontece na praia de Pratigi, em Ituberá, na Bahia. Em Israel, o evento foi organizado por um produtor iraselense, que licenciou os direitos de uso do nome da festa.