PCC se infiltrou em 13 cidades paulistas para fraudar licitações
Operação do MPSP prendeu funcionários públicos de 10 cidades, além de 3 vereadores, em nova investigação sobre ligação entre governos e PCC
atualizado
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São Paulo — O Primeiro Comando da Capital (PCC) se infiltrou em ao menos 13 cidades de São Paulo, incluindo Guarulhos, a segunda maior de São Paulo, para fraudar licitações e obter contratos públicos para desviar dinheiro de impostos e lavar dinheiro do tráfico de drogas, segundo as investigações do Ministério Público de São Paulo (MPSP) divulgadas nesta terça-feira (16/4), em meio à operação que prendeu três vereadores paulistas.
O envolvimento da facção criminosa ocorreu por meio da associação com empresários que já tinham expertise em fraudar licitações e contatos com agentes públicos que aceitavam propina para viabilizar os contratos.
“O PCC tem diversificado sua atuação e exerce suas atividades em diversos ramos, inclusive no setor público”, disse o promotor de Justiça Yuri Fisberg, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Guarulhos, um dos coordenadores da operação desta terça-feira.
“A influência do PCC dentro das prefeituras demonstra que a facção está influenciando bastante os rumos de contratações públicas”, afirmou o promotor, em entrevista coletiva sobre a operação — que, além dos vereadores, prendeu temporariamente (por cinco dias) 10 pessoas, entre empresários, advogados e agentes públicos.
Também foram cumpridos 42 mandados de busca e apreensão. A corporação ainda apreendeu R$ 600 mil em espécie, R$ 3,5 milhões em cheques, US$ 8,7 mil, quatro armas, munições, 22 celulares e 22 notebooks.
A quadrilha alvo da operação agia, segundo o promotor, nas seguintes cidades: Guarulhos, Ferraz de Vasconcelos, Mogi das Cruzes, Guararema, Poá, Santa Isabel e Arujá, na região metropolitana; Santos, Guarujá e Cubatão, na Baixada Santista; e Itatiba, Sorocaba e Buri, no interior do estado.
Tal expansão foi possível porque os empresários que faziam parte da facção formaram cartéis com outros empresários que não tinham ligação com o tráfico de drogas. Estes, no entanto, já agiam de forma criminosa anteriormente, fraudando licitações para vencer contratos e, depois, desviar dinheiro público por meio do superfaturamento ou outras práticas — ou seja, já tinham expertise no esquema.
Empresas ligadas ao PCC
Uma das empresas que teria ligação direta com o PCC é a CJM Comercial e Utilidades, que tem, entre os sócios, um homem chamado Márcio Zeca da Silva. Segundo o MPSP, Márcio Zeca já foi condenado por tráfico de drogas, após ter sido flagrado com 200 porções cocaína no fundo falso de um Mercedes-Benz em Diadema, na Grande São Paulo. Ele seria membro da facção.
Os promotores, contudo, ainda apuram se os agentes públicos suspeitos de favorecer o acesso dessas empresas aos contratos públicos sabiam que, ao negociar o recebimento de propina, estavam lidando com pessoas ligadas ao tráfico de drogas e ao PCC ou se imaginavam que lidavam apenas com empresários corruptos.
“Hoje em dia, pensar nessa facção criminosa como atrelada unicamente ao tráfico de drogas, ao crime de roubo e a esses crimes violentos não mais corresponde à verdade”, disse o promotor Frederico Silvério, outro membro do Gaeco que participou da operação.
O promotor citou outra operação do MPSP, ocorrida na semana passada, que não teve relação com o caso desta terça, para exemplificar sua fala: a operação que apontou ligação entre o PCC e duas empresas de ônibus da capital.
“Essas operações deixam muito claro que há uma sofisticação nas atividades dessa organização criminosa, que demanda de nossa parte, também, uma articulação maior de transmissão de informações, de atuação conjunta”, disse. “Acho que somente assim a gente vai conseguir, de fato, combater essa organização.”